Nova batalha campal assola presídio em Natal após transferência de presos
Polícia aguarda "ordens de cima" para entrar na prisão, onde membros do PCC e do Sindicato do Crime voltam a se enfrentar
No dia seguinte à transferência dos 220 internos do presídio de Alcaçuz, em Natal (Rio Grande do Norte), os presos fazem novamente um motim nesta quinta-feira, fazendo da penitenciária uma verdadeira batalha campal entre membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Sindicato do Crime do RN. Do lado de dentro, presos amotinados, munidos de armas brancas (facões feitos com barras de ferro) travam uma guerra, atirando pedras uns contra os outros. Já há detentos feridos, que podem ser vistos do lado de fora sendo socorridos por outros detentos, mas ainda não há informações se há mortos — ao menos duas ambulâncias entraram no início da tarde na penitenciária. O diretor do presídio, Ivo Freire, foi atingido de raspão por uma pedra, mas já foi socorrido e passa bem. Ao EL PAÍS, ele disse que a polícia se prepara para entrar no presídio, mas ainda aguardava "ordens de cima".
O novo confronto entre facções ocorre em um momento em que o PCC, que era minoria na penitenciária, passou a ter praticamente o mesmo tamanho que a facção rival (que surgiu como uma dissidência do próprio grupo), já que os 220 detentos transferidos prisão na quarta eram do Sindicato do Crime. De fora do presídio, é possível ouvir o barulho dos tiros disparados pela força especial da Polícia Militar e as bombas de efeito moral jogadas lá dentro. Um helicóptero sobrevoa a penitenciária que fica a 50 quilômetros da capital do Rio grande do Norte. O clima é de tensão e há bastante correria dos internos.
Já do lado de fora, ainda há muitas esposas e familiares dos presos, que acompanham com apreensão a guerra entre facções, já que afirmam não ter sido comunicadas sobre quais detentos foram transferidos. Assim, alegam não saber se seus familiares estão ainda no presídio. Na quarta-feira, um grupo de mulheres dos detentos montou barricadas na rua da penitenciária, ateando fogo em um sofá e em restos de lixo, em protesto contra a transferência.
Dois ônibus também foram queimados na manhã desta quinta-feira em Natal. Ao todo, de quarta para quinta, 21 veículos, entre ônibus e microônibus, foram incendiados em todo o Estado.
Um vídeo gravado de dentro do presídio foi publicado nesta quinta-feira, aparentemente por um detento de Alcaçuz.
Quase uma semana de rebelião
A tensão em Alcaçuz começou no último sábado, dia 14, quando membros do PCC e do Sindicato do Crime do RN entraram em confronto por uma disputa de território interno. Ao menos 26 pessoas morreram naquele dia. Embora essa rebelião não tenha se repetido na mesma proporção nos dias seguintes, o controle total da situação jamais foi restabelecido. Há tensão e trocas de ameaças entre os presos, que seguem fora das celas —as estruturas internas do presídio, já precário e superlotado, foram praticamente destruídas nos últimos dias.
Em Alcaçuz: os internos estão fora até porque não há celas. Sobem no telhado pra observar os outros pavilhões. Pouca polícia aqui fora
— Submarina (@marinarossi) January 19, 2017
A retirada de membros do Sindicato do RN de Alcaçuz pode representar uma espécie de vitória para o PCC, já que as duas facções reivindicavam a saída do grupo rival desde o início desse confronto. O presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Expedido Ferreira de Souza admitiu que “o Estado perdeu para o PCC”.
Colaborou Marina Novaes, de São Paulo.
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