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Aécio sonda terreno da reeleição ao Senado após ver seu capital político desabar com furacão JBS

Com imagem e capital político abalados, senador fala em concorrer à reeleição ao Senado. Gravações de Joesley Batista aniquilaram pretensões de chegar ao Planalto em 2018

Aécio Neves no último sábado, em Brasília.
Aécio Neves no último sábado, em Brasília.ADRIANO MACHADO (REUTERS)
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Aécio Neves, o senador mineiro que quase chegou à presidência do Brasil, começa a tatear o terreno rumo às urnas em 2018. Depois de engolir o revés em sua imagem pública, após virem à tona as gravações feitas pelo empresário Joesley Batista em maio deste ano, Aécio começa a falar em eleições, possivelmente ao Senado, num claro teste do que será o seu futuro depois do inferno público que se seguiu ao episódio em que se viu envolvido com o dono da JBS. Desde que o país se inteirou do seu pedido de 2 milhões de reais a Joesley, o tucano viveu a humilhação de se ver temporariamente afastado do Senado, ter a sua irmã e seu primo detidos pela Justiça, e o questionamento eterno de por que ele pediu dinheiro a um empresário corrupto, dinheiro este que seguiu para o senador Zezé Perrella, outro personagem que acumula polêmicas na política brasileira.

Um dos últimos constrangimentos a que se viu submetido foi durante a convenção do seu partido no último dia 9. Foi vaiado por militantes e se viu obrigado a sair “à francesa” do encontro tucano. Aliados dele, o alertaram sobre o constrangimento ao qual estava sujeito caso comparecesse à convenção nacional do partido no último sábado em Brasília. Levaram uma animada claque de jovens mineiros que usavam chapéus com o nome do senador para tentar abafar os apupos. Em vão.

Aécio seria claramente um nome na disputa no ninho tucano para concorrer à presidência. Mas os sinais de que seu capital político foi abalado já era possível perceber no próprio Senado. Seu gabinete, antes lotado de aliados e parlamentares que iam apenas pedir conselhos, começou a ter um fluxo menor. Os discursos no plenário do Senado também se reduziram. Antes de sua crise pessoal, era comum vê-lo na tribuna para tratar dos mais diversos assuntos, principalmente para criticar a gestão de Dilma Rousseff. Entre janeiro de 2016 e dezembro de 2017 foram 45 discursos. Depois de ser arrastado pela crise da JBS, ocupou a tribuna nove vezes. Em cinco delas, tratou de fazer um discurso em tom de defesa pessoal. Na maioria das vezes repudiava o envolvimento de seu nome em atos de corrupção. Nas outras quatro ocasiões, tratou de temas gerais, como homenagens a personalidades ou indicações para cargos em conselhos.

Aécio não é o primeiro político a ir à lona por acusações de corrupção. O ex-presidente Lula é outro que já se tornou réu em vários processos, mas tenta superar as desconfianças ao tentar concorrer à presidência de novo. O tucano também já escolheu as urnas como seu último refúgio. O senador deverá mirar seus esforços para continuar tendo alguma influência política. Por isso, sua estratégia em 2018 será se voltar completamente para Minas Gerais e tentar conquistar sua reeleição ou uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Ao público externo, Aécio diz que pode concorrer também ao cargo de governador, que já ocupou por dois mandatos seguidos. Mas em uma entrevista na última sexta, 15, à rádio mineira Itatiaia, ele afirmou que seria natural candidatar-se à reeleição ao Senado. “É um caminho natural, pela importância de ter representantes fortes defendendo os interesses de Minas Gerais”, disse ele. Em entrevista ao Estado de S. Paulo neste domingo, ele também confirma essa intenção. A fala tem sido vista por correligionários dele como uma tentativa de demonstrar o mínimo de influência ou de lançar um "balão de ensaio" para saber qual sua margem de aceitação ou de rejeição entre os mineiros.

