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Correa admite segundo turno no Equador e avisa: “Lutaremos contra a direita mundial”

Presidente do Equador diz que se seu candidato perder ele antecipará sua volta da Bélgica

O presidente do Equador, Rafael Correa, numa entrevista coletiva em Quito, na quarta-feira.
O presidente do Equador, Rafael Correa, numa entrevista coletiva em Quito, na quarta-feira. MARIANA BAZO (REUTERS)

O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou, nesta quarta-feira, que não terá problemas em voltar à linha de frente da política se a oposição vencer o segundo turno da eleição presidencial. O mandatário equatoriano pretende deixar o país para se instalar na Bélgica após uma década no poder. Mas deixou claro que não descarta regressar se o projeto de seu candidato, Lenín Moreno, não triunfar no segundo turno, previsto para 2 de abril. Faria isso, disse ele, para “não perder o que conseguimos”.

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“Se a oposição ganhar, provavelmente precisarei voltar mais cedo e estar no momento histórico necessário”, afirmou Correa. O pai da chamada revolução cidadã manteve um encontro com correspondentes internacionais no palácio presidencial, em Quito. E admitiu que, segundo seus cálculos, com mais de 98,5% dos votos apurados, os equatorianos voltarão às urnas. Frente a esse cenário, ele quis lançar algumas mensagens. Em primeiro lugar, mostrou-se convencido de que fará o seu sucessor ante o conservador Guillermo Lasso, que busca agora aproveitar o voto dos demais líderes opositores e já conseguiu o apoio de Cynthia Viteri, candidata do Partido Social Cristão. “Estamos felizes por ter ganhado com mais de um milhão [de votos]. Se eles estão felizes por ter conseguido o segundo turno, que esperem. Voltaremos a derrotá-los em abril”, afirmou.

Em segundo lugar, Correa empenhou-se em desqualificar Lasso, candidato do movimento Criando Oportunidades (CREO) e ex-presidente do Banco de Guayaquil. “Chegou uma nova direita, troglodita, totalmente entregue ao norte”, disse. Chegou a comparar a próxima disputa eleitoral com a Batalha de Stalingrado. “Lutaremos contra a direita mundial”, anunciou. “Haverá centenas de milhões de dólares”, prosseguiu, em referência aos interesses em jogo e ao respaldo internacional à oposição, “mas já enfrentamos esse tipo de cenário e vencemos.”

Em terceiro lugar, o presidente admitiu que uma vitória da oposição precipitaria sua volta. “Dentro de um ano, vocês poderiam me ver aqui de novo”, respondeu, quando lhe perguntaram sobre essa hipótese. Também se referiu a uma medida prevista na Constituição do Equador, conhecida como “morte cruzada”, pela qual o presidente pode dissolver o Congresso e governar por decreto até a realização de novas eleições. Se Lasso governar, provavelmente terá um Parlamento no qual a situação perderia poder mas conservaria a maioria absoluta. Essa circunstância poderia conduzir ao bloqueio. No caso de eleições antecipadas, portanto, Correa deixou a porta aberta para o seu regresso.

“Minha intenção, depois de terminar o mandato, é morar alguns anos na Bélgica. É muito desagradável não ter vida privada”

Por que o líder do Movimento Aliança PAÍS deu um passo atrás? Fez isso após o desgaste dos últimos anos e a recessão de 2016, mas negou que tenha sido assim. Disse que a decisão respondeu a uma reflexão sobre sua vida pessoal, vinculando o percalço de seu partido a uma conjuntura histórica. “São tempos difíceis para os bons progressistas. São momentos duros, mas não terríveis”, ponderou. “Minha intenção, depois de terminar o mandato, é morar alguns anos na Bélgica”, o país de origem de sua esposa. “É muito desagradável não ter vida privada. Os insultos, as ameaças... Somos pessoas decentes e ficamos incomodados com essas coisas.” Disse que deve “alguns anos de paz e tranquilidade” à família.

Apesar das suas advertências, Correia negou estar por trás das decisões de seu antigo vice, uma figura com menor popularidade e projeção. “Outra campanha suja é: ‘Lenín na Presidência, Correa no poder’”, afirmou. Dono de uma personalidade diferente e muito mais explosiva que a do candidato da Aliança PAÍS, Correa reconheceu que o Equador encara uma mudança ao menos na forma de fazer política. Isso já ficou evidente, segundo os analistas, durante a campanha eleitoral de baixo perfil, na qual Moreno tentou construir um jeito próprio e se distanciou do legado de Correa. O presidente afirmou: “Também acredito que seja necessária uma mudança de estilo na condução, com a revolução cidadã, mas que não polarize tanto por sua forma de ser.” E definiu: “Sinto que precisamos de uma pessoa que polarize menos. E a pessoa adequada é Lenín Moreno”. Logo em seguida, contudo, aventou uma dura confrontação com os partidos opositores: “Se perdermos, a polarização continuará", concluiu.

CRÍTICAS AO TRIBUNAL ELEITORAL

O presidente do Equador, Rafael Correa, criticou o método usado pelo Tribunal Eleitoral do país para divulgar, desde a noite de domingo, os resultados parciais da eleição. Segundo ele, a difusão dos dados – que sempre situaram o candidato do presidente à beira do segundo turno – deu margem a suspeitas de fraude por parte da oposição. “Montaram todo esse show de uma suposta fraude”, disse, “quando o certo é começar com uma amostra realmente aleatória, o que não aconteceu.” Segundo Correa, o resultado não será alterado, o sistema favoreceu o discurso dos opositores.

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