Túlio Gadelha: “Tem que ter formação sólida para não se deformar, não tirar o pé do chão”
Aos 30 anos, pernambucano que ganhou projeção nacional por seu relacionamento com Fátima Bernardes, fala ao EL PAÍS sobre eleições, machismo e sua possível candidatura
Túlio Gadelha, 30, é um dos fundadores do recém-lançado movimento Nós Acreditamos, que “discute a transição da democracia representativa para a democracia participativa”, segundo define. O movimento vem na esteira de outros, tanto à esquerda como à direita, que se classificam como apartidários e querem discutir novas formas de se fazer política. Graduado em Direito, é professor de geografia política e atualidades em um cursinho social vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e vice-presidente da Fundação Alberto Pasqualini, de estudos sociais e econômicos do PDT, partido ao qual é filiado desde 2007. Foi candidato a vereador em 2012 e a deputado federal em 2014. Apesar do currículo, ele sabe que seu nome ganhou projeção nacional somente depois que começou a namorar a apresentadora global Fátima Bernardes. “Eu tenho essa compreensão”, diz, com fala mansa.
Gadelha foi o primeiro relacionamento assumido da apresentadora após o fim de um casamento de 26 anos. Não bastasse, ele é de esquerda, defende a "democratização dos meios", enquanto ela é um dos principais rostos da maior emissora do Brasil, a Globo. Enquanto ele estava ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo horas antes de o ex-presidente ser preso, ela apresentava seu programa na emissora tachada de golpista pelos petistas. Além disso, ele é 25 anos mais novo que a namorada. Um prato cheio para suscitar preconceitos em uma sociedade machista. Mas nada disso abala o casal, ele garante. “O machismo está também nas pessoas não acreditarem em uma relação entre um homem mais novo e uma mulher mais velha”, diz. “O contrário acontece no Brasil com naturalidade: homens mais velhos têm namoradas mais novas e tudo bem", disse, em um banco de um parque público na zona norte do Recife, local escolhido por ele para conceder esta entrevista.
Nascido e crescido na capital pernambucana - exceto pelos primeiros anos da infância, que passou no interior, em Bezerros - Túlio Gadelha é filho de funcionários públicos aposentados. Estudou a vida toda em colégios particulares, viveu e ainda vive em bairros de classe média alta da cidade e se interessou por política militando em movimento estudantil. “A principal escola de formação política de base é o movimento estudantil”, diz. A trajetória que tenta construir, portanto, vai por um caminho diferente de muitos políticos da sua faixa etária que têm no sobrenome e na história familiar seus maiores aliados. Uma característica comum em todo Brasil, inclusive no Nordeste.
Se for candidato a deputado federal novamente, algo que ele ainda não confirma – “dentro do movimento nós discutimos diversos nomes e ainda não decidimos quais serão os candidatos" –, poderá enfrentar nomes como João Campos, 24, filho do ex-governador de Pernambuco que concorreu à presidência em 2014, Eduardo Campos. O herdeiro deve ser candidato a deputado federal pelo Estado. “Que história tem João Campos?” pergunta Gadelha, ao ser questionado sobre como quebrar a lógica familiar dentro da política. “A gente não quer constituir líderes. A gente quer ter representantes. Tem muito filho de prefeito, de deputado, de senador que vai disputar esta eleição. Eles se colocam como lideranças. Mas o momento não é de ter lideranças, mas de ter representantes. Quem me representa de fato?”.
"Falta democracia interna nos partidos políticos hoje"
Marília Arraes (PT), 34, neta de Miguel Arraes e prima de Eduardo Campos, também pode minar diversas candidaturas menores se disputar o cargo de deputada federal. Atualmente, ela é pré-candidata a governadora. Mas seus planos podem ser redimensionados caso o PT faça uma aliança com o PSB, o que levaria o partido de Lula a apoiar a reeleição do governador Paulo Câmara (PSB), ao invés de ter candidato próprio. Se isso ocorrer, Marília pode tentar a vaga de deputada federal. Seria mais um nome de família para compor o cenário no Estado.
