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Estado Islâmico causa “sérios danos” ao teatro de Palmira

Direção de Antiguidades e Museus da Síria confirma danos detectados em imagens de satélite

Imagens por satélite do teatro romano e do Tetrapylon de Palmira em 26 de dezembro de 2016 (E) e 10 de janeiro passado (D).
Imagens por satélite do teatro romano e do Tetrapylon de Palmira em 26 de dezembro de 2016 (E) e 10 de janeiro passado (D).UNITAR-UNOSAT
Natalia Sancha

Pela segunda vez o Estado Islâmico (EI) faz voar pelos ares parte dos templos de Palmira, declarada patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO. “Destruíram grande parte da colunata do Tetrapylon e também causaram sérios danos à fachada do teatro romano”, confirmou a EL PAÍS em Damasco Maamoun Abdulkarim, diretor geral de Antiguidades e Museus na Síria. Abdelkarim recebeu a notícia 10 dias atrás, mas só decidiu torná-la pública nesta sexta-feira, depois de receber as imagens de satélite que confirmaram seus temores. “Estamos diante de um exército de bárbaros determinado a eliminar Palmira, em sua guerra cultural. Trata-se de um patrimônio mundial e a comunidade internacional tem de assumir sua parte de responsabilidade em sua proteção. Quanto mais tempo passar em mãos do Estado Islâmico, menos restará.”

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As fotos da destruição causada foram tiradas pelo UNOSAT. “A pedido da UNESCO, analisamos o patrimônio cultural de Palmira usando imagens por satélite e podemos confirmar a destruição do Tetrapylon romano e danos no Teatro”, afirmou em um comunicado enviado nesta sexta-feira Einar Bjorgo, diretor da agência. A UNESCO condenou o que considera um “novo golpe contra o patrimônio cultural” cometido por extremistas violentos que pretendem “privar o povo sírio de seu passado e de seu futuro”. “Esta destruição é um novo crime de guerra e uma perda imensa para o povo sírio e a humanidade”, disse a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, em um comunicado.

O Estado Islâmico novamente arrasa esta jazida arqueológica romana. Em março, o Exército sírio, com o apoio da aviação russa e de milícias aliadas, conseguiu liberar Tedmur, nome da cidade em árabe, depois de 10 meses de reinado do califado. EL PAÍS pôde então visitar o sítio onde vários túmulos jaziam destruídos, bem como o milenar Templo de Baal, do qual só permaneceu em pé o pórtico, e o Arco do Triunfo, que fora explodido. Depois de avaliar os danos, Abdelkarim se mostrou otimista, estimando que 80% das joias de Palmira haviam sobrevivido à passagem do Estado Islâmico e prevendo uma rápida reconstrução do arco e do templo em poucos anos. Hoje, o arqueólogo se consola por ter posto a salvo no subsolo de Damasco grande parte das estátuas recuperadas, incluindo a danificada do Leão de Al-Lat, de 1.900 anos de antiguidade, bem como numerosos mosaicos romanos. Mas o castelo, o museu, os templos e torres funerárias correm o risco de desaparecer na passagem do EI.

As hordas de jihadistas regressaram a Palmira em dezembro, quando o grosso das tropas sírias se aglutinou em Aleppo. Os uniformizados se empenham de novo em expulsá-los do deserto. “Os combates prosseguem e estamos a 100 km da cidade”, declara em Damasco o general Samir Suleimann, porta-voz do Exército sírio. Este afirma que a última ofensiva terrorista teve sucesso graças aos reforços de pelo menos 4.000 jihadistas chegados de Mossul. A reocupação de Palmira levantou sérias dúvidas entre os soldados regulares sírios, que se perguntam como as diferentes aviações que sobrevoam o céu do país não foram capazes de detectar um comboio com dezenas de veículos atravessando uma geografia desértica e plana. Em seu avanço o Estado Islâmico se apoderou também de vários poços petrolíferos e jazidas de gás em pleno deserto, estratégicos para o abastecimento da Síria.

“Não só estão destroçando nosso país, como querem apagar nossa história. Só nos resta nosso exército para defender um patrimônio compartilhado com o restante do mundo”, se lamenta na capital síria Munir F., banqueiro originário de Aleppo. Sobre a fatura cultural deixada pelo autoproclamado califado se impõe a humana. Mais de 500 pessoas foram massacradas quando o EI entrou pela primeira vez em Palmira, incluindo o arqueólogo Khaled Asaad, de 82 anos, e diretor durante meio século da cidade histórica. Asaad foi decapitado na praça central da cidade e seus óculos colocados sobre sua cabeça. No seu retorno, os jihadistas mataram outras doze pessoas. Quatro civis, funcionários públicos e professores, foram decapitados e oito uniformizados, soldados e combatentes rebeldes, executados, segundo informou esta semana o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede em Londres.

A cidade, que possuía 100.000 habitantes (50.000 deles deslocados de outras regiões) em 2015, está agora tão deserta como as terras que a rodeiam. Tão somente um punhado de moradores se aventuraram a regressar a Palmira, situada a poucos metros das ruínas, para recair de novo sob o reino do Estado Islâmico. Entre as ruelas sapadores russos levantavam colunas de fumaça explodindo as minas plantadas pelos jihadistas em sua fuga. Quando o Estado Islâmico regressou a Palmira, em dezembro, a grande maioria da população continuava deslocada na vizinha cidade de Homs.

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