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Cristina Kirchner vence primárias em Buenos Aires por 20.000 votos

Eleição ‘para valer’, em 22 de outubro, determinará se ela será a líder da oposição

Carlos E. Cué
Cristina Fernández de Kirchner no lançamento de sua candidatura, no começo de agosto
Cristina Fernández de Kirchner no lançamento de sua candidatura, no começo de agostoTelam
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Cristina Fernández de Kirchner teve que esperar quase três semanas para comemorar uma vitória por margem mínima. Na noite eleitoral das primárias de 13 de agosto, uma das mais acirradas das quais se tem lembrança na Argentina, a apuração foi interrompida após serem computados 95% dos votos na província de Buenos Aires, o distrito mais importante. Àquela altura Kirchner, pré-candidata ao Senado, perdia por 7.000 votos para Esteban Bullrich, o candidato do presidente Mauricio Macri, um ex-ministro de Educação, de perfil discreto, mas com algumas gafes acumuladas ao longo da campanha. Os macristas fizeram festa como se tivessem ganhado, e a maioria dos argentinos foi dormir convencida de que a ex-presidenta havia sido derrotada definitivamente. Mas a apuração final, que demorou quase três semanas, confirmou o que diziam os kirchneristas naquela noite: que haviam sido deixadas para o final as urnas mais favoráveis a eles. Afinal ganharam, mas por apenas 20.324 votos, segundo a agência oficial de notícias Telam. Uma escassa diferença de 0,21 ponto percentual.

A divisão do peronismo e os enfrentamentos pessoais da ex-presidenta, a quem muitos detestam dentro desse movimento político habituado a duríssimas disputas de poder, fez com que o voto peronista se dispersasse entre várias opções, o que beneficiou o Governo. Agora, ela busca reagrupar esse voto, mas não é fácil, e a maioria dos analistas acredita que nas eleições definitivas, em 22 de outubro, o mais provável é que o candidato de Macri, e não Kircher, pesque os votos de outros grupo. Por isso, a derrota é uma possibilidade sobre a mesa para ela.

Seria um golpe duro para alguém que, na última vez que se candidatou, em 2011, obteve 54% dos votos em todo o país, e agora chega apenas a 33,95% em Buenos Aires. Seus partidários argumentam que esse resultado é heroico, já que ela tinha tudo contra si, com pouquíssimos recursos frente a um Governo com todo o poder, e sofrendo uma forte rejeição dos meios de comunicação mais importantes.

Nos últimos dois anos, os escândalos de corrupção envolvendo membros do seu último Governo e empresários próximos ao kirchnerismo foram uma constante, e a Justiça investiga toda a sua família. Kirchner, aliás, está intimada a depor como suspeita duas semanas depois da eleição. Apesar da deterioração da sua imagem em boa parte da sociedade, ela demonstrou que conserva um eleitorado fiel em Buenos Aires, especialmente na periferia pobre.

O fato é que a ex-presidenta esperava um resultado melhor. Os seus partidários insistem que “ganhar é ganhar, nem que seja por um voto”, mas também sabem que o importante é vencer em outubro, e para isso precisavam partir de uma vantagem cômoda nas primárias.

Nos dias anteriores às eleições, algumas pesquisas indicavam que ela poderia ganhar por 5, 7 ou até mesmo 10 pontos de diferença sobre Bullrich. Outro dado oficial conhecido com a apuração definitiva marca essa frustração vivida por parte dos seguidores da ex-presidenta: nas primárias para deputados, realizadas no mesmo dia – a primeira da lista kirchnerista na província de Buenos Aires era a quase desconhecida Fernanda Vallejos –, esse movimento perdeu de maneira muito clara, com quase 180.000 votos de diferença em favor da candidata de Macri, Graciela Ocaña.

A ex-presidenta está ciente de que seu objetivo nesta eleição legislativa é se consolidar como líder da oposição, preparando terreno para tentar uma volta ao poder em 2019, a exemplo do que vem fazendo Lula no Brasil. Sua aposta é de que a crise econômica irá devorar a imagem de Macri, e por isso, neste mês e meio que resta de campanha, ela tentará recuperar todo o espaço possível para confirmar esta vitória por uma margem mínima em 22 de outubro. Aí sim um voto a mais poderá fazer a diferença, porque serão eleitos três senadores, e a lista vencedora terá direito a duas vagas.

É uma batalha simbólica, pois na verdade Macri continuará conservando o poder, e o consolidará se as coisas correrem no resto do país como nas primárias, mas uma vitória em Buenos Aires serviria a ela para se firmar como líder da oposição. Uma derrota insuflaria a batalha interna no peronismo para tirá-la dessa posição.

A ex-presidenta está dando uma guinada na sua estratégia para recuperar o poder, e isso inclui contatos com a imprensa, algo que antes havia abandonado, e a possibilidade de conceder entrevistas. Sua campanha será retomada nesta quarta-feira com um comício em La Plata, sua cidade, para ter finalmente o banho de multidões do qual aquela estranha noite eleitoral a privou.

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