Oposição da Espanha obtém maioria para derrubar Governo Rajoy
Partido Socialista, liderado por Pedro Sánchez, iniciou ação contra premiê conservador do PP. Votação deve ocorrer nesta sexta. Veja os cenários possíveis
A oposição da Espanha comemora ter conseguido nesta quinta-feira em Madri os votos suficientes para impor uma moção de censura forjada para derrubar o premiê conservador Mariano Rajoy. Trata-se da segunda iniciativa em menos de um ano que lança mão do mecanismo legislativo para tentar encerrar o mandato de seis anos de Rajoy como chefe do governo espanhol. Foi impulsionada pelo líder do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), Pedro Sánchez, na esteira da condenação por corrupção e tráfico de influência de 30 pessoas ligadas ao governista Partido Popular (PP), no escândalo conhecido como caso Gürtel. Com os conservadores enfraquecidos pelo megaescândalo de caixa 2, dessa vez a ofensiva opositora foi vencedora e, se Rajoy não renunciar nas próximas horas e salvo uma reviravolta de última hora, a votação que vai tirá-lo do cargo e dissolver seu Governo deve acontecer nesta sexta-feira pela manhã.
Se a moção de censura vencer, Sánchez assumirá o cargo de premiê e tentará ou governar em minoria ou convocar eleições - algo que ele já disse que tem intenção de fazer, mas não explicitou uma data. O desfecho não deixa de ser surpreendente. No começo da semana ainda havia dúvidas de que o líder do PSOE, ele próprio no comando de um partido em má fase e longe do topo das pesquisas, conseguiria a vitória. Mas na tarde desta quinta já era claro que o líder socialista havia ganhado a batalha: reunir os 176 votos necessários para que fazer vingar o mecanismo de moção de censura, próprio dos regimes parlamentaristas, como é a Espanha. Para o desfecho, foram centrais as cadeiras dos independentistas bascos do PNV. A direção do PNV comunicou ao Governo e a Sánchez que apoiaria a moção de censura selando a derrota de Rajoy.
Se nos dias prévios Rajoy acusou Sánchez de apresentar uma moção "porque nunca vai ganhar eleições", nesta quinta-feira o líder do PSOE, Pedro Sánchez, convidou a premiê a renunciar: "Renuncie, senhor Rajoy e tudo acabará. (...) Seu tempo acabou. Renuncie e esta moção de censura terminará hoje, aqui e agora". O premiê nem sequer permaneceu no Parlamento acompanhando o debate. Em seu discurso e já visando tanto o apoio do PNV como dos catalães, Sánchez prometeu que, em caso de vitória da moção, manteria o Orçamento já aprovado pela atual administração e que tentaria retomar as relações com o novo Governo da Catalunha.
Ciudadanos e Unidos Podemos
Os dois outros partidos relevantes no cenário espanhol também colocaram suas cartas na mesa. O líder do centro-direitista Ciudadanos, Albert Rivera, aliado do PP no atual Governo, confirmou que votaria contra a moção de censura, mas exortou Rajoy a renunciar, o que levaria a negociações para formar uma nova coalizão, que poderia inclusive voltar a ser liderada pelo próprio PP. Rivera disse que não apoiaria nem "o governo zumbi" de Rajoy nem o "governo Frankenstein” de Pedro Sánchez, cujo PSOE, com 85 cadeiras, não teria como formar um Governo de maioria. Já o líder do esquerdista Unidos Podemos, Pablo Iglesías, criticou Sánchez por prometer manter as dotações orçamentárias do Governo Rajoy, mas abriu uma janela para "ganhar juntos" as novas eleições .
Em meados de maio, uma pesquisa feita pelo instituto Metroscopia para EL PAÍS mostrou o peso tanto dos Ciudadanos como do Unidos Podemos na atual conjuntura. O levantamento evidenciou que os dois partidos que se revezam governando a Espanha desde 1982, o PP e o PSOE, atravessam seu pior momento dos últimos 35 anos e, pela primeira vez, foram superados pelos novatos. A legenda de Albert Rivera seria a com maior apoio se houvesse eleições, com 29,1% dos votos. Na segunda posição estaria o Unidos Podemos, com 19,8%. O Partido Popular (PP) marcaria apenas 19,5% e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) ficaria em último, com 19%.
A nova instabilidade na Espanha se junta à situação de indefinição italiana após as eleições e já tem se refletido nas bolsas europeias. O principal índice da Bolsa espanhola, o IBEX, encerrou com queda de 1% nesta quinta.
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