Marido da rainha Elizabeth II decide, aos 95 anos, deixar a vida pública
Funcionários dos palácios reais ingleses foram convocados durante a madrugada para uma reunião de emergência sobre o anúncio
O príncipe Philip, duque de Edimburgo e consorte da rainha Elizabeth II da Inglaterra, "decidiu que não participará mais de atos públicos" a partir de setembro, conforme anunciou o palácio de Buckingham (a residência oficial da realeza em Londres) em nota divulgada pelo Twitter na manhã desta quinta-feira. O texto acrescenta que Philip, que completa 96 anos no mês que vem, "tem total o apoio da rainha" em sua decisão. A notícia, anunciada pouco depois das 10h (hora local, 6h em Brasília), colocou fim a várias horas de especulações e incertezas, depois que um jornal britânico informou que todos os funcionários a serviço da monarquia haviam sido convocados para uma reunião de urgência no palácio.

“O príncipe Philip participará a partir de agora e até agosto dos compromissos previamente programados, tanto os individuais como na qualidade de acompanhante da rainha. A partir de então, não aceitará novos convites para visitas e compromissos, embora possa decidir ir eventualmente a certos eventos públicos”, acrescenta a nota, recordando que o príncipe-consorte é “patrono, presidente ou membro de mais de 780 organizações, das quais continuará participando, mas não terá mais um papel ativo em seus compromissos”.
“Sua majestade [Elizabeth] continuará mantendo os compromissos da sua agenda, com o apoio dos membros da Família Real”, conclui o comunicado. Em um tuíte posterior, o palácio de Buckingham acrescentou que desde 1952, quando sua esposa se tornou rainha, o príncipe “realizou 22.191 atos solitariamente”. Depois de anunciada a despedida, a primeira-ministra britânica, Theresa May, manifestou sua “mais profunda gratidão e bons desejos” ao príncipe, louvando seu apoio “constante” à monarca e seu “serviço ao país”. “É minha rocha. Tem sido minha força e meu apoio”, disse a rainha – conhecida por ser pouco inclinada a demonstrações públicas de afeto – sobre o seu marido em 2011. “Acredito que já cumpri a minha parte”, declarou o duque em entrevista à BBC também em 2011, quando completou 90 anos e anunciou que deixaria o patronato de algumas fundações.
An announcement regarding The Duke of Edinburgh. https://t.co/SF1bgo68Un pic.twitter.com/TO9mR70xTk
— The Royal Family (@RoyalFamily) May 4, 2017
Elizabeth II havia convocado em caráter urgente todos os funcionários da Casa de Windsor ao palácio de Buckingham para uma reunião na manhã desta quinta, o que motivou inúmeras especulações nos tabloides britânicos sobre o objetivo do encontro. A divulgação dessa incomum convocatória por parte do jornal Daily Mail levou várias fontes citadas por esse veículo a especularem sobre um possível anúncio a respeito da própria rainha, que acaba de completar 91 anos, ou sobre o seu marido, como afinal aconteceu.
Alguns veículos, mais afoitos, fizeram referência à monarca, a mais idosa na história do Reino Unido e a decana entre os atuais chefes de Estado do mundo, e à sua idade avançada. Recordaram ainda que o seu estado de saúde preocupou a sociedade britânica em dezembro, quando ela passou mais de 10 dias sem participar de nenhum ato público, em plena época natalina.
Os empregados das residências reais de todo o país – os funcionários dos castelos de Balmoral, na Escócia, e Windsor, nos subúrbios de Londres, e da mansão privada de Sandringham, no condado inglês do Norfolk – haviam recebido ao longo da madrugada desta quinta a ordem de se dirigirem imediatamente a Londres, onde durante a manhã ouviriam as palavras do mais graduado conselheiro da Casa Real, o Lorde Camareiro, e do secretário privado e braço direito da rainha, sir Christopher Geidt. Depois, o palácio de Buckingham divulgou o comunicado ao público.
The Warner Stand at Lord's @HomeOfCricket is officially opened by The Duke of Edinburgh 🏏 pic.twitter.com/9tMKvIAYLm
— The Royal Family (@RoyalFamily) May 3, 2017
Antes disso, o alvoroço era tamanho que várias fontes foram a público conter os rumores. “Não há motivos para o alarme”, afirmou uma fonte do palácio à agência Reuters, pedindo anonimato. O setorista da BBC para a Casa Real acrescentou que a reunião não estava relacionada com o estado de saúde da rainha ou do príncipe Philip.
A imprensa britânica relatou que reuniões desse tipo, com a convocação inclusive dos funcionários da Casa Real que estejam fora de Londres, sugeria se tratar de um anúncio que afetaria a todos eles. O Palácio de Buckingham se limitou a dizer que o Lorde Camareiro eventualmente convoca encontros gerais no palácio real. De fato, as reuniões no Buckingham são habituais, mas é muito raro que sejam convocadas no meio da madrugada.
Elizabeth II acaba de retornar ao Buckingham, sua residência oficial em Londres, depois de passar a Semana Santa no palácio de Windsor. A rainha recebeu May em audiência nesta quarta-feira para ser oficialmente informada sobre a dissolução do Parlamento e convocação de novas eleições. Essa audiência é uma mera formalidade, mas a tradição se mantém porque historicamente o chefe de Estado precisava autorizar esse passo.

Tataraneto da rainha Vitória, como a própria Elizabeth, e de ascendência alemã, o duque nasceu em 10 de junho de 1921 na ilha grega de Corfu, como príncipe da Grécia e da Dinamarca, quinto filho (único homem) da princesa Alice de Battenberg e do príncipe André da Grécia. A rainha e o seu futuro marido se conhecem desde que ela tinha 13 anos. Durante a II Guerra Mundial, a então princesa manteve correspondência com um jovem oficial naval, Philip da Dinamarca e Grécia, com quem contrairia núpcias em 20 de novembro de 1947.
There'll be a staff meeting at Buckingham Palace this morning. It's not to do with the health of either the Queen or Prince Philip.
— Peter Hunt (@_PeterHunt) May 4, 2017
Uma das melhores etapas do casal foi quando Philip foi destacado pela Marinha Britânica para servir em Valeta (Malta). Tinham apenas dois anos de casados e se instalaram no palacete de Guardamangia, onde viviam uma existência tranquila e sem excessivas obrigações. Assim foi até que a morte do rei George VI, em 1952, interrompeu essa vida pacata. No ano seguinte, uma vez finalizado o período de luto, Elizabeth II era coroada na abadia de Westminster, e o âmbito privado ficava sujeito ao dever público. O casal teve quatro filhos: Charles, Anne, Andrew e Edward.
Aos 95 anos, o príncipe conserva seu humor e ninguém dúvida que ele seja o membro mais politicamente incorreto da família real britânica. A esquerda local o tem como um racista incorrigível, incapaz de perceber que suas brincadeiras pesadas transmitem uma imagem ruim do país. Já a direita o vê como um livre-pensador, que não está nem aí para os ditames da correção política.
Apesar de suas legendárias gafes e das tensas relações que historicamente manteve com seu filho Charles, herdeiro da Coroa britânica, o duque de Edimburgo sempre contou com o apoio absoluto da sua esposa e rainha. Com sua saída da cena pública, a família perde um de seus personagens mais controvertidos.