Orbán conquista terceiro mandato nas eleições da Hungria
Vitória do líder ultraconservador consolida o contrapeso do nacionalismo na Europa Oriental
Defensor do que chama de “democracia não liberal”, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, conseguiu nas urnas neste domingo a aprovação de seus discursos cada vez mais nacionalistas e ultraconservadores. Com uma das participações mais altas dos últimos anos, sua vitória (49% dos votos com 95% das urnas apuradas) consolida o contrapeso do nacionalismo no Leste Europeu e reforça sua aliança regional, que ele lidera contra uma maior integração com Bruxelas. O triunfo de seu partido, o Fidesz, símbolo do populismo, é o termômetro que mostra que esses discursos estão no auge na União Europeia (UE).
O líder húngaro conseguiu o terceiro mandato consecutivo. Exultante, Orbán compareceu ante milhares de seguidores num evento organizado por seu partido em Budapeste, onde proclamou a vitória. Sob aplausos, entoou uma canção tradicional húngara e agradeceu os eleitores. Orbán, o líder estudantil que lutou contra a ditadura comunista húngara, o político que foi durante um tempo a grande promessa liberal das recentes democracias da Europa Oriental mas que se transformou numa das vozes mais conservadoras da UE, obteve uma vitória forte. Os húngaros premiaram suas políticas populistas e xenófobas, concedendo-lhe um terceiro mandato. O Jokkik, partido ultradireitista e xenófobo que tentou se reinventar com uma guinada rumo ao centro, também aumenta. Mas não com os resultados que esperava. Seu líder, Gábor Vona, anunciou sua renúncia. O líder dos socialistas seguiu seus passos e também deixará o cargo.
O primeiro-ministro húngaro, que se apresenta como o grande defensor e o salvador dos valores cristãos tradicionais, continua sendo um modelo para seus vizinhos. Pioneiro nas reformas das instituições – como o sistema eleitoral, a Constituição e o sistema de Justiça – e na rejeição da política migratória comum, seu triunfo dá fôlego ao vínculo com os países da região, onde outros seguem seus passos. “A UE não está em Bruxelas. A UE está em Berlim, Budapeste, Praga e Bucareste”, afirmou, logo após depositar seu voto num dos distritos ricos da capital húngara.
As eleições de março na Itália já foram interpretadas como um sucesso para os partidos populistas e de extrema direita desse país. Em dezembro, o ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria se transformou em sócio da coalizão junto com o Partido Popular. E resultado do pleito da Hungria é outro apoio a essas correntes.
A vitória do Fidesz também reforça o chamado Grupo de Visegrad (V4), que inclui a Polônia, a Eslováquia e a República Checa. Algo que pode abrir mais fissuras numa União Europeia que observa, quase impassível, as reformas que Orbán realiza desde sua chegada ao poder, em 2010, valendo-se da supremacia que tinha no Congresso. Modificações que modelaram o Estado húngaro para transformá-lo numa nação que promove a primazia dos valores cristãos e o nacionalismo. Reformas que os mais críticos dizem que solaparam a democracia na Hungria, onde, já se chegou a dizer, foi instituída uma forma suave de autocracia. Medidas muito similares, embora mais veladas, às que o partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS) implementou na Polônia. Os poloneses do PiS consideram Orbán como um de seus aliados. Só os separam as posturas que o húngaro mantém com a Rússia. Para o líder do Fidesz, Vladimir Putin é um de seus referentes, como também o turco Recep Tayyip Erdogan e o chinês Xi Jinping.
A Hungria e Orbán foram os primeiros a se opor ao sistema de cotas acordado por maioria na UE e que Orbán se negou taxativamente a acatar. O país do Leste teria que acolher cerca de 1.200 requerentes de asilo que hoje vivem na Itália ou na Grécia, para reduzir um pouco a pressão migratória existente nesses países. Mas não acolheu nenhum. Depois foi seguido por todos os países da região e alguns dos arredores. “O Fidesz é muito crítico em relação à UE e a uma maior integração. Os últimos oito anos de seu Governo foram destrutivos, com campanhas que minaram a legitimidade das instituições, enquanto é um dos maiores beneficiários dos fundos comunitários”, afirma a analista Edit Zgut, do think tank Political Capital.
Também estão em jogo as relações com a UE. Bruxelas abriu vários procedimentos de infração contra a Hungria por suas leis sobre ONGs – muito similares às russas – que oprimem a sociedade civil. O país também é questionado por uma lei usada para perseguir a Universidade Centro-Europeia, uma instituição liberal com sede em Budapeste e financiada pelo magnata George Soros, que Orbán transformou em seu pior inimigo. No entanto, embora Bruxelas tenha ameaçado retirar o direito de voto da Hungria – e também da Polônia –, até agora não tomou essa medida. Seus aliados na região apoiam Budapeste e Varsóvia.
Parece que, além de suas medidas econômicas, do crescimento do PIB e da redução do desemprego, o discurso radical de Orbán contra a imigração – eixo de sua campanha – surtiu efeito entre os cidadãos. Orbán considera os imigrantes irregulares como “invasores”, afirmando que são uma ameaça à soberania da Hungria e à conservação de sua identidade. Um discurso xenófobo, num país pouco acostumado com os estrangeiros (apenas 1,5% da população). Com o pano de fundo da crise migratória, que em 2015 levou dezenas de milhares de refugiados às portas da Hungria, escapando da guerra da Síria e do Iraque e buscando cruzar o país para seguir rumo ao norte da Europa ou à Alemanha, o discurso do medo funcionou. As mensagens de Orbán sobre o risco de “hordas” de indocumentados muçulmanos aguardando para entrar no país assustaram muita gente.
O dia de eleição transcorreu sem incidentes, mas alguns colégios precisaram fechar suas portas depois da hora oficial prevista por causa da avalanche de eleitores, especialmente jovens. Os analistas interpretavam as longas filas como uma tentativa de se opor à maioria do Fidesz, que se anunciava contundente, mas, em vista dos resultados, a maré era imparável.
Oito anos para modelar a Hungria à sua vontade
A medida mais visível do Governo do Fidesz foi a construção de uma cerca elétrica para blindar suas fronteiras contra a imigração. Além de uma política migratória severa, que prevê detenções sistemáticas e devoluções. Esse é o cartão de visitas de Orbán, que também se orgulha de uma melhora econômica (o PIB cresceu 4%). Com suas medidas, que o próprio Governo chamou de “Orbanomics”, ele conseguiu reduzir o desemprego (de mais de 11% para 3,8%) com base num programa de emprego público em tarefas como limpeza de escolas e estradas. Trabalhos pelos quais a pessoa recebe pouco mais que o seguro-desemprego e que, segundo a oposição, são desnecessários e não oferecem nenhum tipo de desenvolvimento ao trabalhador. O Jobbik, a segunda força política e seu principal rival, afirma que esses empregos são na verdade uma bolha para maquiar as cifras. Orbán também apostou num programa de apoio às famílias para aumentar a taxa de natalidade.
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