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Temer admite “crise política de proporção ainda não dimensionada”

O presidente reconhece as dificuldades para o Governo mas afirma que não vai renunciar: "Demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos"

Xosé Hermida
O presidente Temer, durante a leitura do seu pronunciamento no Planalto.
O presidente Temer, durante a leitura do seu pronunciamento no Planalto.Igo Estrela (Getty Images)
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O presidente Michel Temer promete que vai resistir, que vai lutar para demonstrar a sua inocência perante o Supremo Tribunal Federal, apesar de que ele mesmo reconhece que o Brasil enfrenta ao "fantasma de uma crise política de proporção ainda não dimensionada". Temer admite que está em risco "todo o imenso esforço de retirar o pais da sua maior recessão". Porém ele vai continuar, segundo anunciou no pronunciamento feito na tarde desta quarta-feira no Palácio do Planalto, para "não jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do país". "Não renunciarei", disse com tom muito enérgico. E, se por acaso ficava alguma dúvida, acrescentou: "Repito, não renunciarei. Sei o que fiz. Sei da posição dos meus atos".

Temer tinha começado o dia com uma reunião, já agendada desde há um mês, com um grupo de parlamentares do Acre, com os que comentou que se sente vítima de uma "conspiração", segundo relatou o senador do PSB Sergio Petecão, presente no encontro. Com o país todo falando da comprometedora gravação da conversa do presidente como um dos donos da JBS, Temer suspendeu a sua agenda pública, enquanto a bolsa de São Paulo despencava e começavam as especulações sobre o futuro político do peemedebista. 

A expectativa era máxima quando o Planalto anunciou um pronunciamento público do presidente para as 16 horas. O STF já tinha confirmado a autorização para a abertura oficial de um inquérito a Temer. Os boatos falavam de uma possível renúncia. Temer apareceu ante a imprensa com rosto sério, algumas mostras de nervosismo, mas um tom muito firme, que o levou até mesmo a elevar a voz em alguns momentos do seu pronunciamento, lido ao longo de 4,30 minutos. E ficou bem claro que ele vai lutar até o fim por manter o cargo e limpar o seu nome.

O presidente explicou que não tinha comparecido antes porque tentou que o STF lhe permitisse conhecer a gravação comprometedora mas a Justiça não respondeu a sua solicitude. O Governo vinha de comemorar o seu primeiro ano de mandato e alguns dados econômicos positivos nos últimos dias lembrados pelo presidente ao começo da sua mensagem. Foi, resumiu Temer, a semana na que coincidiram "o melhor e o pior momento do Governo". O melhor, "a queda de inflação, o retorno do crescimento da economia e os dados de geração de emprego", um clima no que, segundo o presidente, "o otimismo retornava e as reformas avançavam no Congresso". Nessa paisagem quase feliz desenhada pelo presidente surgiu a bomba, a revelação da conversa "gravada clandestinamente" com Joesley Batista, o proprietário  da JBS. E isso "trouxe de volta o fantasma da crise política", disse Temer, esquecendo os estragos que a Lava Jato tem provocado nas últimas semanas no seu Governo, com oito ministros investigados pelo STF, e até depoimentos de delatores da Odebrecht que envolvem ao próprio presidente.

Temer nem proferiu os nomes de Batista e Eduardo Cunha. Não negou que tivesse recebido ao dono da JBS, mas disse que o único que ele fez foi "ouvir o relato do empresário" de que "auxiliava a família do ex-parlamentar". "Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento desse fato nessa conversa pedida pelo empresário. Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado", salientou elevando a voz. "Não comprei o silêncio de ninguém por uma razão singelíssima, exata e precisamente porque não temo nenhuma delação".

Com uma atitude desafiante, o presidente reclamou ao STF que seja célere na sua atuação. "Esta situação de dubiedade, de dúvida, não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução", assinalou. Não houve possibilidade de perguntas dos jornalistas e o presidente anunciou que o STF "será território onde surgirão todas as explicações".

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