Eike Batista é preso pela PF no Rio após três dias foragido
Acusado de irrigar o suposto esquema corrupto do ex-governador do Rio, o empresário afirma: "Vou contar como são as coisas"
Após três dias considerado foragido, o empresário Eike Batista, aquele que já foi o homem mais rico do Brasil, foi preso pela Polícia Federal no aeroporto internacional do Rio na manhã desta segunda-feira. Eike estava em Nova York e é alvo da Operação Eficiência, um desmembramento da Operação Lava Jato no Rio, acusado de ter irrigado o suposto esquema de corrupção do ex-governador do Rio Sergio Cabral, preso desde novembro. Os advogados do empresário negociavam sua entrega às autoridades policiais brasileiras desde quinta-feira, quando a Polícia Federal tentou executar o pedido de prisão preventiva. A prisão, no entanto, estava decretada desde o dia 13 deste mês.
O empresário é acusado de ter repassado em propina 16,5 milhões de dólares (mais de 52 milhões de reais) ao ex-governador Cabral através de uma conta estrangeira a nome de terceiros. A operação ainda foi disfarçada de legalidade ao ser firmado um contrato de fachada que contemplava a compra e venda, que nunca existiu, de uma mina de ouro. A manobra financeira foi detalhada pelos supostos artífices, os irmãos Chebar, dois operadores financeiros que viraram delatores após anos facilitando o suposto esquema corrupto de Cabral. Os delatores, no entanto, conforme revela a decisão judicial, nunca trataram diretamente com Eike e sim com o braço-direito deste, Flávio Godinho. Preso na quinta, ele é vice-presidente de futebol do Flamengo e foi alto executivo do grupo EBX, grupo de empresas de Batista, que preparava sua ressurreição no mundo dos negócios com o lançamento de uma inovadora pasta de dentes.
No saguão do aeroporto de Nova York, um Eike descontraído, mas medindo cada palavra, falou com jornalistas. “Vou responder à Justiça como é meu dever”, disse o empresário ao jornal O Globo. E ainda acrescentou: “Vou contar como são as coisas, simples assim. Se foram cometidos erros, você tem que pagar pelos erros que você fez. É assim, né?”. Eike, grande e tradicional financiador de campanhas de todos os partidos, não confirmou se vai assinar um acordo de delação premiada.
O empresário foi primeiramente encaminhado ao Instituto Médico Legal e já se encontra no presídio Ary Franco, na zona norte do Rio, onde rasparam o cabelo dele e foi encaminhado para Bangu 9, uma cárcere mais nova, menos violenta e que oferece melhores condições. O lugar para onde ele ia ser transferido foi motivo de especulação e os advogados dele disseram temer pela segurança de Eike. No Rio, um dos elementos para decidir onde levar um preso ainda não condenado – além do regime ao que está submetido e se pertence a uma ou outra facção criminosa – é se ele tem diploma de curso superior. Nesses casos, os prisioneiros ocupam cela especial. Eike, que fez fortuna com a exploração mineral, reconheceu na própria biografia que não tinha concluído a faculdade de engenharia.
Há alguns meses que o nome de Eike paira nas investigações da Operação Lava Jato. Em maio do ano passado, o empresário prestou depoimento espontaneamente no Ministério Público Federal em Curitiba e envolveu o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que teve a prisão decretada — e depois revogada — pelo juiz Sergio Moro, em setembro. Eike afirmou que, em 2012, Mantega, então ministro e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, pediu um pagamento de cinco milhões de reais para quitar dívidas de campanha do Partido dos Trabalhadores (PT). O dinheiro teria sido pago através de contratos de fachada com a empresa do marqueteiro do PT, João Santana, também envolvido na Operação Lava Jato.
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