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O ‘bruxo digital’ escalado para tentar reeleger Donald Trump

Brad Parscale é o guru que fez do Facebook e da seleção de público um dos motores da vitória de 2016

Jan Martínez Ahrens
Brad Parscale em novembro de 2016, quando era diretor digital da campanha de Trump.
Brad Parscale em novembro de 2016, quando era diretor digital da campanha de Trump.Carolyn Kaster (AP)
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Donald Trump olha continuamente para 2020. Cada passo que dá, embora ranja, tem como objetivo repetir o mandato. O último foi a nomeação do iconoclasta e talentoso Brad Parscale, de 42 anos, como chefe da sua campanha à reeleição. A decisão é um divisor de águas: longe dos habituais homens de partido ou especialistas em arrecadação, o presidente dos EUA aposta no bruxo digital que fez do Facebook, da geolocalização e da seleção de público um dos motores da surpreendente vitória de Trump em 2016. “Ele fala às pessoas no Twitter, mas ganhou no Facebook”, sentenciou Parscale.

Foi a revelação digital das eleições de 2016. Antes da campanha, esse economista de barba longa com sotaque texano nunca tinha se envolvido com política e se limitava ao projeto e ao desenvolvimento dos sites das empresas de Trump. Mas quando o bilionário começou a examinar suas possibilidades eleitorais, Parscale, apoiado pelo genríssimo Jared Kushner, entrou na sancta sanctorum familiar e criou o site de sua candidatura. A partir daí, não parou de subir. Enquanto Trump ia devorando seus chefes de campanha e queimando seus colaboradores mais próximos, ele conseguiu obter a diretoria digital e, sem perder o equilíbrio emocional, ampliou seu perímetro de ação.

Quem tratou com ele durante aqueles dias de fúria, o recorda como um homem tranquilo e completamente dedicado a uma estratégia em que Trump, forjado na escola do comício e da televisão, não acreditava. O objetivo principal de Parscale, como ele mesmo explicou em uma entrevista à CBS, era maximizar os escassos recursos eleitorais. Para esse fim, retomou ideias já utilizadas no mundo comercial, deixou de lado as caras campanhas de televisão e usou o Facebook para atingir grupos específicos da população.

“Se falava sobre pontes, com o Facebook era capaz de alcançar os 1.500 interessados em infraestrutura de uma localidade e fazer-lhes chegar minha mensagem com muito mais precisão do que qualquer anúncio de televisão”, explicou Parscale.

Nessa tentativa de sintonizar com o eleitor, a equipe de Trump não parou de refinar suas mensagens, com contínuas mudanças no formato e no texto, até chegar a uma média de 50.000 mensagens por dia (com picos de 100.000). O esforço também contou com a polêmica participação do Facebook. A empresa enviou-lhe funcionários que ensinaram a tirar o máximo proveito da ferramenta. “Eram infiltrados que deviam apoiar Trump e dos quais eu esperava que explicassem mais coisas do que para Hillary Clinton”, comentou.

Um dos grandes golpes de Parscale foi ter alertado, na parte final da campanha, que estados como Virgínia e Ohio não mudariam seu voto e redirecionar os recursos para Michigan e Wisconsin, onde as possibilidades de vitória eram maiores. Essa decisão não só implicou um aumento da propaganda eleitoral nos estados mencionados como levou o próprio Trump a combater ali pessoalmente. “Peguei até o último centavo e investi em mensagens nesses estados”, disse o estrategista.

O resultado foi que o republicano, apesar de obter 2,8 milhões de votos menos do que Clinton no cômputo nacional, ganhou as eleições pelos 77.000 votos de diferença recebidos em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Essa vitória o transformou no gênio eleitoral do momento e validou sua promoção a chefe de campanha para 2020. Uma tarefa para a qual tem o apoio total do clã Trump.

Um homem da família

O texano Brad Parscale é um homem da família. Vindo das entranhas da empresa, os Trump apostam nele e o consideram como sua criação. “Brad é um talento incrível e foi decisivo na nossa vitória de 2016. Ele tem a total confiança da nossa família”, afirmou Eric Trump em um comunicado. “Ele foi essencial para nos dar disciplina tecnológica e dados precisos”, acrescentou Jared Kushner.

Esse apoio, visto em negativo, evidencia o escasso peso que os republicanos têm para o presidente na hora de projetar sua campanha. Um desapego que confirma que Trump, mesmo na Casa Branca, confia mais em seu clã do que nas estruturas tradicionais de seu partido.

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