As cartas, porém, ainda estão muito embaralhadas. O partido de Gadelha, o PDT, também está flertando com o PSB em Pernambuco. “Mas temos muitas diferenças com o PSB, por conta da postura deles com relação à votação do impeachment”, pontua. Em 2016, o PSB apoiou publicamente o impeachment de Dilma Rousseff. “Eles foram coniventes com aquela situação e hoje a gente vive um momento crítico no país por conta do afastamento da presidente Dilma. E isso foi muito ruim para essa unidade dos partidos de esquerda aqui em Pernambuco”, diz. Apesar disso, Gadelha afirma que as diferenças foram deixadas “de lado no intuito de um projeto nacional” e que há uma busca por essa aliança PDT-PSB.
Ele reclama da maneira como essas aproximações são construídas, somente pelas cúpulas dos partidos, sem a participação das bases. “Eu mesmo não participei de nenhuma reunião do meu partido que pudesse discutir a questão da aliança política”, afirma. “Até os dirigentes partidários não são ouvidos. Falta democracia interna nos partidos políticos hoje”.
Ciro e Haddad no WhatsApp
A falta de atenção dada pela cúpula do partido não o impede de opinar sobre suas preferências. “Eu participo há mais de um ano de um grupo no WhatsApp que chama Ciro e Haddad”, conta ele. O grupo, conta, é formado por pessoas que defendem essa coligação, mas os dois nomes principais não fazem parte. “A gente trabalha por fora do sistema”, diz, rindo. Gadelha acredita que a união fortaleceria a candidatura de Ciro Gomes à presidência. "Mas também acho que seria importante ter uma mulher como vice”, diz, sem saber quem seria essa mulher. “Poderia ter uma mulher do PSB. O PDT discute essa possibilidade”, revela. Por enquanto, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), tem sido cotado para compor a chapa de Ciro Gomes.
Em agosto do ano passado, o pré-candidato do PDT disse em entrevista a este jornal, que uma chapa com o ex-prefeito petista Fernando Haddad seria o “dream team”. "Ele representa o que há de melhor no PT e não carrega o estigma que é, em parte, injusto", afirmou Ciro Gomes, na época. Porém, o PT, até o momento, resiste a falar em qualquer outra candidatura que não seja a de Lula, ainda que circule que, da cadeia, o ex-presidente tem orientado seus partidários a não atacar o cearense.
“O machismo está também nas pessoas não acreditarem em uma relação entre um homem mais novo e uma mulher mais velha”
Embora não tenha lançado ainda sua candidatura a deputado, Túlio Gadelha tem tido uma agenda intensa - tanto pública como privada, esta última ao lado de Fátima Bernardes e amplamente coberta nas redes sociais do casal e pelos sites que seguem celebridades. É rosto garantido em atos políticos de diferentes partidos de esquerda – como no ato de defesa da candidatura de Marília Arraes, no mês passado no Recife – e tem viajado pelo interior do Estado. Com ele, está sempre ao menos uma pessoa para assessorá-lo. “Não são assessores, são amigos”, corrigiu, no início desta entrevista, quando a reportagem se referiu aos dois que o acompanhavam, um tirando fotos e outra, que agendou a entrevista, fazendo anotações. "Todos trabalham voluntariamente".
Não é raro que haja uma pequena fila para tirar fotos onde o rapaz está. “No começo [do namoro, assumido publicamente no final do ano passado] foi estranho, você perde a sua privacidade”, diz. “Uma vez na sala de casa, onde tem uma janela grande toda de vidro, acordei e fui tomar um café como sempre faço. Quando vi na janela tinha gente olhando para mim, do outro lado, no outro prédio”, conta. “Aí saí, mas quando voltei a pessoa pegou um celular e ficou filmando eu tomando café. Eu tive que fechar a janela. Às vezes você está no shopping e tem alguém filmando...", lembra. "No começo assusta um pouco, mas você tem que compreender o poder da grande mídia, das redes sociais e também ter uma formação muito sólida para não se deformar, não tirar o pé do chão”.
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