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Lula provoca Moro e ataca Palocci: “fez pacto de sangue com procuradores”

Em processo, ex-presidente é acusado de ser o beneficiário da compra de um apartamento e de um prédio com propina da Odebrecht

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou, nesta quarta-feira, o ex-ministro Antônio Palocci durante seu segundo depoimento prestado ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Lula esteve frente a frente com o juiz da Lava Jato para depor sobre o  processo em que é acusado de ter sido o beneficiário de um prédio e de um apartamento adquiridos com pagamentos do departamento de propina da Odebrecht. O depoimento durou pouco mais de duas horas – bem menos do que o anterior, que se estendeu por quase cinco, em 10 de maio.

O ex-presidente Lula, ao depor ao juiz Sergio Moro em Curitiba nesta quarta-feira.
O ex-presidente Lula, ao depor ao juiz Sergio Moro em Curitiba nesta quarta-feira.

O ataque contra Palocci ocorreu porque, na semana passada, o ex-ministro prestou um testemunho a Moro em que confirmou as teses de acusação do Ministério Público e disse que o prédio, o apartamento e o sítio foram bancados pela Odebrecht como parte de um pacote de propinas da construtora para Lula. Palocci ainda falou que essas propinas foram acertadas por meio de uma espécie de "pacto de sangue" de Lula com Emílio Odebrecht. Nesta quarta-feira, Lula tratou de desqualificar os argumentos de seu ex-ministro.

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"O depoimento do Palocci é uma coisa quase cinematográfica, como se tivesse sido escrito por um roteirista da Globo. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade", afirmou Lula em depoimento a Moro. "Ele inventou a frase de efeito 'pacto de sangue'. Ele fez um pacto de sangue com os procuradores e os advogados", reclamou.

Lula aproveitou para provocar Moro no fim do depoimento, quando ele perguntou ao juiz se ele se considerava "imparcial" para julgá-lo. "Eu posso olhar na cara de meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?", perguntou Lula. Moro respondeu: "Primeiro, não cabe o senhor fazer esse tipo de pergunta para mim. Mas de todo modo, sim". A defesa do petista já tentou, sem sucesso, afastar o magistrado dos casos contra o ex-presidente, alegando que ele não seria isento para julgá-lo.

O ex-presidente também voltou a disparar contra a imprensa, e acusou a força-tarefa da Lava Jato de ser "refém" dos meios de comunicação. "Estes processos contra mim fizeram com que vocês virasse reféns da imprensa brasileira", disse Lula, que afirmou ainda que Moro "se baseia muito no jornal O Globo".

Minutos após o término do depoimento, a defesa de Palocci divulgou nota rebatendo as críticas feitas por Lula a seu ex-ministro. “Enquanto o Palocci mantinha o silêncio, ele era inteligente e virtuoso; depois que resolver falar a verdade, passou a ser tido como calculista e dissimulado”, disse o texto. “Dissimulado é ele [Lula], que nega tudo o que lhe contraria (...) essa é a lógica dele: os que o acusam mentem, os documentos são falsos, e só ele diz a verdade”, acrescentou o texto.

Ao longo do depoimento de hoje, o ex-presidente e seu advogado voltaram a desqualificar provas e documentos apresentados pela procuradoria, que segundo Cristiano Zanin seriam "apócrifos".

No processo, iniciado como parte da Operação Lava Jato, os procuradores sustentam que, no último ano do governo Lula, a Odebrecht utilizou parte da propina destinada ao PT para adquirir um apartamento utilizado por Lula, contíguo ao apartamento dele em São Bernardo do Campo, e para comprar um prédio que seria utilizado para o Instituto Lula. Esse apartamento era alugado por Lula até a morte do antigo proprietário. Mas, com a morte do antigo proprietário, o imóvel foi adquirido por um primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e considerado uma espécie de operador do ex-presidente. Esse primo de Bumlai, Glauco Costamarques, recebeu 800.000 reais da Odebrecht para comprar o apartamento e garantir a aquisição do prédio, de acordo a denúncia da força-tarefa da operação Lava Jato. O primo de Bumlai admitiu em depoimento a Moro que não recebeu dinheiro pelo aluguel até a prisão do pecuarista, em outubro de 2015, quando passou a cobrar pelo uso do imóvel.

Ao falar da compra e do aluguel do apartamento, Lula disse que tanto o aluguel quanto os pagamentos eram providenciados por sua esposa, dona Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017. Ele disse que só soube da falta de pagamento de aluguel, entre 2011 e 2015, quando o primo de Bumlai prestou depoimento na semana passada. Lula negou que tenha solicitado a Bumlai e a seu advogado Roberto Teixeira que adquirissem o apartamento. Mas admitiu que, depois da morte do antigo proprietário, tinha interesse em manter o uso do imóvel.

"Acho que foi quase lógica sequencial de uma coisa que vinha acontecendo desde 1998. Era manter o apartamento em função da mesma visão, de que por eu ser uma figura de projeção nacional, era preciso que aquele apartamento não fosse ocupado por um terceiro, porque tinha muita facilidade de ver o apartamento em que moro”, afirmou. “Tem a mesma laje. Se alguém subir na laje, vai ver meu apartamento", completou.

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