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Moody’s adverte que caso Odebrecht afeta investimentos na América Latina

Setores de infraestrutura e energia são os mais atingidos pelo escândalo da empreiteira, segundo agência de classificação de risco

Ignacio Fariza
Escritório da Odebrecht em São Paulo.
Escritório da Odebrecht em São Paulo.EFE

O caso Odebrecht não afeta somente a confiança dos cidadãos nas instituições de meia América Latina. Segundo a agência de classificação de risco Moody’s, o enorme escândalo de corrupção com origem no Brasil e tentáculos no México, Colômbia, Argentina, Equador e Peru tem um importante impacto negativo sobre o investimento em infraestrutura e energia na região. Já prejudica empresas, Governos e bancos latino-americanos. O alerta não deve ser ignorado: juntamente com a Fitch e a Standard & Poors, a Moody’s avalia regularmente a situação de crédito das corporações públicas e privadas. E suas decisões abrem ou fecham as torneiras dos mercados de dívida.

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“Várias concessões de infraestrutura foram suspensas e precisarão ser relançadas no futuro devido ao escândalo de corrupção da Odebrecht”, diz Adrian Garza, vice-presidente da Moody’s, em nota divulgada recentemente. “As barreiras jurídicas e administrativas atrasarão esses projetos por outros 12 a 24 meses.”

O caso Odebrecht salpicou um grande número de líderes políticos latino-americanos. No Peru, obrigou a Justiça a emitir ordem de detenção contra o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) e atingiu o ex-mandatário Ollanta Humala. Na Colômbia, está a ponto de levar o presidente Juan Manuel Santos ao Conselho Nacional Eleitoral para que dê a sua versão sobre as propinas supostamente pagas pela construtora para a sua candidatura presidencial de 2014. No Brasil, provocou fissuras no mito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Por sua vez, os tribunais norte-americanos impuseram à Odebrecht a multa mais alta da história num caso de suborno: 2,6 milhões de dólares (8,3 milhões de reais).

Segundo dados da agência de classificação de risco, um importante número de projetos – de oleodutos a estruturas para a navegação interior – foi cancelado na Colômbia, Peru e Panamá, três dos países mais sacudidos pelo escândalo de corrupção da construtora brasileira. E as investigações estão em andamento no México. “As repercussões já se observam em toda a economia [da região], contribuindo para as recentes reduções das projeções de crescimento da Moody’s em vários desses países”, afirma o comunicado. “As empresas que participam desses projetos sofrem pressões no fluxo de caixa, e os bancos que emprestaram tanto às concessões como diretamente às empresas envolvidas estão enfrentando maiores riscos de ativos.”

A desaceleração ou inclusive cancelamento de muitos desses projetos freará, segundo a Moody’s, o ritmo pelo qual os países da região solucionam a brecha de infraestrutura em relação às nações ricas – o que também afeta o crescimento econômico. “Mesmo antes de o escândalo da Odebrecht vir à tona, o investimento em infraestrutura na América Latina já era insuficiente [...]. Os cancelamentos de projetos agravam os problemas que os desenvolvedores de infraestrutura já enfrentam, incluindo crescimento econômico lento em boa parte da região, pressões fiscais que limitam o investimento público e riscos de taxas de interesse e de moeda.”

Por outro lado, o especialista Moody’s é mais otimista quanto ao longo prazo. “O escândalo jogou luz sobre um grande desafio e levará a região a reforçar seus procedimentos contra a corrupção”, afirma. “Todos os projetos de infraestrutura se beneficiarão com as implicações positivas associadas à maior transparência.” Para que isso aconteça, é necessário que seja plenamente revelado um enorme caso de corrupção do qual até agora só se conhece uma pequena parte.

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