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Trump resgata Guerra Fria e aponta Rússia e China como ameaças à prosperidade dos EUA

Nova estratégia de Segurança Nacional devolve o mundo ao conflito entre superpotências e descarta mudança climática como perigo

Amanda Mars
Donald Trump chegando a Washington no domingo passado.
Donald Trump chegando a Washington no domingo passado.CHRIS KLEPONIS / POOL (EFE)
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China e Rússia são, para os EUA, duas potências “revisionistas” que pretendem erodir a prosperidade norte-americana e criar um mundo diametralmente oposto aos valores norte-americanos. Essa é a coluna vertebral da estratégia de segurança apresentada nesta segunda-feira por Donald Trump, um documento que descarta a mudança climática como ameaça, recupera a linguagem de rivalidade da Guerra Fria e plasma a doutrina de Primeiro a América com a habitual dose de polêmica do "trumpismo". Washington aponta Moscou e Pequim como inimigos, apesar das tentativas de aproximação que o novo presidente norte-americano mostrou desde sua chegada à Casa Branca.

A estratégia de segurança foi divulgada no 11º mês da era Trump, fruto, segundo a Casa Branca, de um amplo debate entre funcionários e assessores. No mundo que desenha, a corrida entre superpotências volta ao primeiro plano depois de anos de algo parecido com uma trégua ou, pior, um descuido. “Depois de ser desprezada como um fenômeno do século passado, a competição entre grandes potências voltou”, diz o documento. E nessa briga, China e Rússia são os rivais a vencer: “Estão decididas a tornar as economias menos livres e menos justas, aumentar seus Exércitos, controlar a informação e reprimir suas sociedades para expandir sua influência”, acrescenta.

O documento revela, no fundo, a briga entre EUA e China pela hegemonia mundial em um momento no qual o gigante asiático se contrapõe à América de Trump, toma a bandeira da luta contra a mudança climática e desfila pelo Fórum Econômico de Davos como líder econômico alternativo, frente à retirada de Washington dos tratados internacionais. E há dados que preocupam na Casa Branca: a economia chinesa superou a norte-americana no poder de paridade de compra.

As referências a outras potências, principalmente a China, como “parceiros estratégicos”, que presidentes democratas como Barack Obama e Bill Clinton costumavam usar agora dão lugar ao termo “concorrente”, uma mudança de perspectiva ao gosto aos falcões que viam no globalismo de Obama um excesso de generosidade ou de ingenuidade.

O cetro da economia

“A América volta com força”, proclamou Trump no início da apresentação, “a América vai vencer”, concluiu. O plano está mais perto do discurso de Trump candidato, que bramava contra as vantagens que as regras do jogo comercial davam à China, em prejuízo dos EUA, que do presidente que tentou se aproximar de Pequim para conseguir mais pressão contra o regime da Coreia do Norte.

De fato, o Governo norte-americano chegou a deixar explícito que a negociação para reduzir o enorme déficit comercial com o gigante asiático seria influenciada pelos avanços nos diálogos sobre a questão norte-coreana e sua escalada nuclear. Em sua visita à China, o presidente norte-americano adotou a realpolitik e evitou por completo, pelo menos em público, qualquer menção aos direitos humanos.

“Sabemos que precisamos da China para continuar trabalhando com eles na questão da Coreia do Norte. Não é mutuamente excludente. Estamos cooperando ao mesmo tempo que reconhecemos que também existe competição”, disse um funcionário do Governo Trump em um briefing antes da apresentação do plano.

Mesmo assim, a estratégia deixa claro que a segurança nacional também passa pela segurança econômica e salienta que os EUA “não vão mais fechar os olhos às violações de normas, às armadilhas ou às agressões econômicas”. Washington aponta que a suposição de que a entrada de países conflitivos em organismos internacionais acaba transformando essas nações em “parceiros confiáveis” e “atores benignos” é “uma premissa falsa”.

Propaganda e ‘trolls’ russos

Também há contraste entre o que diz o documento de segurança e as palavras que o mandatário norte-americano dedicou até agora a Vladimir Putin. Trump chegou a questionar os serviços de inteligência norte-americanos, que dão por certa a ingerência do Kremlin nas eleições presidenciais, e elogiou o líder russo em várias ocasiões. Essa simpatia causou mal-estar entre os republicanos mais tradicionais, que continuam vendo a Rússia como o velho inimigo da Guerra Fria, principalmente quando existe uma investigação em curso sobre uma suspeita de colaboração da campanha de Trump com Moscou para prejudicar a candidatura da democrata Hillary Clinton e favorecer a chegada do empresário nova-iorquino à presidência.

Trump declarou publicamente que acredita na palavra de Putin, mais do que na do FBI ou da CIA, ao negar essa trama e destacou a inteligência do presidente russo. No plano estratégico, porém, escreveu que “China e Rússia usam a tecnologia, a propaganda e a coerção para criar um mundo que é a antítese de nossos interesses e valores”. Washington considera que ambos os países tentam revisar o status quo global, no caso da Rússia com as incursões militares na Ucrânia e na Geórgia e, no da China, com a intervenção no mar da China Meridional.

As contradições com o discurso oficial de Trump surgem também quando o documento aponta as campanhas de propaganda da Rússia, acusada de “usar operações de informação como parte de esforços cibernéticos para influenciar a opinião pública no mundo todo”. Suas campanhas de influência misturam operações de inteligência encobertas e falsos personagens online com mídias financiadas pelo Estado, intermediários, usuários de redes sociais pagos e trolls”.

A MUDANÇA CLIMÁTICA NÃO É MAIS UMA AMEAÇA

O documento indica que as "políticas climáticas" continuarão modulando o sistema energético dos EUA, mas, diferentemente do Governo Obama, já não considera a mudança climática "uma ameaça" para segurança dos EUA. O documento ressalta que a liderança do país é "indispensável" para rebater estratégias contraproducentes para o crescimento e desfavoráveis aos interesses dos EUA.

O prejuízo econômico foi a principal ideia utilizada por Donald Trump para justificar a saída do Pacto de Paris. Trump também aboliu regulações sobre empresas da indústria petroleira em detrimento da preservação ambiental e assinou um decreto para eliminar medidas antipoluição em rios e fontes de água natural. No início deste mês, o republicano ordenou a maior redução de reservas naturais na história do país, abrindo as portas para atividades como extração de gás e petróleo, mineração e exploração madeireira.

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