Julén Lopetegui, novo técnico do Real Madrid, é demitido da seleção espanhola; Fernando Hierro assume o posto
A dois dias da estreia na Copa do Mundo da Rússia, presidente da federação destitui o treinador
A RFEF (Federação Espanhola de Futebol) demitiu o técnico da seleção, Julen Lopetegui, na manhã desta quarta-feira, a dois dias da estreia da Espanha na Copa do Mundo Rússia 2018, contra Portugal. A decisão, anunciada em Krasnodar, foi tomada pelo presidente da federação, Luis Rubiales, contrariando a posição dos jogadores do Real Madrid na seleção, que defenderam a continuidade de Lopetegui durante a Copa. A crise havia começado na tarde anterior, quando o Real Madrid anunciou, para surpresa geral, que Lopetegui será o substituto de Zinedine Zidane à frente da equipe.
“Somos obrigados a prescindir do selecionador nacional”, anunciou Rubiales em uma entrevista coletiva realizada no estádio desta cidade do Cáucaso norte. “A seleção é a equipe de todos os espanhóis, e há decisões que somos obrigados a tomar em função de uma maneira de agir. Estamos numa circunstância inesperada, com uma negociação [entre o Real Madrid e o treinador] da qual a federação nunca foi informada. É preciso haver uma mensagem clara. Há uma maneira de agir que devemos cumprir. Fomos obrigados a tomar uma decisão.”
Fernando Hierro, até agora o diretor esportivo da Federação Espanhola, assumirá o cargo de treinador da seleção espanhola durante a Copa do Mundo. Como técnico, Hierro conta com apenas um ano de experiência. Na temporada 2016-2017 da Liga Espanhola, foi o treinador do Oviedo, que está na segunda divisão. Antes disso, em 2014-2015, foi ajudante do técnico Carlo Ancelotti no Real Madrid. A escolha foi divulgada apenas uma hora depois da coletiva de imprensa de Rubiales, que chegou a dizer: “Vamos mexer o mínimo possível”. Também acrescentou: “Esta é a situação mais complexa que eu poderia encontrar. Os jogadores farão tudo o que estiver ao seu alcance para ganhar a Copa. Mas a situação é dificílima. É muito complicada. Esta [a demissão de Lopetegui] não é a melhor das soluções, mas na vida não há como se esquivar das responsabilidades”.
Rubiales contou aos seus colaboradores que na terça-feira à tarde (hora local), estando em Moscou, recebeu um telefonema de Florentino Pérez, o presidente do Real, para lhe anunciar que divulgaria no site do clube a contratação de Lopetegui. Rubiales lhe pediu que adiasse o anúncio, pois isso dinamitaria a preparação da equipe no torneio mais importante que existe. O site do Real publicou a contratação três minutos depois. “Quando tentei impedi-lo, fiquei sabendo que já estavam contando aos jogadores”, disse Rubiales. O dirigente telefonou para a concentração em Krasnodar no momento em que o treinador estava reunido com o elenco para informar sua incorporação ao clube de Madri. “Aqui ninguém pode estar fora das regras da equipe; não estamos aqui para preservar as aparências, e sim para defender os valores da seleção”, fulminou Rubiales.
Lopetegui se alarmou, depois do almoço da terça-feira na concentração de Krasnodar, quando soube que a notícia já circulava entre o elenco. Sabiam dela não só os jogadores do Real Madrid convocados (Ramos, Lucas Vázquez, Carvajal, Vallejo, Nacho, Isco e Asensio). O rumor havia rompido o círculo, e o escândalo já ameaçava respingar na convivência do grupo. Às 17h45 (horário local), em uma tentativa de frear a ira dos jogadores não madridistas, e temendo passar a impressão de que o líder da expedição estava abandonando o barco, Lopetegui convocou uma reunião com o elenco. Lá, confirmou que havia sido contratado pelo Real Madrid. A indignação e a perplexidade se misturaram entre a maioria. Sergio Ramos, capitão da seleção, foi o mais ativo protetor da posição do técnico. O receio era evidente entre os atletas que não pertencem ao Real, ou que estão fora da órbita mercantil da equipe.
“O Real Madrid procura um treinador, e é lícito que procure o melhor para seus interesses”, ponderou o presidente. “Deus me livre de opinar sobre a forma de agir do Real. Mas a federação tem uma obrigação, o treinador da seleção é funcionário da federação, e quem o levou para as negociações se equivocou. Porque tenho certeza de que, se tivesse dependido dele, as coisas não teriam sido feitas desse jeito.”
Até esta terça-feira, a Espanha era, junto com a Alemanha e o Brasil, a principal favorita a conquistar a Copa. Rubiales considera que uma equipe só é viável como unidade competitiva se um técnico suspeito de deslealdade for demitido. “Não se podem fazer as coisas de forma que eu fique sabendo cinco minutos antes! A RFEF [federação espanhola] não pode permanecer à margem da negociação de um de seus responsáveis com outra entidade, e nos inteirarmos cinco minutos antes. Vimo-nos obrigados a agir porque o que ocorria não se pode passar por cima. Isto pode parecer um momento de debilidade, mas estamos defendendo nossos valores, e com o tempo nos tornará mais fortes.”
Após o anúncio do Real, Rubiales correu ao aeroporto de Moscou para pegar o primeiro voo rumo a Krasnodar. Dizem seus auxiliares que estava furioso, e convencido de que devia demitir o técnico, sob pena de ficar desautorizado. Durante toda a madrugada e manhã desta quarta-feira, o presidente da federação manteve reuniões com dirigentes e jogadores veteranos para tomar uma decisão. A maioria lhe sugeriu que o mais conveniente para proteger a saúde da equipe era descartar Lopetegui.
Apenas Ramos, à frente do grupo dos madridistas, pretendeu manter Lopetegui no cargo. O resto convenceu Rubiales de que sua autoridade e sua dignidade como presidente não podiam ser comprometidas para proteger os interesses da minoria representada por Ramos.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.