No velório de dona Marisa, entre a comoção e a política
Apoiadores do ex-presidente Lula começaram a chegar de madrugada para acompanhar a despedida de sua mulher, morta por um Acidente Vascular Cerebral nesta sexta
Ainda era madrugada quando três amigos de Sorocaba chegaram à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde o corpo de Marisa Letícia Lula da Silva chegaria às 9h deste sábado. Foram os primeiros. Horas depois, centenas de apoiadores do ex-presidente Lula já faziam uma fila ordeira no porta do local, na expectativa de poder dar um abraço nele. "O Lula é o Lula", explicava Luciano Gonçalves Porto, 34, um dos sorocabanos que deixou sua cidade às 23h desta sexta-feira rumo à Grande São Paulo. "Foi uma perda grande. Marisa foi uma batalhadora que lutou muito pelos direitos das mulheres", descrevia a professora Marluce Gonçalves Cardoso, 61 anos, também no início da fila. A ex-primeira-dama morreu no final da tarde desta sexta-feira, depois de ficar internada por dez dias devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Do lado de dentro do prédio, desde pouco antes das 9h Lula recebia familiares e amigos no salão do sindicato, onde ele iniciou sua carreira política como líder de greves históricas no final da década de 1970. Foi ali também que ele conheceu sua "galega", a mulher que viria a ser sua companheira pelos próximos 43 anos, quando ela foi ao local buscar um carimbo para poder retirar a pensão do primeiro marido, morto em uma tentativa de assalto anos antes. Por volta de 10h30, imprensa e público foram autorizados a entrar. Abaixo de uma foto gigante em preto e branco que retratava o casal, Lula abraçou grande parte dos que esperavam, um a um. Muitos dos populares deixavam o local chorando.
O velório da ex-primeira-dama também serviu de espaço para desabafo de petistas. "Essa morte prematura está muito ligada a esse clima de ódio que existe no país", afirmava Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e amigo de Lula. Referia-se ao turbilhão da Operação Lava Jato, que, há quatro meses, tornou a ex-primeira-dama ré em duas investigações, ao lado do marido. Era acusada de, com Lula, ocultar um tríplex no Guarujá, que teria sido reformado pela construtora OAS, e também de ter sido beneficiada pela compra de um apartamento em São Bernardo do Campo, pela Odebrecht, mas que não estão, oficialmente, em nome deles. Ela ainda é citada em investigações relacionadas a um sítio em Atibaia, para o qual teria comprado dois pedalinhos, de 5.600 reais no total. "Não é exagero dizer que mataram dona Marisa", dizia, taxativo, o senador Lindbergh Farias. "Ela foi vítima de uma perseguição infame". O senador fez questão de destacar que o partido continuaria a fazer oposição ao presidente Michel Temer, pese a visita feita por ele a Lula, no hospital Sirio-Libanês, onde Marisa Letícia estava internada.
Mais positivo, o vereador petista Eduardo Suplicy dizia acreditar que a morte da ex-primeira-dama poderia servir para pacificar o país. Ele destacou que o ex-presidente Lula se colocou à disposição de Temer para ajudá-lo, se preciso. "Neste momento de desavenças tão profundas, a morte de dona Marisa criou essa vontade de se conversar sobre o Brasil", destacou o ex-senador.
Mas o ex-presidente aproveitou seu discurso emotivo, em frente ao caixão da mulher, para acusar seus oponentes de perseguição. "Dona Marisa morreu triste com a maldade que fizeram com ela", afirmou. "Que os fascistas que fizeram isso com ela tenham coragem de pedir desculpas", afirmou, enquanto fazia pausas para beijar o rosto da mulher. "Não sou eu quem tenho que provar que sou inocente. Eles que vão ter que parar com as mentiras. Descanse em paz, que seu lulinha paz e amor vai continuar brigando", concluiu para depois cair em lágrimas novamente.
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