Será a prova dos nove em sua terra natal que já passava sinais contraditórios a Aécio desde 2014. Quando concorreu à presidência, ele teve em seu reduto eleitoral menos votos na disputa presidencial (5,4 milhões) do que quando foi eleito para o Senado, em 2010 (foram 7,5 milhões de votos). Ou seja, se nacionalmente ele era bem visto, localmente, passou a ser malquisto. Perdeu aquele pleito para Dilma Rousseff (PT) nos dois turnos em Minas.

Seu apoio ao impeachment e a comprovação de seu envolvimento com o corruptor confesso Joesley Batista, sócio da JBS, só fizeram diminuir o seu capital político. Ao ser flagrado pedindo 2 milhões de reais a Joesley, Aécio foi afastado das funções parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal. Afastou-se da presidência do diretório nacional do PSDB. Posteriormente pôde retomar suas atividades. Mas o estrago para sua imagem já havia sido feito. Pelas gravações de Joesley, soube-se, ainda, que ele havia entrado com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral contra eventuais irregularidades da chapa de Dilma Rousseff “só pra encher o saco”, como foi registrado em áudio pelo dono da JBS.

As vaias em seu ninho, onde já foi um dos principais líderes, demonstram ainda que sua intervenção interna em favor de Geraldo Alckmin era a única saída para tentar sobreviver em seu Estado natal. “Estou muito feliz com a unidade que ajudei a construir”, falou aos jornalistas no evento. Nacionalmente, ele saiu de cena pela porta dos fundos, apesar de ainda prometer votos para o Governo Michel Temer (PMDB) aprovar sua reforma da Previdência. Antes, ganhou alguma evidência ao aparecer como articulador da ascensão relâmpago de Alberto Goldman à presidência do PSDB em novembro. Depois, apoiou a entrada de Alckmin, que deve disputar a vaga do Palácio do Planalto.

Em Minas Gerais, sua tentativa é reconstruir sua base. Se concorrer ao Senado, aliados e adversários cogitam que ele fará uma aliança informal com o atual governador Fernando Pimentel (PT). Oficialmente, Aécio apoiaria a candidatura do hoje deputado do PMDB Rodrigo Pacheco para o Governo, desde que ele se filiasse ao DEM. Na realidade, contudo, Aécio não se empenharia para eleger Pacheco, e Pimentel não atacaria o tucano nem se empenharia na eleição de um senador adversário de Aécio. Todos os envolvidos negam essa costura.

Aliar-se ao PT, aliás, é uma estratégia que Aécio já adotou em outras ocasiões. Quando concorreu ao Governo do Estado, em 2006, estimulou a votação na chapa informal “Lulécio”, na qual reelegeriam tanto Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência, quanto Aécio para o Minas Gerais. Nas eleições de Marcio Lacerda (PSB) para a prefeitura de Belo Horizonte, em 2008 e 2012, Aécio também se aliou informalmente ao PT e a Pimentel, que na ocasião deixava a prefeitura da capital mineira. As críticas mais duras aos petistas ocorreram de maneira intensa nacionalmente nos anos de Rousseff na presidência da República (2011-2016). Ele foi um dos principais articuladores do impeachment.

Caso concorra para a Câmara, Aécio terá de buscar uma das 53 vagas do Estado. Seus primeiros adversários diretos serão os sete peessedebistas que tentarão a reeleição. No caso do Senado, duas vagas estarão em disputa. Dois cenários foram colocados nessa disputa um em que o candidato do PT seria Pimentel e outro, com Dilma. Em ambos, o tucano aparece apenas como o quarto colocado atrás de qualquer um desses dois petistas, do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot (que não tem partido e nem anunciou intenção de candidatura), e do empresário Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar. As entrevistas concedidas nos últimos dias revelam que ele está disposto a trabalhar para reverter o rechaço a seu nome. Uma árdua batalha que está começando.

Geraldo Alckmin na convenção do PSDB, no sábado.
Geraldo Alckmin na convenção do PSDB, no sábado.ADRIANO MACHADO (REUTERS)

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