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Rússia dá respiro à Venezuela, estrangulada pela dívida

Maduro assinou acordo para reestruturar dívida com Moscou, um alívio que não tirará o país do atoleiro

Pilar Bonet
Mulher caminha diante de uma bomba de extração de petróleo na Universidade de Caracas
Mulher caminha diante de uma bomba de extração de petróleo na Universidade de CaracasFEDERICO PARRA (AFP)
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A Rússia ofereceu nesta quarta-feira um respiro financeiro à Venezuela ao assinar um acordo intergovernamental de reestruturação de uma dívida de 3,15 bilhões de dólares (10,4 bilhões de reais) da nação caribenha. Caracas ganha assim 10 anos para acabar de pagar o crédito estatal concedido pela Rússia em dezembro de 2011, num valor total de quatro bilhões de dólares.

O acordo estabelece um novo cronograma de pagamentos, de modo que as parcelas sejam mínimas durante os primeiros seis anos do novo prazo de uma década, segundo a agência de notícias russa Tass. A Rússia é um dos principais credores da Venezuela, e o seu orçamento estatal foi privado de 54 bilhões de rublos (três bilhões de reais) neste ano devido ao calote do Governo chavista, acrescentou a agência. O chanceler russo, Serguei Lavrov, disse na quarta-feira que o “desenvolvimento das relações entre a Rússia e a Venezuela depende do grau de benefício mútuo para os dois países”. “Desenvolvemos relações mutuamente benéficas com a Venezuela, como com outros países, incluídos os europeus”, acrescentou o ministro, de acordo com a Tass. Exceto pela reestruturação da dívida, a Venezuela não se dirigiu ao Governo russo para obter ajuda adicional, segundo o porta-voz presidencial Dimitri Peskov.

Além do endividamento público, a estatal petroleira venezuelana PDVSA tem uma dívida de quase seis bilhões de dólares com a sua homóloga russa Rosneft, como pagamento adiantado pelo fornecimento de petróleo e derivados.

O alívio da carga financeira a Caracas graças a essa reestruturação “permite destinar os meios liberados para o desenvolvimento da economia nacional, melhora a capacidade de pagamento do devedor e aumenta as possibilidades de que todos os credores consigam reaver os créditos concedidos anteriormente à Venezuela”, segundo nota do ministério russo das Finanças.

Segundo a agência AFP, o acordo assinado em Moscou só permite ganhar tempo, porque de todo modo "a questão da dívida venezuelana não pode se resolver de maneira nenhuma", disse Anton Tabakh, economista da agência de qualificação RAEX. O endividamento global da Venezuela alcança os 150 bilhões de dólares. Seu principal credor é a China, com dezenas de milhões de dólares a receber, segundo estimativas dos especialistas.

No passado, em várias ocasiões a Venezuela descumpriu suas obrigações financeiras com Moscou. Em 2016, a Rússia aceitou reestruturar um total de 2,84 bilhões de dólares da dívida, e Caracas se comprometeu a devolver o empréstimo num prazo de cinco anos, entre março de 2017 e o final de 2021. Entretanto, em junho deste ano se soube, segundo a Tass, que a Venezuela não havia cumprido esse compromisso, e depois disso as partes iniciaram negociações para uma nova reestruturação. Em setembro, o ministro russo de Finanças, Anton Siluanov, confirmou que as autoridades de Caracas haviam solicitado uma reestruturação da dívida e que no começo de outubro o presidente Nicolás Maduro, acompanhado de seu ministro das Finanças, Ramón Lobo, viajou à capital russa para discutir novamente o assunto.

Numa entrevista coletiva na quarta-feira em Moscou, o vice-presidente da Venezuela responsável por Economia e Finanças, William Alfredo Castro Coteldo, disse que a reestruturação permite incrementar o nível de intercâmbio comercial com a Federação Russa, garantindo à Venezuela “certa agilidade no pagamento da dívida do Governo venezuelano à Federação Russa”, e que assim o Governo de Caracas dá um passo para “satisfazer as necessidades do povo venezuelano”. A dívida da PDVSA com a Rosneft não está incluída no refinanciamento, segundo o ministro de Economia e Finanças da Venezuela, Simón Serpa.

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