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Coluna
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Mexeu com um, mexeu com todos

De Temer a Lula, de Jucá a Mendes, ninguém vê a hora de dar um basta às denúncias da Lava Jato

O Juiz Sergio Moro, em audiência na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP)
O Juiz Sergio Moro, em audiência na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP)Pedro de Oliveira (ALEP)
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Independente de concordar ou discordar das decisões muitas vezes incompreensíveis e arbitrárias do arrogante juiz federal Sergio Moro e mesmo assustado com o messianismo antipetista de alguns procuradores, é muito estranho quando lideranças das mais diversas colorações se unem para desqualificar as investigações da Operação Lava Jato. Do presidente não eleito, Michel Temer, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; do senador Romero Jucá, ex-ministro de Lula e de Temer, ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, todos, de maneira geral, não veem a hora de dar um basta às denúncias que todos os dias estremecem Brasília.

Na noite de segunda-feira, dia 4, deputados reunidos na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, comemoraram o tropeço do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com a delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, base para o pedido de afastamento de Temer. Os parlamentares, boa parte deles envolvidos em escândalos de corrupção, viram no enfraquecimento de Janot o fortalecimento da ideia de esvaziar a Operação Lava Jato, desejo que, repito, aglutina todas as siglas, já que política e imoralidade viraram sinônimos no Brasil de hoje.

Não fosse por nenhuma outra razão, a Operação Lava Jato expôs, como nunca antes, as entranhas dos bastidores de Brasília. Todas aquelas coisas que sabíamos existir – compadrio, troca de favores, promiscuidade entre público e privado, venda de votos, aluguel de consciências etc – vêm sendo mostradas no horário nobre, ao vivo e em cores, e agora conhecemos à perfeição os mecanismos da máquina da corrupção, cujo balcão de negócios funciona à toda nos Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário). O submundo deixou de ser uma ficção e ganhou nome e rosto.

Iniciada em 17 de março de 2014, a Operação Lava Jato tem como saldo até aqui 282 pessoas acusadas criminalmente por corrupção, fraudes contra o sistema financeiro, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas. Os já condenados somam 107 pessoas e o valor total de ressarcimento pedido remonta a R$ 38 bilhões. Além disso, há acusações de impropriedade administrativa contra 50 pessoas físicas, 16 empresas e um partido político, o PP, num total de ressarcimento pedido de R$ 14,5 bilhões.

A consolidação da importância do Ministério Público Federal como órgão independente de fiscalização da atuação dos Três Poderes, assim como o da Polícia Federal como unidade de investigação, é um dos mais significativos legados do governo Lula. No entanto, é grande a expectativa sobre a atuação de Raquel Dodge que substituirá Rodrigo Janot, a partir do dia 18, na chefia da PGR. Raquel foi escolhida para o cargo por Temer embora fosse apenas a segunda colocada na lista tríplice enviada pela Associação Nacional dos Procuradores da República, primeira vez que isso ocorreu desde 2003. Logo depois da nomeação, ela manteve um encontro secreto de uma hora com o presidente não eleito, fora da agenda oficial, por volta das dez da noite.

Segundo reportou o jornal O Estado de S. Paulo, no dia 21 de maio reuniram-se para jantar num restaurante luxuoso da capital paulista três personalidades do mundo jurídico: Antonio Claudio Mariz de Oliveira, amigo e advogado de Michel Temer (PMDB); José Eduardo Cardozo, ex-ministro e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT); e o anfitrião, Alberto Toron, advogado do senador Aécio Neves (PSDB). A conversa convergiu para críticas à atuação do juiz federal Sergio Moro. Toron teria afirmado, na ocasião, em defesa dos advogados: “Mexeu com um, mexeu com todos”. Essa frase, aliás, parece ser agora o lema de todos os poderosos de Brasília, algo como uma variante do bordão dos Três Mosqueteiros, “um por todos, todos por um”. A diferença é que aqueles, na França do século XVII, empunhavam armas por honra e justiça, enquanto aqui, em pleno século XXI, luta-se pela manutenção da roubalheira e da impunidade.

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