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Insulto do ministro do Trabalho argentino a funcionária expõe disputa trabalhista

Mulher denuncia que Jorge Triaca a demitiu semanas depois do incidente, após cinco anos de contratação irregular

Federico Rivas Molina
O ministro argentino do Trabalho, Jorge Triaca, em foto de arquivo.
O ministro argentino do Trabalho, Jorge Triaca, em foto de arquivo.Telam
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“Sandra, não venha. Não venha porque vou te mandar pra puta que pariu, você é uma idiota”, diz o ministro do Trabalho, Jorge Triaca, num áudio do WhatsApp que logo inundou as redes sociais. Sandra havia se atrasado em seu horário de trabalho e o ministro, com raiva, insultou-a pelo telefone. Forçado pelas circunstâncias, Triaca pediu desculpa publicamente, embora mal tenha conseguido apagar o incêndio de um escândalo ainda maior: a mulher denunciou que, semanas depois daquele incidente, foi despedida sem receber indenização, que recebia a metade do salário “por fora” do contracheque e que, para compensar um aumento salarial que lhe devia, o ministro conseguiu para ela um emprego num sindicato. Triaca e seu entorno negaram de forma contundente todas as acusações, que fazem lembrar o caso da deputada brasileira Cristiane Brasil (PTB), que não consegue assumir o Ministério do Trabalho por conta de constrangimentos trabalhistas.

O áudio circulou pela web até que a repercussão se tornou incontrolável. O ministro então usou sua conta do Twitter para tentar esclarecer os fatos. “Peço desculpa pelos gritos que circulam num áudio. Ocorreram no âmbito de um diálogo pessoal, não condizem com minha maneira de agir e não refletem minha forma de ser”. Depois, Triaca contou que a mensagem aconteceu “no contexto de uma situação muito estressante”. Ele anda em cadeira de rodas, e no dia do incidente a mulher não chegou a tempo para recebê-lo na casa de campo onde trabalhava, em San Isidro, nos arredores de Buenos Aires. “Nos fins de semana, vou ao sítio para receber pessoas do trabalho. Tenho minha cadeira de rodas que está no sítio, aonde vou com meu carro, e desço [dele] na cadeira de rodas. Não encontrava Sandra, e tinha avisado no dia anterior que ela deveria estar lá, mas ela não aparecia”, explicou Triaca à rádio Mitre.

Mas os problemas do ministro só estão começando. Sandra Heredia (seu nome completo) foi demitida semanas após o incidente. A mulher contou na época que começou a trabalhar para a família Triaca em 2012, sem contrato, como caseira “encarregada de tudo” — de “receber os convidados até fazer o churrasco durante os eventos”. Sua situação irregular durou vários anos, até que sua carteira foi assinada, 20 dias antes da eleição que Mauricio Macri venceu, em outubro de 2015, e que transformou Triaca em ministro do Trabalho. Sandra também contou que o ministro havia conseguido para ela um emprego num sindicato para compensar um aumento de salário que lhe foi negado.

A relação trabalhista foi de vento em popa durante anos. Tanto que Triaca apresentou Sandra como “Sandri” [um apelido carinhoso] num vídeo do jornal La Nación em que mostrava residência familiar. Mas o vínculo foi quebrado abruptamente em 6 de janeiro. Nesse dia, o cunhado do ministro informou-a de que a família decidira demiti-la “porque um ciclo se fechou”. Não satisfeita com a indenização que lhe ofereceram, a mulher foi à Justiça. “Só quero que paguem o que me devem”, disse ela à Radio Con Vos.

E a novela continua. Triaca respondeu que nunca foi empregador da mulher porque, tecnicamente, a casa não é de sua propriedade, mas de toda a família. “O sítio mencionado no áudio pertenceu durante a vida toda ao meu pai (Jorge Triaca, sindicalista e ex-ministro do Trabalho de Carlos Menem, morto em 2008), e meu irmão Carlos é quem o administra. Ele havia empregado Sandra formalmente. Tudo o que tenha a ver com o vínculo trabalhista será resolvido por meu irmão”, explicou. Seu porta-voz, Santiago Cosimano, insistiu sobre a falta de vínculo trabalhista — “o ministro do Trabalho não tem funcionários sem carteira assinada” — e colocou sob suspeita a origem da ação. “Chama a atenção o fato de que essa denúncia da imprensa ocorra logo após o anúncio de um processo de auditorias muito profundas nos sindicatos”, escreveu Cosimano no Twitter.

Certo é que a denúncia, seja qual for o seu desfecho, atingiu o Governo em seu ponto fraco, já que Macri vem se empenhando em afastar a ideia de que “governa para os ricos”. O fato de que o ministro do Trabalho insulte uma funcionária e, eventualmente, a tenha sob condições irregulares, significa um duro golpe à imagem oficial. Além disso, o caso coincide com dois cenários complexos na relação entre o Executivo e os sindicatos: uma investida judicial sem precedentes, que levou à prisão quatro caudilhos sindicais, e o início das negociações dos aumentos salariais deste ano. Triaca, sempre de perfil baixo, não poderá evitar o olho do furacão.

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