Dólar perto de 4 reais expõe mercado atônito e eleva especulações sobre teto da moeda
Bolsa tem queda pelo terceiro dia seguido e obriga presidente do Banco Central a anunciar operações para conter a alta
“Who is Bolsonaro?”, perguntou, por telefone, um investidor estrangeiro a um analista de mercado do Brasil no início desta semana. O investidor queria entender quem seria o tal sujeito que apareceu em primeiro lugar na pesquisa eleitoral divulgada nesta semana pelo portal Poder360, que colocava o candidato do PSL em vantagem consolidada à frente dos concorrentes. O esforço para convencer o mercado de que Jair Bolsonaro é amigável a reformas e à dinâmica dos investidores não adiantou. A descrição de que o pretendente a assumir o Palácio do Planalto a partir de 2019 é um ex-militar conservador que mudou de ideias estatizantes para liberais à medida que seu nome era aceito nas pesquisas não convenceu o estrangeiro. Seria esta uma das razões que fez o mercado seguir volátil nesta semana, e a dólar comercial fechar a 3,92 nesta quinta, enquanto a Bolsa de Valores caiu 2,98%. Nas casas de câmbio, porém, o dólar turismo já estava acima de 4 reais, para frustração de quem vai viajar nos próximos dias.
A moeda comercial chegou a ultrapassar os 3,96 reais durante o dia, o que aumentou as apostas de que ela quebrará rapidamente a barreira dos 4 reais. Os mais preocupados já faziam projeções para o dólar acima de 5 reais antes mesmo de ela virar realidade. A projeção pessimista circulou como rastilho de pólvora queimando no WhatsApp das corretoras. A alta da moeda a um patamar inédito era o teor da palestra de Rogério Xavier, da SPX Capital, para investidores do BTG Pactual. Xavier goza de prestígio e respeito entre seus pares. E ele cravou que o dólar subiria para o nível de 4,90 a 5,30, segundo reproduziu o portal do Brazil Journal. “A situação é caótica”, disse Xavier, que projeta um crescimento de apenas 0,8% da economia em 2018, segundo o texto que circulou por corretoras.
Um total banho de água fria sobre as esperanças de que a economia estaria tomando fôlego. O clima acabou alimentando especulações. Dentre elas, de que o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, estaria para entregar o cargo, e que os juros seriam elevados na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para conter a alta do dólar. Goldfajn acabou marcando uma coletiva de imprensa de última hora na tarde de quinta para tranquilizar o mercado atônito. Ele fica, e o juro não será usado para controlar a moeda, garantiu.
O descontrole dos agentes financeiros vem num crescente desde a prisão do ex-presidente Lula. Acreditava-se numa espécie de catarse coletiva depois da detenção do petista, com o fortalecimento de um candidato mais de centro, comprometido com as reformas econômicas (previdência e tributária, além da manutenção do teto de gastos). Mas os votos de Lula não foram para um presidenciável mais alinhado com as ideias do mercado, o que frustrou corações e mentes dos investidores. Desde então, outros fatos mostraram que as expectativas do mercado seriam frustradas. A paralisia do Congresso com as reformas foi uma delas, bem como a greve dos caminhoneiros, um ponto completamente fora da curva para os investidores.
A ascensão de Bolsonaro, por outro lado, seria o efeito colateral da falta de prestígio do atual Governo, e principalmente da atual receita econômica. Não por acaso, o presidente Michel Temer não conseguiu validar sua candidatura à reeleição, nem seu ministro da Fazenda Henrique Meirelles conseguiu capitalizar o vazio eleitoral. Caberia a Meirelles a defesa do legado da gestão Temer, mas ele amarga pontuação mínima nas pesquisas, entre candidatos nanicos.Assim, a esperança de que o tucano Geraldo Alckmin decole nesta eleição, este sim alinhado com as ideias liberais do mercado, ainda é miragem, e assim a sensação de que as sonhadas reformas que a economia precisa não vão acontecer, nem no curto nem no médio prazo, apavora os donos do dinheiro.
Os rumos da eleição, no entanto, não seriam a única razão para derrubar a bolsa e elevar a moeda americana. A economia aquecida nos Estados Unidos e a certeza da trajetória de alta dos juros por lá seriam razões suficientes para virar os olhos ao outro lado do continente americano. “Investidores estão zerando posições aqui, tirando dinheiro de emergentes”, observa Pablo Spyer, diretor operacional da corretora Miray Asset. Os recursos teriam, então, como destino certo o mais seguro dos investimentos, o tesouro americano, enquanto o Brasil nada em volatilidade pré-eleitoral.
Para Laurent Jadoul, sócio da Investport, a alta do dólar nesta quinta e a queda da bolsa destoam da economia real. “Não vemos fundamento para cair tudo isso”, explica ele, que também viu gestoras zerarem posições no mercado [venda de papeis] nesta quinta. Jadoul lembra que toda véspera de eleição é marcada por oscilações financeiras. Mas que desta vez, o mercado externo está menos favorável que em 2014, o que dá pouca margem de manobra para enfrentar solavancos como os que o Governo Temer têm enfrentado. Por ora, os olhos se voltam para o presidente do BC. Será ele bem sucedido na estratégia de esfriar os ânimos? “Usaremos os instrumentos necessários para o mercado”, disse ele, avisando que dispõe de 20 bilhões de dólares de imediato para controlar as oscilações do câmbio por meio de leilões da moeda (os chamados swaps financeiros). A estratégia pode funcionar, desde que um novo imponderável não corroa novamente as esperanças dos ansiosos investidores.
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