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O que explica o vulcão Camila Cabello

Aos 20 anos, cantora cubana posiciona seu primeiro disco solo no topo do iTunes em 99 países

A cantora Camila Cabello em 12 de janeiro, em um programa da ABC.
A cantora Camila Cabello em 12 de janeiro, em um programa da ABC.Paula Lobo (Getty Images)
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A Fifth Harmony, uma das girl bands mais conhecidas desta década, parecia ter tudo a seu favor: um passado televisivo vinculado ao programa The X Factor, um apetitoso contato discográfico com uma multinacional, estrondoso sucesso de vendas e downloads, uma ruidosa legião de fãs, atuações na Casa Branca e uma imagem pública impoluta. Mas para sua integrante mais carismática, Camila Cabello, de 20 anos, essa vida idílica começou a se esfacelar no momento em que manifestou publicamente o desejo de tentar a sorte como solista, em paralelo ao grupo.

O surgimento de I Know What You Did Last Summer, um dueto com Shawn Mendes publicado no final de 2015, rompeu a harmonia, não há modo melhor de dizer, do grupo e precipitou sua saída um ano depois, uma deserção e/ou expulsão controversa que alimentou todo tipo de boatos e comentários. E enquanto as ex-companheiras se esforçavam em minimizar a importância de sua despedida, para encarar o futuro, Cabello ficou preparando uma das irrupções mais poderosas e chamativas do pop atual.

Vocalista e compositora inquieta, ambiciosa e lúcida, Camila Cabello, cubana de nascimento e norte-americana por adoção, protagonizou um ano que deveria ser estudado em escolas de marketing e promoção artística. Além de colaborar com J Balvin, Pitbull, Major Lazer, Young Thug, Quavo (MC do grupo de hip-hop Migos) e Sia, coautora de Crying In The Club, seu primeiro single, a artista contou com o apoio público de personagens como Barack Obama, que incluiu Havana na lista de seus temas favoritos do ano. Sem sequer ter divulgado seu álbum, Cabello já estava na boca de todos.

Com sua carreira transformada em um gerador constante de zunzunzum e expectativas, a cantora lançou a bomba definitiva na sexta-feira. Camila, seu debut, só precisou de algumas horas para alcançar a primeira posição do iTunes em 99 países e estabelecer um novo recorde absoluto para um disco de estreia. Da noite para o dia, o pop global tem uma nova rainha com vontade para ficar por muito tempo nas alturas. E é provável que muita gente ainda não se tenha inteirado desse assalto ao trono das grandes divas do gênero.

Como já deixaram claro Justin Timberlake, Robbie Williams e, mais recentemente, Harry Styles, pode-se sair dos grupos pré-fabricados de garotos e garotas. E uma vez fora, é perfeitamente viável mostrar personalidade, arrojo e marca próprios. É a isso que aspira, com sucesso e argumentos, Camila. Para conseguir, a vocalista conta com a nada desprezível ajuda de produtores infalíveis nisso do pop contemporâneo: Frank Dukes, talentoso beatmaker que trabalhou para Drake, Travis Scott, Lorde e Post Malone; Jaramai, dueto sueco associado com os últimos passos de Frank Ocean; e The Futuristics, outro grupo que gravou com Selena Gomez, G-Eazy e Robin Thicke, colaboram estreitamente na apresentação de um som moderno, sofisticado, dançável e acessível a públicos bem diversos.

Um dos pontos fortes de Camila é justamente essa calculada variedade. O disco inclui baladas sensuais — Consequences e Somethin’s Gotta Give , tonalidades acústicas All These Years e Real Friends , incursões no reggaeton She Loves Control , nuances cubanas com perfume de R&B e hip-hop Havana , a inescapável quota caribenha Inside Out  e concessões evidentes ao R&B norte-americano In The Dark e Into It. Tudo isso emoldurado em um enorme potencial melódico e com a voz camaleônica algumas vezes descontraída, outras, pungente  de sua protagonista como irresistível gancho artístico de uma fórmula que parece condenada ao sucesso.

Ponto de encontro entre o Justin Bieber mais inspirado, Rihanna, Ed Sheeran, J Balvin, Drake, Beyoncé, Selena Gomez e Taylor Swift, esta estreia representa uma síntese muito atraente e magnética de todos os truques, recursos, virtudes e defeitos do pop urbano que manda com firmeza e suficiência na era do streaming. Mas acima de tudo está a culminação momentânea de um plano de vingança e exaltação pessoal que torna Camila a cantora de que todo mundo falará em 2018.

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