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Paralisação dos caminhoneiros, quinto dia: cresce temor de desabastecimento

Por enquanto apenas alimentos perecíveis sumiram das prateleiras em alguns Estados, mas hospitais se queixam da falta de insumos

Engarrafamento provocado pelos caminhoneiros em São Paulo.
Engarrafamento provocado pelos caminhoneiros em São Paulo.Sebastiao Moreira (EFE)

A greve dos caminhoneiros chegou nesta quinta-feira ao seu quarto dia, e o temor de que haja um desabastecimento de alimentos e outros produtos essenciais nas cidades trouxe angústia aos brasileiros, que temem ver prateleiras de supermercados vazias, hospitais sem equipamentos e transporte público paralisado. As dúvidas a respeito tomaram as redes sociais e invadiram as mensagens no Whatsapp, inclusive com notícias falsas que alimentaram os fantasmas de que pode haver desabastecimento no curto prazo. Isso porque as filas dos postos de gasolina para abastecer, uma cena que parecia aposentada do imaginário brasileiro, mostraram que a paralisação pode complicar a rotina do país, dependente de uma logística rodoviária, por ora comprometida com a paralisação dos caminhoneiros em diversas estradas.

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Apesar do receio de que falte comida para a população, a situação dos supermercados em São Paulo nos bairros centrais não é crítica, ao menos por enquanto. Mas, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) sentiu o impacto da paralisação. Em comunicado, a Companhia diz que os efeitos da greve “no sistema de abastecimento de frutas, legumes e verduras no Entreposto Terminal São Paulo foram bastante sentidos pelos comerciantes de modo geral”. O pavilhão do Mercado Livre do Produtor (MLP), onde são comercializadas verduras e hortaliças no atacado, operou com menos de 50% da sua capacidade, segundo a companhia. “Operou-se hoje com menos de 50% de sua capacidade, ocasionando uma subsequente elevação de preços". Alguns itens foram vendidos com alta de 80% do preço em comparação à semana passada, como é o caso da batata.

Os riscos, por ora, são pontuais, mas dependem do tempo que a greve vai durar. Em nota a entidade informou que "foram percebidos diversos problemas, como a entrada de produtos provenientes de outros estados e que encontram mais dificuldade de acesso". Os produtos que estão em risco de faltar são "a manga e mamão, provenientes da Bahia e Espírito Santo, o melão do Rio Grande do Norte, a melancia de Goiás e a batata do Paraná, entre outros".

Ainda de acordo com a Ceagesp, "a produção vinda do interior de São Paulo não apresenta problemas (cítricos, verduras e boa parte dos legumes)". Além disso, "os produtos que permitem estocagem (maçã, pera, abóboras, coco verde, alho, cebola, etc.) sofrem menos no curto prazo, mas, no médio/longo prazo, com a manutenção da greve, também podem sofrer desabastecimento". A companhia disse também que alguns produtos apresentaram alta nos preços, como ocorreu, por exemplo, com a batata e com as hortaliças.

Já a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), informou que "a situação tem se agravado a cada dia, com maior número de veículos com alimentos parados nos principais pontos das rodovias". No entanto a organização não falou em desabastecimento nem mencionou quis setores seriam mais afetados, mas frisou o prejuízo econômico de várias de suas empresas associadas, estimado em 3 milhões de reais até o momento.

Nos supermercados o desabastecimento ainda não se fazia sentir, ao menos em algumas regiões da cidade. Em mercados e sacolões do centro de São Paulo a situação estava normal, com as prateleiras cheias de produtos. De qualquer forma, para evitar que haja escassez algumas lojas limitaram a compra de alguns produtos a determinado número de unidades. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informou que as lojas "possuem um estoque médio de produtos não perecíveis, e por enquanto, com relação a esses produtos ainda não estamos com problemas". A preocupação, de acordo com a associação, é com relação aos perecíveis. "Já recebemos informações dos seguintes estados sobre problemas no abastecimento devido à greve: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Alagoas, Espírito Santo, Pernambuco, Tocantins, Santa Catarina, Paraná, e São Paulo".

No Rio, supermercados estavam com falta de alguns produtos, registrou O Globo, e já previam uma sexta-feira mais complicada. Na Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro, houve queda de 90% na movimentação de caminhões de entrega. 

Já no Recife, o clima, por ora, ainda não era preocupante. Em um dos mercados faltava tomate e batata, mas os demais alimentos e produtos estavam nas prateleiras. Para administrar os problemas relacionados à greve, o Governo do Estado de Pernambuco instituiu um gabinete de gestão da crise. Em entrevista coletiva, o alto escalão da gestão Paulo Câmara garantiu que não está faltando alimentos. “Nós temos estrutura logística na central [Ceasa]”, disse Pedro Eurico, secretário da Justiça e dos Direitos Humanos. “Estamos abastecidos e não está faltando alimento”.

Eurico anunciou ainda que o Governo fiscalizará supermercados e feiras livres na Grande Recife. “Não é possível admitir reajustes desnecessários e sem motivo”, disse Pedro Eurico. Ele lembrou que um posto foi multado em 500.000 reais na quarta-feira por cobrar 9 reais pelo litro da gasolina.

O Governo pernambucano também garantiu que todos os serviços serão mantidos “de qualquer forma”, como, por exemplo, as aulas na rede pública. Mas, por uma questão de “segurança”, não foi explicado de que maneira o combustível chegaria até viaturas policiais e ambulâncias, por exemplo. “O combustível está no porto de Suape e a gente está fazendo o transporte”, disse Antônio de Pádua, secretário da Defesa Social. “Existe um plano de trabalhar com os postos que estão fazendo o abastecimento das nossas viaturas”.

Outra preocupação é com o abastecimento de hospitais. O Hospital das Clínicas, um dos maiores do país, em São Paulo, informou que opera normalmente e que não falta nenhum insumo no local. A Secretaria Municipal da Saúde da cidade também afirmou "que todas as unidades estão funcionando normalmente e que, até o momento, não houve registro de falta de medicamento".

Por outro lado, a Associação Nacional de Hospitais Privados divulgou uma carta pedindo que os grevistas não bloqueiem carregamentos "de gases medicinais (como oxigênio, por exemplo), medicamentos e outros insumos essenciais". De acordo com a nota, os hospitais associados "começam a detectar uma queda substancial dos estoques e uma iminente falta de insumos nas instituições de saúde, que pode ameaçar o bem-estar e a vida dos pacientes atendidos".

Transporte público

Em São Paulo algumas empresas de transporte público tiveram sua frota afetada, e reduziram o número de ônibus em circulação. No terminal Santo Amaro, na zona sul da capital, o sistema de alto-falantes informou que "devido à redução de frotas, as linhas estão operando em intervalos prolongados". Filas grandes se formam em alguns pontos. Para compensar a falta de ônibus as linhas de trem e metrô da capital operam com capacidade máxima mesmo fora do horário de pico.

A SPTrans anunciou que na sexta-feira a frota será reduzida em 50%, e que o intervalo entre os ônibus será aumentado. O rodízio continuará suspenso.

Já em Brasília a frota foi reduzida em quase 40% e há rumores de que na sexta-feira o serviço possa ser suspenso por falta de combustível para os veículos.

No Paraná a Universidade Estadual de Ponta Grossa e a Universidade Estadual do Norte do Paraná suspenderam as aulas a partir desta quarta devido à greve dos caminhoneiros. O motivo é que a falta de combustíveis deixou sem ônibus as cidades e, assim, não há como chegar às aulas.

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