Rafael Correa se despede atacando a “mentalidade colonialista”
Equador elege novo presidente sem observadores da UE e em clima de mudança
Neste domingo, o Equador decide quem será o seu próximo presidente num clima de fim de ciclo, após dez anos do Governo de Rafael Correa. Lenín Moreno, ex-vice-presidente e candidato de seu partido, o Movimento Alianza PAÍS, é o favorito segundo as pesquisas, mas não tem a vitória garantida no primeiro turno ante o rival, o conservador Guillermo Lasso. Correa aproveitou o discurso no ato de inauguração do processo eleitoral, realizado no museu Templo de la Patria, em Quito, para atacar o que chamou de “mentalidade colonialista” de alguns políticos estrangeiros.
As eleições são realizadas sem a presença de missões de observadores da União Europeia (UE), o que tornou o Governo do Equador alvo de críticas de representantes da oposição e de observadores não oficiais. Correa se referiu concretamente às declarações do senador espanhol Dionisio García, do Partido Popular, que considerou um “gesto ruim” a rejeição do país à presença da UE na votação.
“Um senador espanhol que se encontra em nosso país, de maneira muito descortês, disse que é um gesto ruim não ter aceitado uma missão de observação da União Europeia. Eu me pergunto quantas vezes a União Europeia aceitou, em suas eleições, a presença de observadores latino-americanos”, afirmou o presidente, que governou o Equador durante uma década com um estilo muito beligerante contra os adversários e decidiu não optar pela reeleição. “É uma pena”, prosseguiu, “que alguns ainda não consigam superar sua mentalidade colonialista.” Correa criticou também a presença no país da ex-funcionária do Tribunal Eleitoral da Venezuela Ana Mercedes Días, que em 2004 denunciou fraude eleitoral e que, em suas palavras, “se autodesignou observadora independente”. “Isso deve ser rechaçado”, disse.
Dionisio García, senador por Zamora, pertence a um partido muito próximo a Lasso e ao seu movimento Criando Oportunidades (CREO). Havia declarado ao jornal Expresso: “Creio que [Correa] não acertou ao se negar. Foi um gesto ruim, gera desconfiança. Se as eleições são limpas e transparentes, por que não quer a nossa presença?” O Equador aceitou missões da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), presidida pelo uruguaio José Mujica.
De todo jeito, essa troca de acusações reflete a elevada polarização que domina a política equatoriana nos últimos anos. Moreno, o candidato da situação, tem um estilo diferente do de Correa. Por isso, os especialistas consideram que, se vencer as eleições, ele abrirá uma nova etapa na qual, para governar, deverá manter um diálogo constante com a oposição numa Assembleia previsivelmente fragmentada. “Fico contente que tenhamos ganhado experiência e consciência democrática”, declarou Moreno ao votar.
Por sua vez, os candidatos opositores estão convencidos de que haverá segundo turno. O apoio que as pesquisas conferem a Moreno, entre 30% e 35% dos votos, é insuficiente para a vitória no primeiro turno. Para isso, ele precisaria obter 40% dos votos e superar o segundo colocado em mais de 10%. Esses dados indicam um panorama incerto sobre o comportamento dos eleitores da oposição a partir de segunda-feira. E também sobre o que poderá ocorrer no desempate, que ocorreria em 2 de abril.
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