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Kim Jong-hyun: “Estou quebrado por dentro. A tristeza finalmente me engoliu inteiro”

O cantor da banda Shinee deixou uma carta de despedida antes de morrer

Macarena Vidal Liy
Altar dedicado a Kim Jong-Hyun, cantor da Shinee, por sua morte.
Altar dedicado a Kim Jong-Hyun, cantor da Shinee, por sua morte.CHOI HYUK (AFP)

A morte do cantor sul-coreano Kim Jong-hyun aos 27 anos abalou o mundo do k-pop e seus fãs em todo o mundo. De Santiago do Chile a Seul, na terça-feira aconteceram homenagens ao super “ídolo” — como são chamadas as estrelas masculinas desse gênero musical —, vocalista da banda SHINee e mais conhecido entre seus seguidores apenas pelo primeiro nome, Jonghyun. Sua morte na segunda-feira, aparentemente por suicídio, abriu as portas para um debate sobre um assunto tabu no país: a depressão.

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Morre cantor Jonghyun, da banda Shinee

“Estou quebrado por dentro. A tristeza que me devorou aos poucos finalmente me engoliu inteiro. Não consegui vencê-la”, escreveu em uma carta que enviou a uma amiga, a também artista Nain9, com a tarefa de torná-la pública caso algo lhe acontecesse. A cantora divulgou a mensagem em sua conta do Instagram.

“Eu me odiava. Me agarrava às recordações que se desvaneciam e gritava para acordar. Não havia resposta. Se não consigo respirar, é melhor acabar”, continua a despedida.

A banda SHINee, de cinco membros, tornou-se conhecida em 2008 e quase imediatamente se tornou um dos principais grupos da hallyu, a “onda coreana” que impulsionou a cultura pop desse país pelo resto do mundo. Através da internet, seus números musicais cuidadosamente coreografados, suas canções pegajosas e a voz versátil de Jonghyun deslumbraram um público global de shawols, apelido dos fãs da banda. Shawol é um jogo de palavras que mistura o nome do grupo e o som de world (mundo em inglês).

Pelo velório, instalado no hospital, passaram na terça-feira seus companheiros da SHINee — Minho, Onew, Key e Taemin —, assim como os membros de alguns dos principais grupos musicais do país, da banda BTS à Girl’s Generation.

“O resto dos membros da SHINee e outros artistas da nossa empresa choram sua morte em meio a uma profunda comoção e tristeza”, afirmou em um comunicado a SM Entertainment, agência que representa o grupo.

A morte deixou consternado o público sul-coreano, que imediatamente levou as canções da SHINee e de Jonghyun aos primeiros lugares das paradas de sucesso. Centenas de fãs também se encontraram no hospital para prestar a última homenagem ao ídolo. Em Santiago do Chile, grupos de fãs se reuniram em frente à embaixada sul-coreana para manifestar sua dor.

Jonghyun morreu na segunda-feira no Asan Hospital, em Seul, depois de ter sido encontrado inconsciente no hotel onde morava no bairro elegante de Cheong-dong, na capital sul-coreana. Em uma frigideira ardia um pedaço de carvão para churrasco.

Queimar pedaços de carvão, que liberam monóxido de carbono — gás letal se inalado em grandes quantidades — é um método de suicídio relativamente comum na Coreia do Sul. “Parece claro que foi um suicídio”, disse a polícia de Seul em uma entrevista coletiva. A pedido da família, não será realizada a autópsia do corpo.

No mundo competitivo do k-pop, o estresse está na ordem do dia. Por trás de cada canção e de todo novo grupo que aspira ao estrelato existe um sistema muito bem azeitado e milimetricamente organizado. Um sistema no qual quase nada é espontâneo e cada gesto e cada nota são pensados para agradar ao maior número possível de gente. Os grupos são administrados por grandes agências, que preparam durante anos os aspirantes a estrela. Aulas de canto, dança e interpretação, bem como de línguas — para atrair os fãs estrangeiros —, para que não haja nenhuma falha no momento em que os jovens artistas são apresentados ao público pela primeira vez.

E quando alcançam a fama sua vida tampouco fica mais fácil. Sempre sujeitos ao julgamento dos admiradores — e de suas agências — eles não podem dar um passo errado. Não podem se envolver em nenhum escândalo. Não podem se submeter a nenhum tipo de cirurgia estética. Os relacionamentos são tabu.

É uma pressão que costuma durar mais tempo nas bandas de rapazes, geralmente mais longevas que as de meninas. Ano após ano entre as três grandes favoritas do público, a SHINee está nos palcos há uma década com sucessos como Ring Ding Dong. Ao contrário do que geralmente acontece nesse tipo de grupo, nenhum membro foi substituído e os cinco componentes originais se mantiveram. Neste ano a banda lançou seu quinto álbum, Five, e fez uma turnê pelos Estados Unidos.

“Diga-me que fiz um bom trabalho”, implorou Jonghyun em um SMS de despedida enviado à irmã imediatamente antes de se suicidar.

O suicídio, uma praga na Coreia do Sul

Macarena Vidal Liy

O suicídio é uma praga nesse país. A Coreia do Sul tem a maior taxa de morte por suicídio entre os membros da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. De acordo com os dados desta instituição, a incidência é de 28,5 suicídios por 100 mil habitantes, a quarta causa de morte da população e a principal entre os jovens de 10 a 30 anos.

O Ministério da Saúde da Coreia do Sul estima que 90% dos suicidas sofriam de algum tipo de transtorno mental, como depressão ou ansiedade, causado pelo estresse. Apenas 15% deles receberam algum tipo de ajuda especializada, em um país onde, como acontece em outras nações asiáticas, a mentalidade confucionista incentiva o estoicismo e a modéstia.

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