_
_
_
_

Deputados britânicos dão primeiro aval ao início do ‘Brexit’

Câmara dos Comuns dá o primeiro passo rumo à aprovação da legislação pela saída do bloco

Pablo Guimón

A Câmara dos Comuns (do Parlamento britânico) autorizou nesta quarta-feira, por 498 votos a favor e 114 contra, que a primeira-ministra britânica ative o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, em uma votação histórica depois de dois dias de debate. Theresa May ultrapassa assim o primeiro passo da verificação parlamentar, uma exigência do Supremo Tribunal britânico para que o processo do Brexit seja iniciado. Os planos da primeira-ministra eram manter o Parlamento, potencialmente perigoso por sua inclinação à permanência, longe do processo de saída do bloco.

A Câmara dos Comuns, durante a votação do 'Brexit'.
A Câmara dos Comuns, durante a votação do 'Brexit'.AFP

A votação abre uma nova crise na oposição trabalhista: 47 de seus 229 legisladores votaram contra o Brexit, desafiando seu líder, Jeremy Corbyn, que embora seja contra o abandono do bloco europeu, orientou o partido a seguir a decisão da população e a votar pelo Brexit. E outros três deputados pediram demissão da equipe de oposição. O debate dramatizou o dilema que enfrentam alguns legisladores que estão dispostos a fazer valer a decisão do referendo com o qual muitos não concordam.

Mais informações
EDITORIAL: Um ‘Brexit’ extremista
Corbyn faz um giro a favor do ‘Brexit’
‘Pokestop’, ‘Brexit’ e ‘pós-verdade’: as palavras de 2016

Os deputados se pronunciavam sobre um projeto de lei, de formulação concisa, pedindo permissão para que a primeira-ministra notificasse a seus sócios, nos termos do artigo 50 do Tratado de Lisboa, a vontade do Reino Unido de abandonar a UE e formalmente iniciar a saída.

Procurava apelar ao dilema que enfrentam muitos deputados: a maioria é contra o Brexit, mas os cidadãos que eles representam votaram em junho, por 52% contra 48%, a favor de deixar a UE. O dilema afeta muitos deputados do Partido Conservador, no qual a questão europeia sempre foi mais divisionista, mas a grande maioria seguiu a disciplina do voto. É no opositor Partido Trabalhista que a votação, porém, pode ter efeitos mais destrutivos.

Apesar de submeter ao Parlamento a proposta de lei sobre a saída do bloco, o Governo deixou claro que o Brexit vai avançar, mesmo que as duas Câmaras votem contra o acordo

Corbyn obrigou seus deputados a respeitar o resultado do referendo – no qual ele mesmo defendeu a permanência – e votar a favor do projeto de lei. Com uma ameaça de rebelião, impôs aos seus legisladores o nível máximo de disciplina de voto. Pouco antes da votação, dois deputados apresentaram sua renúncia da equipe de oposição de Corbyn, somando-se a outro que já tinha feito antes. “É uma decisão muito difícil para o trabalhismo”, explica o porta-voz Keir Starner, porta-voz do Brexit no partido. “Dois terços dos nossos deputados representam áreas que votaram a favor do Brexit. Aqueles que pedem para ficarmos com os 48% que votaram pela permanência, pedem que abandonemos nosso eleitorado”.

A decisão do Partido Trabalhista de não bloquear o Brexit, apesar dos rebeldes, garantia a maioria favorável na votação desta quarta-feira. Um total de 47 dos seus 229 deputados votaram contra a ativação do artigo 50. A eles devem ser somados os 54 legisladores do nacionalismo escocês, oito dos nove liberais democratas e alguns outros de partidos minoritários. No total, 114 deputados, quase um sexto da Câmara.

Com quase uma centena de pedidos de palavra, o histórico debate de dois dias na Câmara dos Comuns teve de ser prolongado, na terça-feira, até a meia-noite, antes da retomada na manhã de quarta-feira. George Osborne, ex-ministro de Economia e homem forte do Governo de David Cameron agora relegado ao fundo da bancada conservadora, deu voz aos sentimentos de muitos deputados: tendo defendido com paixão a permanência, advertiu que, se o Parlamento votasse contra a ativação do artigo 50 iria desencadear uma “crise constitucional profunda” e “afastaria mais as pessoas que já se sentem alienadas”. Mas criticou que o Governo de May, sua ex-colega de Gabinete, tenha decidido “não transformar a economia em sua prioridade”, preferindo se concentrar no controle da imigração.

Os planos da primeira-ministra eram manter o Parlamento, potencialmente perigoso por sua inclinação à permanência, longe do processo do Brexit

Às sete da noite, hora de Londres, os deputados desfilaram pelos chamados “corredores da divisão”, o do sim e o do não, que rodeiam a Câmara e servem para registrar o voto. Theresa May supera a primeira fase do processo de escrutínio parlamentar ao qual foi forçada pela Supremo Tribunal com sua decisão histórica há uma semana. Mas mesmo antes de o Supremo ter confirmado a sentença de primeira instância, May quis aplacar a ira e anunciou, ao apresentar em 17 de janeiro seu plano para uma saída limpa e dura da UE, que iria submeter à votação nas duas Câmaras, o acordo de ruptura com a UE a ser alcançado no final do período de dois anos de negociação. Mas também deixou claro que o Brexit vai avançar, mesmo que as duas Câmaras votem contra o acordo. “Que não haja acordo é melhor que um mau acordo”, disse May.

Na quinta-feira, o Governo vai apresentar na Câmara o documento definindo sua postura negociadora, algo que a primeira-ministra se comprometeu a fazer sob pressão dos deputados de todos os partidos. Na próxima semana, serão debatidas as emendas apresentadas pelos deputados e o projeto de lei vai para a Câmara dos Lordes. A primeira-ministra espera ter a legislação aprovada a tempo de cumprir sua promessa de ativar o artigo 50 antes do final de março.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_