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O teleprompter derrota Jimmy Fallon

Apresentador do Globo de Ouro não se recupera do início acidentado do seu monólogo

Jimmy Fallon durante a cerimônia de entrega do Globo de Ouro.
Jimmy Fallon durante a cerimônia de entrega do Globo de Ouro.Paul Drinkwater (Paul Drinkwater/NBC)
Tommaso Koch

Muitas dúvidas cercavam o apresentador desta edição do Globo de Ouro, Jimmy Fallon. Como daria início à cerimônia de premiação? Haveria piadas maldosas? E referências a Donald Trump? A quem ridicularizaria em seu monólogo? “Só eu e os hackers russos sabemos”, brincou Fallon na véspera. Certamente, o comediante não podia imaginar que o alvo das primeiras risadas seria ele mesmo. Porque, assim que entrou no palco, numa das ocasiões mais importantes da sua carreira, o teleprompter que deveria auxiliar Fallon pifou. Incapaz de reagir, não lhe ocorreu nada melhor que contar isso em voz alta e passar alguns segundos dominado por um evidente desconforto. E as redes sociais aproveitaram o momento para devolver a brincadeira: “Será que os hackers russos o sabotaram?”.

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Talvez fosse questão de carma. O apresentador do Tonight Live Show está acostumado a que seus vídeos viralizem. Inúmeras gravações em que ele aparece dançando, cantando ou se envolvendo em alguma brincadeira com as estrelas convidadas ao seu programa acumulam dezenas de milhões de visitas no YouTube – 36 milhões, especificamente, no segmento em que Nicole Kidman relata que em algum momento quis sair com ele, mas se sentiu ignorada. “Você ficou jogando videogame!”, diz a atriz. De modo que neste domingo Fallon certamente incorpora outro vídeo famosíssimo ao seu currículo – só que desta vez contra ele. “Já temos um momento Globo de Ouro”, tentou ironizar o próprio apresentador.

E isso que, pouco antes, a cerimônia havia começado com o ritmo endiabrado e entusiasmado de La La Land, numa homenagem à primeira sequência do musical consagrado nesta noite, sob as notas de Another Day of Sun [“outro dia de sol”]. Mas o sol demorou a brilhar para Fallon, depois do acidentado início. Mesmo depois de recuperado o teleprompter, o apresentador propôs um monólogo com mais altos e baixos que a célebre montanha-russa na qual embarcou com Kevin Hart.

Poucos risos acompanharam na plateia as piadas sobre o pênis de Ryan Gosling, sobre O.J. Simpson ou sobre o fato de que nem sequer a péssima cantora Florence Foster Jenkins toparia se apresentar na posse de Trump. É verdade que essa fala de abertura também deixou fases memoráveis, como: “Manchester à Beira Mar é a única coisa de 2016 mais deprimente que o próprio 2016”. E, acima de tudo: “Este é o Globo de Ouro, um dos poucos lugares nos Estados Unidos onde ainda se honra o voto popular”, em referência ao fato de Trump ter sido eleito presidente com menos votos que Hillary Clinton.

Fallon tentava assim se libertar do peso maiúsculo que muitos haviam lhe imposto. Porque o Globo de Ouro já é por si só uma cerimônia politicamente incorreta, ou pelo menos assim entendia seu impiedoso antecessor, Ricky Gervais, e além do mais se tratava do primeiro grande evento televisivo de entretenimento desde a vitória eleitoral do magnata populista, atacado por praticamente toda Hollywood antes do pleito. E, para tamanha ocasião, o escolhido foi Fallon. Ou seja, um apresentador que, como ele próprio admite, foge das piadas políticas; que entrevistou Trump e o incomodou mais por mexer no seu cabelo do que com suas perguntas. A tal ponto que a The Atlantic tachou a conversa de “constrangedora”, e a Time, dias antes da cerimônia, deu como certo que sua condução do Globo de Ouro seria uma “oportunidade perdida”.

Afinal de contas, Fallon, quando criança, queria ser padre. Acabou escolhendo um caminho bastante diverso, mas algo daquela vocação caridosa deve ter continuado no seu interior e no seu estilo como apresentador, o que sempre lhe valeu dezenas de críticas. Mas o fato é que ele também conta com fãs incondicionais, e há quem argumente que sua atitude amistosa serve para que grandes astros se revelem – como fez Sylvester Stallone ao lhe confessar que durante anos odiou Arnold Schwarzenegger.

Seja como for, sua carreira é seu principal respaldo, ao menos na televisão. Deixando de lado sua desastrosa tentativa de ser um astro do cinema (Táxi, Amor em Jogo), Fallon acumulou um currículo invejável: seis anos nesse mesmo Saturday Night Live que adorava como fã (e onde ganhou também a péssima fama de rir no meio dos esquetes alheios), quatro à frente do Late Night e finalmente, desde 2014, no The Tonight Show, como sucessor de Jay Leno. Ou seja, que a aposta dele na música, no riso e nas imitações costuma dar certo. “Era uma das duas únicas pessoas, junto com Kristen Wiig, que estaria totalmente preparada já desde o primeiro instante”, disse sobre ele a atriz e comediante Tina Fey quando Fallon foi contratado pelo Saturday Night Live. Para o Globo de Ouro, entretanto, Fallon não estava preparado. Nem ele, nem o teleprompter.

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