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Chavismo pede apoio a toda América Latina frente as ameaças de Trump

O governo de Maduro invoca o direito internacional ante uma eventual intervenção dos EUA enquanto a oposição fica em silencio

Manifestação da oposição venezuelan neste sábado.
Manifestação da oposição venezuelan neste sábado.Ariana Cubillos (AP)

A reação oficial do regime de Nicolás Maduro chegou quase dezoito  horas depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar a Venezuela com uma intervenção militar. O chanceler Jorge Arreaza leu um comunicado na Casa Amarela, a sede da diplomacia venezuelana, que estende a advertência de Washington à América Latina e ao Caribe. “Seria alterada permanentemente a estabilidade, a paz e a segurança de nossa região, declarada como zona de paz pelos 33 membros da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe [Celac] no ano de 2014”, afirmou o responsável pelas relações externas venezuelanas.

A Venezuela aproveitou a oportunidade da ameaça de Trump para reunir o continente ao seu redor, insistir na ideia de convocar uma cúpula da Celac e virar a página da instalação da polêmica Assembleia Nacional Constituinte, o Parlamento que Maduro procurou eleger para tirar a autoridade da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, e que não é reconhecido pelos países mais influentes da região. Arreaza estendeu esse chamado “à comunidade internacional e aos povos livres do mundo” para que “invoquem a vigência das normas de direito internacional” e ponham freio à mais agressiva ação do império contra o povo em 100 anos”.

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O chefe da diplomacia venezuelana se referia ao bloqueio naval aplicado pela Itália, Alemanha e Inglaterra à Venezuela em 1902, para obrigá-la a pagar as dívidas que o caudilho da época, Cipriano Castro, contraíra com empresas desses países. Neste sábado todo o chavismo recordou  esse episódio de 105 anos atrás. Todas as reações pareciam combinadas porque se apoiavam na leitura épica que os venezuelanos fazem da campanha independentista.

Na realidade, a sessão deste sábado da Constituinte retardou a discussão sobre a petição de antecipação das eleições regionais e, em vez disso, aprovou um acordo de respaldo a Maduro. Ali continuaram os slogans inflamados que se veem nas contas chavistas do Twitter e nos programas da estatal Venezolana de Televisión. Os velhos guerrilheiros venezuelanos que o falecido Hugo Chávez agrupou sob sua liderança em 1999, quando se tornou presidente, foram os primeiros a intervir no debate. Fernando Soto Rojas, o legendário combatente das Forças Armadas da Liberação Nacional, que tentou derrocar com o apoio de Fidel Castro o governo social-democrata de Raúl Leoni, em 1967,advertiu à plenária que teriam que começar a receber treinamento militar para os novos tempos, e prognosticou que a Venezuela daria “ao império ianque a mesma lição dada aos colonizadores espanhóis do início do século XIX”. Também interveio Emilio Colina, um deputado cego, eleito nas listas corporativas preparadas pelo regime: “O Vietnã ficará pequeno para o sacrifício heroico de nosso povo”.

O chavismo sempre apela ao chavão do intervencionismo ianque toda vez que aumenta o conflito com a oposição. Agora tem um motivo concreto para invocá-lo. Arreaza não o perdeu de vista no comunicado, mas também quis aproveitar a ocasião para reunir em torno do regime os venezuelanos que não o respaldam. “Fazemos um chamado aos patriotas da Venezuela, sem distinção de cores, parcialidade política, a nos unirmos na defesa de nosso solo sagrado, de nosso povo sagrado frente à insolente agressão do estrangeiro. Independência ou nada, disse o Libertador Simón Bolívar”, finalizou.

A oposição agrupada na Mesa da Unidade Democrática (MUD) não tinha reagido às declarações de Trump até a primeira hora da tarde de sábado. Era um silêncio devastador devido ao calibre das palavras do presidente dos EUA. A ala mais jovem de sua direção não perdeu o foco e decidiu prosseguir com uma manifestação programada em solidariedade aos prefeitos destituídos durante a semana pelo Tribunal Supremo de Justiça. Somente o governador do Estado de Lara, Henri Falcón, se manifestou, tão logo se inteirou da advertência de Trump. “Insolente Trump, este problema é nosso. Resolva os seus, que são muitos.” Os ataques que recebeu o obrigaram a explicar seu ponto de vista, que pareceu uma indireta para os demais membros da aliança oposicionista. “Com a mesma força que criticamos este mau governo, devemos condenar todas as pretensões de invadir a Venezuela. O silêncio é cúmplice.”

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