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Macron: “Uma forma de guerra civil europeia reaparece”

Presidente francês apresenta em Estrasburgo seu plano europeu perante um crescente ceticismo

Marc Bassets
O presidente da França, Emmanuel Macron, durante debate no Parlamento Europeu em Estrasburgo, nesta terça-feira.
O presidente da França, Emmanuel Macron, durante debate no Parlamento Europeu em Estrasburgo, nesta terça-feira.VINCENT KESSLER (REUTERS)
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O presidente francês, Emmanuel Macron, abriu nesta terça-feira em Estrasburgo a batalha política pelo futuro da União Europeia. Macron, que há um ano ganhou as eleições na França com uma ambiciosa mensagem europeísta, desenhou um continente profundamente dividido entre o que chamou de “democracias iliberais”, que ameaçam o modelo europeu, e as “democracias liberais”, que devem escutar “a cólera do povo” se quiserem evitar o desmantelamento do projeto comum. “Uma forma de guerra civil europeia reaparece”, avisou.

Os planos concretos do presidente para “construir uma nova soberania europeia” que rebata o “recrudescimento nacionalista” esbarram num amplo ceticismo, não só entre os eurocéticos e eurófobos, mas também entre potenciais aliados como a Alemanha da chanceler Angela Merkel.

“Ante o autoritarismo que nos rodeia, a resposta não é a democracia autoritária, e sim a autoridade da democracia”, disse Macron em um discurso ao plenário de Estrasburgo (leste da França), que abriu um debate com os grupos parlamentares. À tarde, viajaria à localidade francesa de Épinal para participar da primeira das consultas populares, reuniões para confrontar ideias e registrar as inquietações e propostas de europeus comuns, uma de suas principais iniciativas no plano para refundar a Europa.

O presidente francês tenta redefinir as linhas partidárias no Parlamento Europeu, à imagem do que conseguiu na França ao criar um movimento transversal, da centro-esquerda à centro-direita, que afundou os dois grandes partidos franceses, o Partido Socialista e os Republicanos (gaullistas). Na UE isto significaria acabar com o domínio do Partido Popular Europeu (centro-direita) e da Aliança dos Socialistas e Democratas Progressistas. O debate em Estrasburgo foi um primeiro teste.

Na primeira rodada de intervenções, as recriminações foram se intensificando gradualmente. Do aviso amável, mas significativo, do alemão Manfred Weber, chefe do PPE, sobre a inutilidade de “inventar nada de novo” na Europa e a necessidade de aplicar a democracia parlamentaria europeia já existente, até os discursos nacionalistas e eurocéticos dos eurodeputados da extrema direita francesa, passando por várias críticas à intervenção militar na Síria. Os apoios mais claros vieram do liberal Guy Verhofstadt e, com menos entusiasmo, do social-democrata alemão Udo Bullmann, um sinal das possíveis alianças que o presidente francês pode encontrar nas eleições europeias de 2019.

À vontade na esgrima parlamentar, que praticou em seus tempos de ministro da Economia, o presidente francês não fugiu do confronto com os eurodeputados da extrema direita francesa (“Se não gostavam desta assembleia, era só não se candidatarem”, disse ao eurocético Florian Philippot, líder dos Patriotas e dissidente da Frente Nacional) e expôs suas iniciativas para uma maior integração na questão da moeda única, defesa e política fiscal.

O contexto não é fácil para Macron. Suas ambições de impulsionar o euro com a criação de um orçamento e um ministro das Finanças comuns foram esfriadas pela Alemanha. O Brexit, a vitória de forças nacionalistas e populistas na Hungria e na Itália, a imprevisibilidade dos Estados Unidos e o autoritarismo da Rússia de Vladimir Putin colocam em xeque, segundo o presidente francês, a ordem multilateral que a Europa tradicionalmente encarnou, desafiando também a tradição das democracias liberais.

“Não é o povo o que abandonou a ideia europeia, é a traição dos burocratas o que a ameaça”, disse o presidente francês. A onda populista, segundo esse diagnóstico, se explica em parte porque as elites deram as costas aos eleitores. Não se trata, no caso de Macron, de um europeísmo clássico, e sim, como tem feito na França, de tentar se apropriar da linguagem e das inquietações dos populistas. “É preciso escutar a cólera dos povos”, acrescentou.

Outro conceito associado aos populistas é soberania, e Macron tenta também se reapropriar dele. Já não a soberania nacional, e sim a da UE. “Não quero pertencer a uma geração de sonâmbulos”, disse. “Quero pertencer à geração que defenda a soberania europeia.”

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