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Testemunha do atentado de Estocolmo: “Gritei para o motorista parar, mas ele parecia um robô”

Pavel, funcionário de um hotel próximo ao local do atentado em Estocolmo, descreve o horror do atropelamento que matou quatro pessoas

Serviços de emergência trabalham no local do incidente, em Estocolmo.
Serviços de emergência trabalham no local do incidente, em Estocolmo.Michael Campanella (Getty Images)
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Pavel lembra perfeitamente do momento em que o enorme caminhão azulado que um terrorista de Estocolmo usou como arma entrou na Drottninggatan, uma das ruas comerciais de maior tráfego de pedestres da capital da Suécia. “Investiu com toda força contra os leões de concreto que fecham o acesso à parte alta da rua. Como o motorista não conseguia afastá-los, acelerou mais. Então gritei ‘Mas o que está fazendo! Pare!’, mas ele era como um robô”, relata este polonês, que está há oito anos em Estocolmo e trabalha num hotel a poucos metros do atropelamento mortal. “O sujeito estava agarrado ao volante com o olhar fixo na frente. Não via mais nada. Ia fazer o que queria fazer. E conseguiu passar”, conta.

A imagem do suspeito divulgada pela polícia.
A imagem do suspeito divulgada pela polícia.

“Acho que estava de capuz preto, a questão é que não vi seu rosto. Acho que não tinha percebido que estava com o freio de mão puxado, e um dos três eixos do caminhão ia derrapando no asfalto”, diz Pavel, fumando, lacônico, a poucos metros de onde o pesado veículo começou seu percurso letal. “Por isso há todas essas marcas pretas sobre o chão”, afirma, apontando para as manchas escuras que mostram o trajeto do caminhão.

Pavel faz a descrição cruenta do atropelamento de sexta-feira. “Quando conseguiu acelerar um pouco, e acho que imaginando que não conseguiria superar o par seguinte de leões, avançou uns dez metros, virou para a esquerda até Wallingatan e bateu num pequeno Toyota estacionado do lado esquerdo. Falei a um sueco para por favor chamar a polícia. E então vi o caminhão entrando em Drottninggatan outra vez na altura da 7Eleven. E aí você sabe o que aconteceu”, diz. Pavel acha que nesse ponto o caminhão, de uma empresa de bebidas, que o terrorista tinha roubado naquela manhã, já estivesse com o freio de mão liberado. Por isso, afirma, conseguiu ir mais rápido e fez a primeira vítima. Matou quatro e feriu gravemente outras 15 pessoas, dez das quais ainda internadas em estado grave.

No fim da tarde de sexta-feira a polícia prendeu o suposto agressor a 40 quilômetros do local do atropelamento, de onde fugiu imediatamente, após bater o caminhão na fachada de lojas. É um cidadão usbeque, de 39 anos, conhecido pelos serviços de investigação, segundo revelou a polícia no sábado de manhã. As autoridades encontraram também, sob o banco do motorista, um objeto suspeito, que está sendo analisado. “É um objeto tecnológico que não deveria estar lá. Não posso dizer neste momento se se trata de uma bomba ou algum tipo de elemento inflamável”, informou o chefe da polícia sueca, Dan Eliasson, em entrevista coletiva.

Pavel acha que o agressor conhecia a topografia da região, por onde entrar e por onde ir mais rápido. “Se tivesse escolhido outro percurso, entrando pelo lado direito, não teria conseguido entrar com tanta velocidade. Aqui nesta parte havia muitas pessoas, mas não atropelou ninguém. Foram para os lados”, afirma.

Depois de ver como o caminhão investia contra a multidão, Pavel foi rua abaixo. Descreve como muitas pessoas estavam em choque. “Não consegui ajudar ninguém. Não sabia o que fazer”, reconhece, enquanto indica um lugar no chão em que um cobertor laranja ficou abandonado. “Foi aqui que tentaram reanimar as primeiras vítimas”, conta.

O primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, presta condolências no local do atentado de Estocolmo, neste sábado.
O primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, presta condolências no local do atentado de Estocolmo, neste sábado.REUTERS

Uma das pessoas que foram ajudar é Mila, uma sérvia dona do Muffin Bakery, um tranquilo café que vende bolinhos de todas as cores. “De repente passou o caminhão a toda velocidade. Saí correndo e a poucos metros vi duas mulheres que tinham sido atropeladas. Uma delas sangrava muito. Havia um motorista que se identificou como médico e saiu do café em frente. Peguei almofadas e cobertores, tudo que tínhamos. Tudo aconteceu tão rápido, e estava tudo branco, cheio de pó que o caminhão tinha levantado com sua velocidade. Estava tão rápido!”, relata.

“Parecia que tudo demorava uma eternidade”, explica com a voz embargada essa mulher, que mora em cima de sua loja. “Tudo ficou lento até chegarem as ambulâncias. Nem sei o que as outras pessoas faziam. Me concentrei em cuidar das mulheres, de uns 70 anos. Fiquei com elas”, prossegue. Não consegue tirar os rostos da cabeça. “Lembro que peguei os óculos de uma delas e pus no bolso. Sangrava muito e estava de olhos fechados o tempo todo. A outra, que não sangrava tanto, abria os olhos de vez em quando e observava completamente em silêncio, com o olhar de uma criança pequena. Não havia muito mais que pudesse fazer”, diz Mila, que está na Suécia desde 1975 e considera o país sua casa. “Tinha lido que seria questão de tempo que acontecesse algo assim, mas achava realmente que nunca aconteceria aqui.”

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