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‘La La Land’ quebra recordes e leva sete Globos de Ouro

Musical sobre Los Angeles arrasa na cerimônia de premiação da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood

Ryan Gosling e Emma Stone posam com seus Globos de Ouro.
Ryan Gosling e Emma Stone posam com seus Globos de Ouro.ROBYN BECK (AFP)
P. X. S.

Uma história de amor de Hollywood consigo mesma se tornou neste domingo a favorita oficial da temporada de premiação da indústria audiovisual, com um triunfo sem precedentes no Globo de Ouro. La La Land – Cantando Estações, uma comédia musical que celebra em tom otimista tudo o que o cinema pensa de si mesmo e de Los Angeles, a cidade em que vive, ganhou os sete troféus que disputava, um recorde nos 74 anos de história desses prêmios. Em 2017, o cinema dança com Ryan Gosling e Emma Stone, sem complexos.

O número inicial do show, realizado neste domingo no hotel Beverly Hilton de Los Angeles, simulava um congestionamento de trânsito com todos os astros esperando para chegar à cerimônia. De repente, descem dos carros e começam a cantar. A cena inicial de La La Land já tem esse status de ser tão reconhecível que permite homenagens desse tipo. Mesmo se não tivesse ganhado nada, já seria um reconhecimento de que é o filme que mais enterneceu Hollywood neste ano, ou pelo menos assim entenderam os integrantes a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, que concede os prêmios.

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Outra coisa é que seja capaz de enfrentar os grandes dramas no Oscar, dentro de um mês. O fato de Damien Chazelle ganhar na categoria de diretor e roteiro, as duas compartilhadas por comédias e dramas no Globo de Ouro, pode ser uma pista de que La La Land é capaz de transcender sua categoria. Mas já não admite discussão que é a menina bonita desta temporada em Hollywood entre aqueles que não só votam nos prêmios como também reconhecem todas as suas locações.

O triunfo de La La Land começou com sua canção principal, City of Stars, de Justin Hurwitz (que também levou o prêmio de trilha sonora), agraciada com o troféu em detrimento do megahit Can’t Stop the Feeling, de Justin Timberlake. Continuou com o prêmio para Ryan Gosling. Quando Chazelle foi anunciado como o melhor diretor, e Emma Stone como melhor atriz, já estava claro que se tratava não só de conceder prêmios, mas sim de homenagear o filme em todas as formas possíveis. O diretor de 31 anos é, além disso, o mais jovem a receber esse troféu.

A verdadeira competição neste ano era na categoria drama. Moonlight: Sob a Luz do Luar, o emocionante filme de Barry Jenkins sobre a infância e juventude de um homem negro num bairro marginal de Miami nos anos oitenta, superou outro favorito, Manchester à Beira-Mar. Foi o único troféu dado a esse pequeno grande filme, que se baseia na própria experiência do diretor, Barry Jenkins, e do roteirista, Tarell Alvin McCraney. Ambos viveram infâncias em Miami muito semelhantes à do protagonista, com mães viciadas em meio à epidemia de crack que arrasou as comunidades pobres e negras da cidade naquela época.

Casey Affleck, com uma interpretação magnética de um homem destruído por dentro pela pior tragédia imaginável e que precisa encontrar forças para cuidar do seu sobrinho em Manchester à Beira-Mar, ganhou o prêmio de melhor ator. Isabelle Huppert, protagonista da francesa Elle (premiada como melhor filme estrangeiro), impôs-se como melhor atriz, à frente das estrelas Natalie Portman (Jackie), Amy Adams (A Chegada) e da tão celebrada Ruth Negga em Loving.

Damien Chazelle, de 31 anos é o mais jovem a receber o Globo de Ouro de melhor diretor por 'La La Land'

Nas categorias de televisão, Atlanta, de Donald Glover, foi a melhor série cômica ou musical do ano na opinião do júri. The Crown, que retrata a rainha britânica Elizabeth II na juventude, foi premiada como a melhor série dramática. Isso confirma a tendência da Associação da Imprensa Estrangeira de premiar, sempre que pode, novos talentos em vez de homenagear repetidamente as opções mais conservadoras, como é habitual no Emmy. O Globo de Ouro se compraz em usar sua varinha de condão sobre séries novas que, em geral, vale a pena conhecer, em vez de premiar todos os anos Veep ou Game of Thrones, que obviamente também haviam sido indicadas. Atlanta e The Crown entram na categoria das séries descobertas pelo Globo de Ouro para o grande público.

O mesmo acontece com os atores de televisão. Claire Foy, a protagonista de The Crown, levou o prêmio a melhor atriz em drama televisivo, e Tracee Ellis Ross, em sua primeira indicação, foi agraciada por seu papel em Black-ish. Estava na plateia ninguém menos que Julia Louis-Dreyfus, uma lenda da televisão. E outro bom exemplo dessa tendência é que Donald Glover, criador de Atlanta, se impôs a Jeffrey Tambor, a alma de Transparent, e a Gael García Bernal, que voltava a ser indicado pelo papel de maestro em Mozart in the Jungle.

O apresentador do Tonight Show, Jimmy Fallon, conduziu a cerimônia, e só. Deu a impressão de abdicar do trabalho de entreter o público de vez em quando. O evento foi chato, ou pelo menos carente de tensão, para quem havia se acostumado a Ricky Gervais, que mantinha todo mundo sobressaltado, e às geniais Tina Fey e Amy Poehler, cujo profissionalismo ainda não encontrou substitutos, nem aqui nem no Oscar. Fallon conduziu uma cerimônia sem brilho, onde a melhor piada coube a Kirsten Wiig e Steve Carrell contando seus traumas com filmes animados da Disney.

Mas houve espaço para refletir o momento de enorme incerteza e tensão política que os Estados Unidos vivem depois da vitória de Donald Trump na eleição presidencial de novembro. Fallon foi muito contido em suas piadas sobre o assunto, e coube a Hugh Laurie, premiado pela minissérie The Night Manager, dar o tom exato: “Este é um dos últimos Globos de Ouro”, afirmou ao agradecer, observando que “Hollywood, imprensa e estrangeiros” são três conceitos que têm pouco futuro a partir de 20 de janeiro, data da posse de Trump. “Inclusive o conceito de associação para alguns republicanos” é perigoso, observou. Laurie aceitou o prêmio “em nome de todos os bilionários psicopatas do mundo”.

Mas o momento mais emocionante da noite nesse sentido foi o prêmio honorário Cecil B. De Mille dado àquela que é provavelmente a melhor atriz viva, Meryl Streep. Se a voz afônica que mostrou ao receber o troféu foi um truque de atriz, realmente conseguiu tocar o coração dos presentes. Referindo-se à entidade que concede os prêmios, ela observou que Hollywood, imprensa e estrangeiros compõem atualmente “um segmento vilipendiado da população”.

Então começou a contar que a interpretação que mais lhe impactou no ano passado, “não por ser boa”, foi quando Donald Trump zombou, diante de milhares de pessoas em um comício, de um jornalista deficiente – um dos momentos da sua campanha do qual muitos acharam que não conseguiria escapar ileso. “Não consigo tirar aquilo da cabeça”, disse. “Desrespeito atrai desrespeito, a violência incita a mais violência. Quando os poderosos usam sua posição para abusar dos outros, todos perdemos.”

Do Globo de Ouro deste ano não sai nenhum filme destacado que não seja La La Land – Cantando Estações. Até as indicações dos Oscar, no próximo dia 24, não há outro ganhador em Hollywood senão a própria Hollywood idealizada por Chazelle, Gosling e Stone.

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