As vítimas brasileiras da radical política migratória de Trump
Mulher ficou 17 dias sem falar com três filhos. Consulados do Brasil nos EUA intensificam rastreio enquanto Governo Temer evita críticas diretas às vésperas de Mike Pence chegar a Brasília
A política de tolerância zero contra imigrantes ilegais do Governo Donald Trump começa a atingir famílias brasileiras. Por 17 dias, a brasileira Jaene Silva de Miranda, detida no Estado do Arizona por ter entrado nos Estados Unidos sem documentos, foi impedida de falar com seus três filhos, de 8, 10 e 16 anos. Não sabia nem o paradeiro deles. Só conseguiu ter notícias de seus familiares depois que uma cônsul-honorária do Brasil na cidade de Phoenix a encontrou no centro de detenção na cidade de Eloy. Os três filhos estão em um albergue.
Nos últimos dias, os consulados do Brasil em Los Angeles (Califórnia) e Houston (Texas) passaram a intensificar a busca por cidadãos que teriam sido separados de seus filhos por terem sido flagrados em solo norte-americano sem documentos que o autorizassem a estar lá. Por fazerem fronteira com o México, os dois Estados são os que mais recebem imigrantes ilegais. Ainda não há dados oficiais sobre a quantidade de brasileiros nesta situação nem sobre quantos acabaram presos em centros de detenção. Estimativas extraoficiais preveem que cerca de 11.000 pessoas já teriam sido detidas, entre os brasileiros, os números não passam de duas dezenas.
Saia justa com a visita de Mike Pence
A expectativa é que, nos próximos dias, o esforço concentrado dos dois consulados resulte em um levantamento preciso sobre os brasileiros vítimas da política radical de Trump. O caso de Jaene Miranda foi divulgado inicialmente pelo jornal Los Angeles Times e confirmado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Por enquanto, o Governo Michel Temer está estudando formas de atuação para que se tornem precisos os números de brasileiros atingidos pela medida.
Oficialmente, o trabalho dos consulados seria o de se certificar que o brasileiro detido está sendo mantido em situação de dignidade nas prisões, se está com saúde e recebendo alimento, além de consultar se tem acesso a assistência jurídica, quando necessário.
Neste momento, a saia justa para o governo brasileiro se manifestar de maneira mais enfática ocorre porque o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, está prestes a fazer uma visita oficial ao Brasil. Esse encontro já foi adiado uma vez neste ano, mas deve ocorrer nos dias 26 e 27 de junho. Entre as pautas do encontro estão a crise dos refugiados venezuelanos, a criação de um fórum regional de segurança e a retomada das negociações do acordo para o uso da base de lançamentos de Alcântara (no Maranhão). Em princípio, o tema das vítimas anti-imigração dos Estados Unidos não será debatido.
Chuva de críticas contra Trump e pressão no Legislativo
Enquanto isso, a reação contra Trump nos EUA também cresce. "O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al-Hussein, qualificou de “abuso infantil” a medida da Casa Branca: “A ideia de que qualquer Estado tente dissuadir os pais infringindo abuso às crianças é inadmissível”.
Mas Trump negocia com reféns. Como tem feito com os dreamers ("sonhadores", os imigrantes ilegais que chegaram aos EUA ainda criança), ele utiliza a separação dos pais e de seus filhos como um meio de pressão contra os democratas _e republicanos_ para forçá-los a votar uma nova legislação de imigração que, além de mais restritiva, inclua fundos para o muro com o México.
A expectativa do ocupante da Casa Branca é que a polêmica em torno da linha dura contra os imigrantes se reverta em popularidade, como já aconteceu na corrida presidencial. A questão é que, neste caso, ele está tocando em um ponto muito sensível. A entrada em cena da ex-primeira dama republicana Laura Bush é um termômetro disso e pode fazer muitos membros do partido se voltarem contra Trump pensando nas eleições legislativas de novembro. A mulher de George W. Bush publicou no domingo no The Washington Post um artigo muito duro contra a política de Trump. "Eu moro em um estado limítrofe [Texas]. Eu valorizo a necessidade de proteger e fazer cumprir a lei em nossas fronteiras internacionais, mas essa tolerância zero é cruel. É imoral. E isso parte meu coração", escreveu ela. Foi apoiada por Michelle Obama nas redes sociais.
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