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Estagnação econômica marca nova era política na França

Hollande deixa um cenário de crescimento econômico estagnado e declínio industrial acelerado

Álex Vicente
Apoiadores de Emmanuel Macron.
Apoiadores de Emmanuel Macron.Emilio Morenatti (AP)

François Hollande deixará para o seu sucessor, neste domingo, um cenário econômico estagnado. O crescimento continua baixo e o declínio industrial se acelera. A curva do desemprego não se inverteu o quanto se esperava, enquanto a dívida pública se aproxima dos 100% do PIB. As receitas de Emmanuel Macron e de Marine Le Pen parecem opostas entre si. O primeiro defende uma redução dos gastos públicos. A segunda advogado um protecionismo maior e uma retirada parcial do euro.

O desafio do próximo presidente será de pôr um fim ao que muitos consideram um declínio já excessivamente longo. Segundo dados do Governo francês, o PIB subiu apenas 1,1% em 2016 e só registra dois anos acima de 1%, depois de sofrer as consequências da crise e o aumento da pressão fiscal implementado no final do mandato de Nicolas Sarkozy e no início do de Hollande.

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A tímida melhora ocorrida desde 2015 não impede que a França continue a registrar resultados inferiores à média dos países da zona do euro. A previsão de crescimento do Banco Central francês para este ano é de 1,3%, dois décimos abaixo da do Governo. Em 2016, o consumo e o investimento melhoraram, mas exportações e importações sofreram uma contenção considerável. A dívida pública atinge 98% do PIB e há três anos vem sendo superior a dois trilhões de euros.

Em 2002, o ensaísta Nicolas Baverez, defensor de um aggiornamento liberal, lançou um influente livro, A França em declínio, em que descrevia “um país embriagado pelo mito da revolução, que cultiva o repúdio à reforma”. Baverez propunha “uma modernização alternativa” sob a forma de uma “terapia de choque”. Passados quinze anos, seu diagnóstico é de que nenhum dirigente adotou as medidas necessárias para sair do impasse. “A França vive uma situação mais difícil do que nunca”, diz. “Tradicionalmente, os resultados franceses vinham sendo melhores do que a média da zona do euro. Agora, ela está na lanterninha”. Os números parecem lhe dar razão. O desemprego está em 9,8%, abaixo do de outras regiões do continente, porém muito acima da média de 8% dos países do euro.

Para Baverez, o candidato centrista oferece as soluções adequadas. “Os eixos do projeto de Macron são a melhoria na massa produtiva, a flexisegurança para os trabalhadores e uma poupança de 60 bilhões de euros até 2022. Com isso, seria possível interromper o interminável declínio iniciado nos anos 90”, explica. O economista Jacques Sapir, que inspirou uma parte da reflexão econômica do antiliberal Jean-Luc Mélenchon (e também do programa social de Marine Le Pen), concorda em dizer que se vive “uma situação difícil”. “O processo de desindustrialização é cada vez mais veloz. As fábricas são substituídas por serviços, onde os salários são inferiores. Na França, há um problema de poder aquisitivo e de competitividade industrial, que são mais baixos do que na Alemanha”, afirma Sapir, professor da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais de Paris.

Com efeito, os papéis parecem ter se invertido em relação ao parceiro alemão, que quinze anos atrás passava por uma situação complicada. Paris parece caminhar, agora, a reboque de Berlim, sem conseguir enfrentar a Alemanha, como no passado. “Ao contrário do que fez o país vizinho, a França não conseguiu recompor a sua situação econômica, mas a médio prazo a situação irá se inverter”, pondera Henri Sterdyniak, integrante do coletivo Economistas Assustados, que se opõe à ortodoxia neoliberal. “Nosso país também conta com alguns trunfos. A começar pela demografia. Aqui não se sacrificou a estrutura pública e a desigualdade cresceu menos do que nos demais países”, afirma.

Prováveis greves

Sterdyniak defende reformas estruturais, mas de outro caráter: “Seria preciso promover a transição ecológica e o pleno emprego. As reformas não precisam, necessariamente, seguir o receituário do liberalismo”. As soluções propostas por Macron implicam aceitar “as imposições europeias, a redução dos gastos públicos e o questionamento de direitos trabalhistas”. Para Sterdyniak, Macron pretende compensar a destruição dos empregos industriais com o desenvolvimento do setor de novas tecnologias, bastante promissor na França. “Mas é ilusório acreditar que a indústria tradicional poderá ser substituída em termos quantitativos. Os operários terão de admitir passar temporadas inteiras no desemprego ou então aceitar trabalhos mal pagos no setor de serviços”, diz.

As medidas defendidas por Macron também poderiam gerar greves. “Ele terá de ser corajoso e não cair no erro de querer agradar as pessoas, a ponto de abandonar o seu programa”, pensa Baverez. O programa de Le Pen, por sua vez, lhe parece mais perigoso. “Ela aposta em um franco desvalorizado para a população e que as empresas continuem usando o euro. É algo caótico”, avalia. “Além disso, quer criar uma taxa para os produtos estrangeiros. Haveria uma fuga de capitais muito significativa. O país perderia seus talentos e entraria em uma situação à grega”, resume Baverez.

Para Sapir, a candidata ultradireitista propõe um “intervencionismo tradicional” e “medidas de apoio ao poder aquisitivo e aos setores mais modestos”. O economista avalia que o programa de Le Pen é mais de esquerda. “Mas é preciso ver se foi pensado apenas para a campanha ou se seria para ser realmente aplicado. Como sempre, o diabo mora nos detalhes”.

Duas respostas a um mesmo problema

Emmanuel Macron se inspira no modelo escandinavo da flexisegurança, que tornaria as demissões menos custosas, em troca de uma proteção crescente para o trabalhador, o que exigiria mudanças na legislação trabalhista. Ele não pretende mudar a semana de trabalho de 35 horas, mas permitir que haja acordos em algumas empresas para se trabalhar mais do que isso. Aposta na redução de 60 bilhões de euros nos gastos públicos em cinco anos e defende que não sejam substituídos os 120.000 funcionários públicos que deverão se aposentar. Defende também que o país se atenha a um déficit máximo de 3%, conforme Bruxelas determina, mas que não vem sendo registrado pela França desde 2007.

Marine Le Pen, por sua vez, propõe uma renegociação da soberania do país em relação a Bruxelas e uma saída do euro, embora, mais recentemente, tenha passado a defender que as empresas continuem a trabalhar com a moeda única, enquanto as pessoas usariam o franco. Além disso, ela pretende retornar a um Estado intervencionista, reciclando algumas teses de inspiração esquerdista, como a aposentadoria aos 60 anos e a permanência da jornada semanal de 35 horas.

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