Festival ‘É Tudo Verdade’: os filmes que você tem que assistir
22ª edição do festival, que acontece no Rio de Janeiro e São Paulo, tem 82 títulos, de 30 países
Em ano em que pós-verdade e fake news viraram termos correntes, nada mais apropriado do que aproveitar o festival É Tudo Verdade, dedicado a documentários. “Contra a confusão que desumaniza, nada melhor do que o olhar original sobre a realidade de um cineasta com sua câmara”, disse o fundador e diretor do festival Amir Labaki. Este ano, na 22ª edição do festival, que acontece em diferentes salas de cinema de São Paulo e Rio de Janeiro, o EL PAÍS fez uma seleção de sete filmes, entre os 82 títulos, de 30 países, que estarão em exibição do dia 20 ao 30 de abril.
Cidades Fantasmas (Brasil), de Tyrell Spencer
Às margens do Rio Tapajós, no meio da floresta Amazônica, o magnata Henry Ford fundou sua Fordlândia, no final dos anos 1920: uma cidade autossustentável destinada a produzir borracha para as indústrias Ford. Os trabalhadores, no meio da selva, no estado do Pará, usavam crachás, comiam hambúrgueres e eram submetidos a um regime de trabalho essencialmente americano. Não deu certo. As seringueiras, plantadas sem conhecimento do terreno local, foram dizimadas por uma praga e em 1945 o projeto foi encerrado. O documentário Cidades Fantasmas, do diretor Tyrell Spencer, fala sobre essa e outras cidades latino-americanas que viveram momentos de prosperidade e depois decaíram.
Mexeu com Uma, Mexeu com Todas (Brasil), de Sandra Werneck
O documentário de Sandra Werneck não podia ser mais atual. Coisa de duas semanas atrás, uma mobilização de funcionárias da TV Globo, que usaram uma camiseta com a mesma frase (Mexeu com uma, mexeu com todas), resultou no afastamento do ator José Mayer, acusado de assédio sexual durante as filmagens de uma novela. O filme de Werneck fala justamente sobre isso: mulheres e suas histórias de violências, assédios e abusos sofridos. Falar, expor, sair da invisibilidade, transformou-se na grande pauta feminista dos últimos anos. Mudanças sutis e nem tão sutis, como o afastamento do ator, já são percebidas como resultado dessas mobilizações. O documentário é mais uma oportunidade de pensar e repensar questões de gênero e violência contra mulher.
No exílio: um filme de família (México), de Juan Francisco Urrusti
A Espanha convulsionada pela Guerra Civil Espanhola e a promessa de uma nova vida no México, presidido por um dos políticos de esquerda mais lendários do país, Juan Francisco Urrusti. Essa é a história de família que o cineasta Juan Francisco Urrusti, mexicano, contra em seu documentário. Através do retrato do percurso familiar, o filme fala sobre um período histórico determinado e seus desdobramentos na Espanha e na América Latina.
Relações Próximas (Letônia/Alemanha/Estônia/Ucrânia), de Vitaly Mansky
Depois de filmar o cotidiano do país mais fechado do mundo, a Coreia do Norte, no documentário Sob o Sol, de 2016, o cineasta Vitaly Mansky aborda agora a situação política da Ucrânia. Dividido entre as influências da Rússia, União Europeia e pretensões nacionalistas, o país vive em turbulência desde 2013. Para tratar do tema, Mansky vai atrás de suas próprias raízes, visitando e entrevistando uma série de parentes ucranianos que vivem em regiões distintas.
O Show da Guerra (Dinamarca/Noruega/Síria), de Andreas Dalsgaard e Obaidah Zytoon
A guerra na Síria já tem seis anos e a resolução do conflito, por vezes, parece cada vez mais distante. A origem da guerra civil, em 2011, está atrelada ao que se convencionou chamar de Primavera Árabe – quando uma série de países de população árabe viveu levantes contra ditadores longevos. É este estopim sírio que foi registrado pela radialista DJ Obaidah Zytoon e seus amigos com câmeras e celulares. Ao sair do país em 2013, ela levou consigo mais de 200 horas de filmagens que hoje compõe o documentário.
O Esquecimento (Im)possível (Argentina/Brasil/México), de Andrés Habegger
A América Latina e seus desaparecidos. O tema é recorrente e inesgotável. Não à toa. Estima-se que só na Argentina esse número chegue a 30 mil pessoas. É a busca por seu pai desaparecido, o jornalista e militante de esquerda Norberto Habegger, que o cineasta retrata no documentário. Para isso, ele visita memórias e diários de infância em uma busca que sempre acaba por leva-lo ao último local em que seu pai foi visto: Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, em 1978.
No Intenso Agora (Brasil), de João Moreira Salles
São filmagens feitas pela mãe do cineasta em uma viagem à China, em 1966, que dão o fio condutor para o cineasta falar sobre maio de 1968. No documentário, João Moreira Salles visita tanto a si mesmo, como em seu documentário Santiago, de 2007, como um dos períodos históricos mais conhecidos do século 20. Estão no filme, narrado pelo documentarista, o movimento estudantil em Paris, a Primavera de Praga e a promulgação do AI-5, que marcou o início do período mais duro da Ditadura Militar brasileira. Em entrevista ao EL PAÍS, o cineasta disse que o filme “é um ensaio sobre 1968, claro, mas também é um ensaio sobre a natureza das imagens e por que elas são feitas”.
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