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Obama defende clemência a Chelsea Manning após sentença “dura”

Julian Assange, fundador do WikiLeaks, diz que aceita ir aos EUA se tiver seus direitos respeitados

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.Vídeo: JOSHUA ROBERTS (REUTERS) | EPV
Silvia Ayuso

Barack Obama defendeu nesta quarta-feira uma de suas últimas decisões como presidente dos Estados Unidos: demonstrar clemência à ex-soldado Chelsea Manning e abreviar a pena de 35 anos que ela cumpria numa prisão militar. Manning foi condenada como responsável pelo maior vazamento de documentos secretos na história norte-americana, entregando-os à plataforma WikiLeaks. Seu fundador, Julian Assange, agora cogita aceitar a extradição para o território norte-americano.

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“Chelsea Manning cumpriu uma pena dura”, observou Obama em sua última entrevista coletiva na Casa Branca, na antevéspera de entregar o cargo ao republicano Donald Trump. Quando Manning recuperar a liberdade, em 17 de maio, a ex-analista militar no Iraque – que na época em que desviou os documentos ainda se identificava como soldado Bradley Manning, do sexo masculino – terá cumprido sete anos de prisão. É, segundo Obama, um tempo suficiente para convencer outras pessoas dispostas a vazar informações sigilosas a “nem pensarem que é possível se livrar de um castigo”.

Do pequeno e célebre grupo de pessoas que divulgaram segredos dos Estados Unidos durante a presidência de Obama – um clube ao qual também pertencem Assange e o ex-analista de inteligência Edward Snowden –, aparentemente só Manning poderá se movimentar em liberdade pelos EUA num futuro imediato. Apesar dos inúmeros apelos internacionais para que também Assange e Snowden recebam clemência, Obama não dá sinais de que a concederá. Afinal de contas, argumentou, Manning “foi a julgamento, cumpriu-se a lei, ela assumiu a responsabilidade por seu crime, recebeu uma sentença muito desproporcional em relação à sofrida por outras pessoas que vazaram segredos e cumpriu um tempo importante da sua sentença”. O presidente democrata acrescentou que se sente muito “cômodo” com sua decisão, apesar das críticas.

E críticas não faltaram. O novo porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump ficou “preocupado” com esse gesto. Perdoar alguém que vazou segredos do país é “decepcionante e transmite uma mensagem muito preocupante acerca da gestão de informações sigilosas”, segundo o presidente-eleito. Trump desprezou os relatórios dos serviços de inteligência sobre os ataques cibernéticos russos durante as eleições.

A notícia também motivou uma reação negativa de líderes parlamentares republicanos, como o presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, que considerou o perdão “escandaloso”, e o senador John McCain. Para o presidente da Comissão de Serviços Armados, a comutação da pena de Manning é um “erro grave, que inspirará mais atos de espionagem”.

Quem também está analisando detalhadamente a decisão de Obama é Assange. A notícia da clemência a Manning chegou à embaixada equatoriana em Londres, onde o fundador do WikiLeaks está refugiado há mais de quatro anos na tentativa de evitar uma extradição para a Suécia por supostos crimes sexuais, o que o australiano considera ser uma manobra para afinal deportá-lo para os EUA. Há uma semana, Assange disse no Twitter que, se Manning recebesse a clemência, ele próprio estaria disposto a se deixar extraditar para os Estados Unidos.

Agora, o WikiLeaks relativiza essas palavras. “Assange adoraria vir aos EUA, desde que seus direitos sejam garantidos”, declarou a plataforma em outra mensagem na rede social. “Não presto muita atenção aos tuítes do senhor Assange”, disse Obama. A Casa Branca insistiu nos últimos meses que não cabia discutir um perdão a Assange e a Snowden, já que ambos nem sequer se submeteram à Justiça norte-americana.

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