O protagonismo dos laterais brasileiros na final da Champions League
Disputa entre Daniel Alves e Marcelo será um dos pontos-chave da decisão da Liga dos Campeões
Um dos duelos mais fascinantes da final da Champions League, em Cardiff, entre Juventus e Real Madrid, será decidido por uma faixa do campo do estádio Millennium, o corredor em que se desafiarão os dois laterais de maior impacto no futebol mundial: Daniel Alves e Marcelo, Marcelo e Daniel Alves. Palavra de Cafu: “São os melhores do mundo em suas posições”. Samba total entre os dois últimos jogadores que merecem um trono no Olimpo dos grandes laterais brasileiros. Nessa terra não é uma posição qualquer, como demonstra a linhagem de Nilton e Djalma Santos, Carlos Alberto, Nelinho, Leandro, Junior, Cafu, Roberto Carlos, Branco... Como se não bastasse, no desafio do País de Gales, se Carvajal não voltar ao time, a outra lateral também pode ser brasileira, com Danilo e Alex Sandro, ex-companheiros no Santos e no Porto. Mas estes, mais jovens, ainda não têm a experiência de Daniel Alves (99 jogos de Champions) e Marcelo (77), generais indiscutíveis em suas equipes.
Os dois pertencem à linhagem de Cafu, Roberto Carlos... Laterais de impacto durante todo o jogo
Com 34 e 29 anos, respectivamente, o juventino e o madridista chegam ao final da temporada em plena forma depois de uma temporada fantástica. Longe de perderem o fôlego depois de uma carreira tão intensa (Daniel Alves disputou 796 partidas; Marcelo, 496), os dois foram capazes de subir mais um degrau e deixar claras algumas evidências. Por um lado, a errática gestão do Barcelona ao não ter mantido Daniel Alves, ou ao menos ter um substituto à altura. O posto de lateral-direito vem sendo uma cruz para os azul-grenás. Considerado velho, o ex-barcelonista subiu de rendimento de maneira extraordinária no futebol italiano, na Juventus, onde manter a regularidade nunca foi fácil para ninguém. No caso do Real Madrid, com o elenco mais forte que se tem notícia, Marcelo e Casemiro foram os únicos sem substitutos. Coentrão, que um dia foi convencido por Mourinho a cobrir os avanços de Marcelo, teve tão pouco peso que Zidane ajudou o brasileiro improvisando Nacho ou passando Danilo da direita para a esquerda. Quando se machucou neste ano, o Real empatou quatro vezes seguidas – contra Villarreal, Las Palmas, Borussia e Eibar –, um sinal de sua importância. Marcelo, como Daniel Alves, foi um ciclone.
A chegada de um e do outro à Europa foi muito diferente. Daniel Alves desembarcou num Sevilla onde já se gestava uma equipe de categoria internacional. Monchi, na época o grande feiticeiro do clube, comprou-o por 850.000 euros em janeiro de 2004 e no verão de 2008 o Sevilla o revendeu por 35 milhões. Em janeiro de 2007, Ramón Calderón, presidente do Real Madrid, contratou Marcelo, que chegou sem alarde, com 18 anos, por 6,5 milhões de euros. Curiosamente, Marcelo chegou ao clube na mesma época que Higuaín, hoje ameaça da Juve, e Gago. Dez temporadas e meia depois, é segundo capitão e já é o terceiro jogador estrangeiro com mais jogos pelo Real, atrás apenas Roberto Carlos e Di Stéfano. Quase nada…
Se houve uma coincidência entre Daniel Alves e Marcelo quando chegaram ao Barça e ao Real foi que ambos levantaram suspeitas por certo desapego defensivo. Marcelo, desconhecido da torcida, não despertou entusiasmo. Além do peso de substituir Roberto Carlos, ele não caiu nas graças de Fabio Capello. Alves também não evitou as suspeitas, apesar ter se consolidado como titular desde o início. Até que em seu melhor momento ambos não apenas afastaram os fantasmas como tiveram que correr por suas faixas de campo com menos ajuda do que ninguém. À frente de Daniel Alves estava Messi; diante de Marcelo transitava Cristiano Ronaldo, que ainda não tinha se tornado um atacante puro. E sabemos que os gênios não andam para trás.
CARVAJAL, PRONTO PARA A FINAL
Pelo lado direito, Zidane poderá contar em Cardiff com seu lateral titular. Carvajal afirma estar recuperado da lesão no bíceps femoral que sofreu em 2 de maio, no jogo de ida das semifinais contra o Atlético. “Estou 200% fisicamente e 300% psicologicamente”, afirmou o lateral, ciente do que está em jogo. “Temos de ser humildes, mas tendo claro o que queremos alcançar. Queremos ganhar essa Champions e vamos para cima deles”, disse.
Não é supérfluo que os dois tivessem começado no Brasil, berço de algumas das grandes negações de futebol: os defensores podem bater na bola como deuses, os centroavantes podem ser iscas para atrair a marcação, os laterais não desmerecem os pontas puros. Eles, caras como Daniel Alves e Marcelo, defendem com seu melhor ataque, para o qual exigem brilho, engenho, técnica, velocidade e personalidade, muita personalidade. São defensores com espírito de atacantes e capacidade de meio-campistas que não escondem sua heterodoxia. No Brasil, apenas os goleiros não encontraram seu lugar no futebol.
Para os céticos em relação às supostas fragilidades defensivas do madridista e do juventino: o primeiro levantou 14 títulos com seus clubes e um com a seleção; o segundo, 30 com clubes e quatro com o time canarinho. Em relação à Champions também não estão mal, com três para Alves e duas para Marcelo. Por tudo isso, em Cardiff será inevitável focalizar essa faixa de ida e volta de um contra outro. Quando se trata de laterais brasileiros com tanta qualidade, que ninguém descarte que boa parte do partido gravite aos pés deles. No Brasil a colheita é tão abundante que dá no mesmo que tenham nascido na Bahia (Alves), no Rio de Janeiro (Marcelo), em Minas Gerais (Danilo) ou no Estado de São Paulo (Alex Sandro). Não há posição menos lateral quando o lateral é brasileiro. E muito menos quando se trata de Daniel Alves e Marcelo, de Marcelo e Daniel Alves. Tantas vezes juntos e tantas vezes em lados opostos.
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