Presidente do Starbucks deixa a empresa e abre caminho para ser o anti-Trump
Howard Schultz renuncia ao comando da rede de cafés seis meses depois de abandonar o dia a dia da gestão

Howard Schultz decidiu se desvincular completamente da gestão da rede de cafés Starbucks, ao anunciar que no próximo dia 26 deixará a presidência da companhia. Em carta enviada aos funcionários, explicou que pretende se dedicar à filantropia e ao serviço público. Este último detalhe foi imediatamente interpretado como o início de uma possível carreira política.
O executivo já havia anunciado em dezembro que se retiraria da gestão cotidiana, quando cedeu o cargo de executivo-chefe a Kevin Johnson. Sua saída completa deixa agora o caminho livre para a nova equipe de gestão. A decisão fez as ações do Starbucks caírem mais de 2% no fechamento do mercado. Schultz foi o responsável por transformar um pequeno café de Seattle em uma das marcas mais reconhecidas do mundo.
Ele decide ampliar seus horizontes como já fizeram em algum momento Bill Gates e outros executivos ao se desvincularem completamente das companhias às quais seus nomes estavam associados. E, como Gates, Schultz se dedicará aos trabalhos de sua fundação familiar. A grande diferença entre os dois empresários, vizinhos em Seattle, é que o chefe do Starbucks é muito ativo em questões políticas e sociais.
Há uma semana, o Starbucks fechou quase 8.000 lojas nos EUA durante várias horas para que seus empregados participassem de uma oficina contra a discriminação racial, depois que dois homens negros foram presos em uma unidade de Filadélfia porque estavam esperando uma pessoa no interior da loja sem consumir nada. O vídeo com o momento da detenção viralizou e desatou um intenso debate. A polêmica adiou os planos de aposentadoria do executivo.
O pedido de demissão estava pronto havia meses. Myron Ullman, que dirigiu as lojas de departamentos JCPenny, foi nomeado presidente do conselho de administração do Starbucks. Mellody Hobson, presidenta-executiva do fundo Ariel Investments, assumirá a vice-presidência quando a substituição for concluída, no final do mês. A transição, que teve início em dezembro, já vinha motivando comentários sobre os planos políticos de Howard Schultz.
O empresário apoiou sem hesitação a candidatura presidencial de Barack Obama e depois a de Hillary Clinton. Após a vitória eleitoral de Donald Trump, em 2016, especulou-se inclusive com a possibilidade de que ele pudesse disputar a Casa Branca em 2020. “Vou examinar várias opções”, diz ele na nota, “mas ainda resta muito por saber sobre o que o futuro me reserva”.
Em uma entrevista ao The New York Times, deixou aberta a possibilidade um dia chegar à Casa Branca. “Há bastante tempo preocupa-me profundamente o nosso país”, observa em seu comentário. Cita especificamente a divisão interna e a posição que os Estados Unidos ocupam atualmente no cenário global. No passado, criticou a política migratória do presidente.
Também confrontou Trump em questões como o meio ambiente e o casamento homossexual. E já antes das eleições, em um discurso, denunciou também que as oportunidades que ele teve para alcançar o “sonho americano” estariam se esvaindo para a maioria das pessoas. “Não pode ser acessível só para os privilegiados que são brancos e vivem em um bom bairro”, lamentou.