A ameaça externa que ronda as economias de Argentina e Brasil
Banco Mundial corta quase pela metade perspectiva para crescimento argentino. No caso brasileiro, previsão é expansão de 2,4%.
O Banco Mundial deu más notícias à Argentina, mas segue otimista em relação à economia brasileira, que nas previsões da instituição deve crescer 2,4% neste ano, segundo relatório divulgado nesta terça-feira. No caso do país vizinho, a depreciação de 22% do peso em relação ao dólar em maio, juntamente com a pior seca em 40 anos, significarão uma redução nas previsões de crescimento para 2018. No relatório, a entidade reduziu o aumento do PIB argentino deste ano para 1,7%, 1,3 pontos a menos que o número previsto em janeiro.
Embora o banco nem tenha citado a longa e impactante greve dos caminhoneiros no Brasil, nem todas são boas notícias para o país. A crise cambial em Buenos Aires também pode respingar na economia brasileira. O Banco Mundial advertiu que ela terá efeitos negativos em toda a América do Sul, que deve crescer 1,3% em 2018 e 2,1% em 2019. O banco prevê também uma desaceleração do crescimento global, de 3,1% em 2018 para 3% em 2019, diante dos crescentes riscos de tensões financeiras, da escalada do protecionismo comercial e do aumento das taxas de juros nos EUA. "A possibilidade de tensões no mercado financeiro, a escalada de protecionismo comercial e as reforçadas tensões políticas continuam obscurecendo o panorama", aponta o estudo. O novo cenário pode deixar os mercados emergentes, como o Brasil, mais vulneráveis. "Os responsáveis por elaborar políticas nos mercados emergentes e as economias em desenvolvimento devem estar preparados para fazer frente a possíveis episódios de volatilidade nos mercados financeiros à medida que se intensifica a normalização das políticas monetárias das economias avançadas", disse Ayhan Kose, diretor das Perspectivas de Desenvolvimento do Banco Mundial, citado pela EFE.
Essa instabilidade global fez o dólar disparar ante o real e várias outras moedas diante de ameaças comerciais dos EUA e a possibilidade de uma alta adicional dos juros da maior economia do mundo nas últimas semanas. O movimento atrai capital para o país antes alocado em mercados considerados mais arriscados, como o Brasil.
Nesta terça-feira, a moeda norte-americana chegou a ser cotada a 3,81 reais, o maior patamar em mais de dois anos. Além do panorama internacional, no cenário doméstico, os investidores ainda continuam cautelosos com os desdobramentos da greve dos caminhoneiros, que afetou o abastecimento do país nas últimas semanas e observam o vai e vem de notícias sobre o futuro da Petrobras. O Governo trabalha para mudar a periodicidade dos reajustes de preços de gasolina sem mudar a política de preços da estatal. Começa a reverberar também no mercado os cenários para a eleição presidencial de outubro. Os investidores se mostram apreensivos ante um mau desempenho dos candidatos que defendem abertamente reformas de cunho liberal. O próprio Banco Mundial também cita a "intensificação da incerteza das políticas" como um fator que ameaça a estabilidade e o humor dos investidores, mencionando que, além dos brasileiros, os mexicanos também vão às urnas neste ano.
Crise argentina
A importância das novas previsões do Banco Mundial para a Argentina é que são as primeiras a medir as consequências da crise de maio. O peso desabou 22% naquele mês e o Banco Central teve de elevar as taxas de juros até 40% para neutralizar, tanto quanto possível, a fuga dos investidores ao dólar, que subiu de 20 para 25 pesos em poucos dias. Em meio à tempestade, o presidente Mauricio Macri anunciou negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um resgate financeiro, o primeiro desde 2003. Qualquer acordo implicará em medidas para reduzir o déficit fiscal, um problema que obrigou o Governo a contrair empréstimos no exterior num valor de cerca de 50 bilhões de dólares (cerca de 190 bilhões de reais) entre 2016 e 2017.
O mercado argentino vive agora certa calma, à espera do que vai acontecer na sede do Fundo em Washington, mas o clima é de incerteza. Para trazer tranquilidade aos investidores, Macri reduziu a meta de déficit fiscal deste ano de 3,2% para 2,7%, decisão que significará um maior ajuste e, portanto, menos crescimento. “Na Argentina se espera uma desaceleração do crescimento em 2018, como consequência do ajuste monetário e fiscal, juntamente com os efeitos da seca no setor agrícola. Isso vai neutralizar o forte impulso do início do ano”, diz o relatório do Banco Mundial. A seca foi um golpe inesperado contra o agronegócio, principal fonte de divisas da Argentina.
Segundo dados da Bolsa de Comércio de Rosario, o maior porto de exportação agrícola do país, a safra de soja deste ano cairá para 40 milhões de toneladas, contra 46,5 milhões de toneladas previstas no início do ano. Traduzido em dinheiro, “o impacto da seca para a economia argentina chega a 4,6 bilhões de dólares, ou 0,7% do PIB projetado para 2018”, diz o relatório da Bolsa. Para o Banco Mundial, o impacto econômico será imediato: “A seca está prejudicando a produção agrícola e a recente volatilidade do mercado pode ter inibido a atividade no segundo trimestre”, adverte o relatório.
O Banco Mundial também levou em conta a luta particular da Argentina contra o aumento de preços. “A inflação desacelera na maioria das economias latino-americanas, com exceção da Argentina e do caso extremo da Venezuela”, diz o texto. A inflação é a principal derrota do modelo promovido por Macri, baseado na abertura aos mercados mundiais, ao mesmo tempo em que financia um ajuste gradual das contas públicas com financiamento externo. No final de dezembro, o Ministério da Fazenda elevou a meta de inflação de 2018 de 10% para 15%, mas a crise de maio já explodiu essas previsões. Nos quatro primeiros meses do ano a Argentina acumulou 10% de inflação e o último Levantamento de Expectativas de Mercado (REM na sigla em espanhol), elaborado pelo Banco Central elevou o número anual a 27%, muito superior aos 24,8% registrados em 2017.
Com informações de agências internacionais
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