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Alerta máximo para os ‘hooligans’ russos na Copa

Os radicais que protagonizaram a batalha de Bilbao fazem parte de grupos treinados para a violência, que ameaçam a segurança no Mundial

Confronto entre extremistas do Spartak de Moscou e da Ertzaintza (a força policial basca), em Bilbao.
Confronto entre extremistas do Spartak de Moscou e da Ertzaintza (a força policial basca), em Bilbao.Miguel Toña (EFE)
Ladislao J. Moñino
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A morte na quinta-feira de um agente da Ertzaintza (a força policial basca) em Bilbao em meio aos enfrentamentos entre hooligans do Athletic e do Spartak Moscou elevou ao máximo o estado de alerta para a disputa da próxima Copa do Mundo na Rússia (de 14 de junho a 15 de julho). A menos de quatro meses para o maior evento do futebol, a tragédia trouxe à tona a assustadora recordação das imagens de violência e barbárie vividas em Marselha durante a Eurocopa em 2016. As selvagens batalhas campais entre hooligans russos e ingleses no calçadão à beira-mar marselhês foram o pior momento da violência dos radicais no futebol desde o drama do estádio Heysel, em Bruxelas, em 1985. O que ocorreu na França marcou um ponto de inflexão na preocupação existente na FIFA com a realização da Copa do Mundo em solo russo. Desde então, as vésperas dos jogos das competições europeias de clubes têm confirmado o renascimento do fenômeno mais violento dos hooligans, empurrado pela força dos grupos dessa procedência, alguns deles paramilitares especialistas nesse tipo de confronto. Quase sem restrições para poderem se deslocar pelo espaço da União Europeia, desde o ocorrido na França sua violência conseguiu o objetivo que perseguiam: a bandeira da supremacia da barbárie, que antes ostentavam os hooligans ingleses. Marselha foi seu Waterloo particular.

No porto francês estavam grupos perfeitamente organizados, dispostos ao ataque em formação de falange. Unidades de 40 ou 50 indivíduos com robustas silhuetas conquistadas em academias que agiam com o dinamismo e a coordenação típica de grupos paramilitares. Os distintivos de Fratia, Gladiator ou Boxers Team, relacionados com as alas mais radicais do Spartak Moscou, adornavam as vestes desses grupos de torcedores violentos que compartilham um forte sentimento xenófobo e homofóbico.

Muitos deles ganharam suas passagens para a batalha da França em brigas organizadas nas florestas da Rússia, gravadas em vídeo e às vezes compartilhadas nas redes sociais, como se fossem uma competição na qual os mais fortes são os escolhidos para a guerra final. Recentemente, um documentário da BBC, Russia’s Hooligans Army (“Exército de hooligans da Rússia”), reuniu declarações assustadoras e ameaçadoras de indivíduos que admitiram sua propensão para as brigas e a violência durante o próximo Mundial: “Para alguns será uma festa do futebol, para outros será um festival de violência”.

O Governo argentino, como parte de um programa para erradicar a violência nos estádios denominado "Arquibancada Segura", descobriu que foi realizada uma reunião em 31 de janeiro, em Buenos Aires, entre membros das torcidas organizadas do Boca Juniors, do Dínamo de Moscou e do Zenit de São Petersburgo. O objetivo do encontro foi estabelecer uma frente comum para a caça aos hooligans ingleses na Copa do Mundo e preparar uma logística que inclua alojamento, transporte e até advogados para os torcedores violentos argentinos no caso de ser detidos. A Inglaterra escolheu como sede São Petersburgo e disputará seus jogos da primeira fase em Volgogrado (contra a Tunísia), Novgorod (contra o Panamá), cidade que será visitada pela Argentina três dias antes, e Kaliningrado (contra a Bélgica). A seleção russa ficará concentrada em Moscou e disputará suas partidas na própria capital (o jogo de abertura contra a Arábia Saudita), em São Petersburgo (contra o Egito), onde estão os ingleses, e em Samara (diante do Uruguai).

A última Copa das Confederações, disputada em junho e julho de 2017 na Rússia, e na qual não ocorreram incidentes, foi o primeiro teste tanto para a FIFA como para o comitê organizador da Copa do Mundo e para as autoridades russas. Estas últimas trabalham para terminar de preparar o forte dispositivo de segurança com o qual tentarão combater a violência das torcidas e também os possíveis atos de terrorismo, frente às ameaças lançadas pelo grupo Estado Islâmico. A estreita vigilância policial sobre os líderes dos grupos de torcedores mais violentos, inclusive sua retenção durante a Copa, é uma das medidas que serão tomadas pelas autoridades russas − que, depois do que ocorreu em Marselha, incrementaram as detenções de torcedores problemáticos. O presidente russo, Vladimir Putin, promulgou em abril de 2017 uma lei que endurece a legislação contra os responsáveis por distúrbios em eventos esportivos. Durante os dias prévios ao sorteio da Copa, também houve reuniões entre dirigentes da FIFA e do comitê organizador, nas quais a organização indicou que se as autoridades russas têm algum tipo de influência sobre os líderes e grupos violentos, devem exercê-la para impedir suas ações. A FIFA também anunciou a emissão de um cartão de identificação para todos os torcedores que comprarem entradas, que servirá como visto. O objetivo é impedir que o futebol, em sua grande festa mundial, continue sofrendo sua major derrota: a de que os torcedores não possam ir tranquilos ver um jogo, sem medo de exibir uma camisa de seu time ou sua seleção. Em um comunicado, a FIFA manifestou sua “total confiança nos acordos” de segurança para a Copa e saudou “o amplo conceito desenvolvido a respeito pelas autoridades russas e pelo comitê organizador local” da competição. “Como se comprovou na Copa das Confederações do ano passado, a Rússia já adotou os padrões mais elevados de segurança para lidar com as necessidades específicas de um acontecimento esportivo de tal magnitude”, assinalou.

Bilbao foi a última parada desta violência de torcedores radicais, que ameaça não dar trégua. A morte de um policial basco de 51 anos não ocorreu por um traumatismo, e sim por um infarto, mas está inserida neste clima de alta tensão e de confrontos entre os radicais e as forças de segurança. “Nunca tínhamos vivido isto. Não são skinheads, são paramilitares que estiveram em guerras e agora alguns são traficantes de armas”, comentou um torcedor do Athletic em uma mensagem de celular. A violência segue sua marcha. E a Copa se aproxima.

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