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Folgas no trabalho para quem não fumar no Japão

Empresa oferece seis dias livres remunerados aos que deixarem o cigarro

Livros por 5,70 reais; multa por fumar de 57 reais
Livros por 5,70 reais; multa por fumar de 57 reaisGonzalo Robledo

O bilhete anônimo de um funcionário contra a perda de tempo dos colegas fumantes, que precisavam descer 29 andares para dar uma baforada, levou os diretores da empresa japonesa de marketing Piala a oferecer seis dias de descanso remunerado para quem não fumar.

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Os não fumantes estão felizes com a troca inovadora, e quase um terço dos 120 funcionários anunciaram que aceitarão a oferta, batizada de sumokyu – fusão do inglês smoke (fumaça ou fumar) com o japonês kyu (descanso).

Mas, assim como algumas campanhas oficiais para controlar a fumaça nos espaços públicos do Japão, a saúde é um efeito colateral do sumokyu, não o seu principal objetivo. A ideia da iniciativa é ensinar a usar melhor o tempo durante as horas de trabalho, explica Hirotaka Matsushima, porta-voz da empresa, dizendo que só quatro dos 46 fumantes da Piala deixaram o vício desde o anúncio da proposta, em 1.o de setembro.

O pragmatismo da campanha também reflete a atitude ambivalente frente ao tabaco num país cujo monopólio oficial da indústria do cigarro, controlado pela poderosa firma semiestatal Japon Tobacco (JT), torna impossível vislumbrar, no curto prazo, a erradicação da dependência.

Com mais de 33% de participação na JT, o Governo japonês decide o preço do cigarro e cobra impostos de mais de 60% sobre cada maço, transformando a venda de tabaco num grande gerador de receita defendido por influentes grupos de pressão do dominante Partido Liberal Democrata (PLD).

Por outro lado, o Ministério da Saúde e legisladores contrários ao tabaco tentam abolir o cigarro nas escolas, hospitais e outros lugares públicos onde o senso comum manda não fumar.

Com a proximidade dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, aumenta a necessidade de dar uma imagem de cidade “livre de fumaça”, e a capital se transformou em palco de medidas contraditórias que têm causado alegrias e amarguras tanto para os fumantes como para os que não fumam.

A tolerância em relação ao cigarro em restaurantes e cafés impressiona sobretudo os turistas ocidentais não fumantes com crianças. Já os estrangeiros viciados em tabaco se sentem vigiados quando passeiam pelos bairros de Tóquio que multam quem fuma fora das áreas designadas.

A higiene e o decoro, mais do que o medo do câncer, também explicam por que as cidades japonesas estão repletas de áreas de fumantes cercadas ou rodeadas de paredes transparentes, cujo propósito é reunir os amigos da fumaça, e com eles suas bitucas, para deixar impolutas as já bem cuidadas ruas do país asiático.

Fumantes empedernidos como Y. Makino, moradora do distrito onde se localiza a Piala, reclama que os lugares onde é permitido fumar em público aos poucos estão sumindo do bairro. A senhora Makino se orgulha de seus 40 anos ininterruptos de fidelidade tabagista. E duvida que campanhas como a sumokyu consigam terminar com o vício dos realmente convencidos.

O “fumódromo” da Piala está no subsolo e não tem janelas. Em condições ideais de circulação no edifício, os devotos do tabaco demoram em média 10 minutos para saciar sua fissura. Um fumante típico gasta meia hora por dia para curtir três cigarros. Desde o início da campanha, contudo, o caminho até o elevador tem outro clima. É o que diz Matsushima, o porta-voz, sugerindo que a pressão psicológica acabará eliminando o tabagismo, pelo menos durante o expediente.

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