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Febre amarela desata caça bárbara contra macacos no Rio

Em menos de um mês, Estado registrou a morte de 132 primatas, 60% deles assassinados pelo homem. Envenenados ou espancados, animais massacrados prejudicam o monitoramento da doença

María Martín
Análise no laboratório dos macacos mortos no Rio.
Análise no laboratório dos macacos mortos no Rio.Divulgação
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O medo de contágio de febre amarela no Rio de Janeiro tem revelado uma face bárbara de alguns dos seus moradores. Em paralelo à confirmação de oito mortes pelo vírus no Estado, dezenas de macacos –vítimas como os humanos da doença– vêm sendo massacrados. Há famílias inteiras de primatas mortas. Em 22 anos de carreira como médica veterinária, Márcia Rolim nunca tinha visto nada igual. “Nunca vi uma matança tão grande contra uma espécie. Estamos todos indignados com o que estamos presenciando. De vez em quando nós temos casos de maus tratos, mas nunca nessa proporção e nem com a crueldade das lesões que estou vendo”, lamenta Rolim, também subsecretária municipal de Vigilância Sanitária no Rio.

Os macacos mortos no Rio estão sendo levados ao Instituto Jorge Vaitsman, o órgão municipal responsável pela necropsia dos animais, e os resultados dos exames são assustadores. Há casos de espancamento com múltiplas fraturas, de animais com vísceras estouradas por conta de chutes, casos de envenenamento causados pela ingestão de chumbinho disfarçado em bananas... Nos 25 primeiros dias de janeiro, o instituto recebeu 132 macacos e saguins e 62% deles tinham sinais de envenenamento ou agressões. Entre as vítimas há três exemplares de mico leão dourado, uma espécie que corre risco de extinção.

“As pessoas que estão matando macacos estão atrapalhando o monitoramento da doença. O grande vilão, o transmissor, é o mosquito, não o macaco”, diz Rolim. “O animal, além de ser vítima da doença, é meu indicador. É através dele que as autoridades sabem onde começar a vacinação ou as campanhas para evitar a proliferação de mosquitos para não deixar o vírus chegar ao homem”, explica a veterinária que lamenta que sua equipe esteja saindo mais para recolher animais assassinados e não doentes para poder seguir o rastro do vírus e outras doenças.

Os números mostram que houve um recrudescimento da violência contra os animais que coincide com a confirmação de mortes por febre amarela de pessoas e macacos e a alerta desatada em outros Estados do país pela doença. Em janeiro do ano passado, o Instituto Jorge Vaitsman recolheu sete corpos de macacos, mas em março, quando foi confirmado o primeiro caso de febre amarela no Estado, o número subiu para 90. Em todo 2017 foram recolhidos 602 primatas e o percentual de morte provocadas pelos humanos era de 42%. Neste ano a febre amarela foi confirmada apenas em um animal, enquanto em 2017, 12 primatas morreram pela doença.

Já no ano passado foi feita uma campanha nos parques florestais para esclarecer que de nada adianta matar primatas. Pelo contrário. Mas vista a saturação nas mesas de necropsia, não funcionou. “Informávamos que o macaco não tem culpa, que quem transmite a febre amarela é um mosquito. “Não sei se não sensibilizou ou não chegou à população, realmente não sei qual foi o erro, mas estamos fazendo um apelo para a população parar de matá-los”, alerta a veterinária. “Quando não tiver mais macacos na mata, os mosquitos transmisores (o Haemagogus e o Sabethes) vão procurar outros animais para se alimentar e isso vai piorar a situação. A febre amarela do Brasil é silvestre e restrita às florestas. Se você destruir elas, os mosquitos vão vir onde tem sangue, se aproximando das cidades e dos humanos”.

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