_
_
_
_

Chile celebra o ano de Violeta Parra

País comemora o centenário do nascimento da cantora e compositora com a publicação de livros, concertos e exposições

Imagem do filme ‘Violeta Foi para o Céu’ de Andres Wood.
Imagem do filme ‘Violeta Foi para o Céu’ de Andres Wood.
Rocío Montes

A chilena Violeta Parra (San Fabián de Alico, 1917; Santiago do Chile, 1967) viveu múltiplas vidas ao longo de seus 49 anos. Foi cantora e compositora, ofício pelo qual foi mais reconhecida, mas também compiladora de música folclórica e artista plástica. No centenário de seu nascimento – celebrado neste ano no Chile com a publicação de livros sobre sua obra, festivais, concertos, exposições e congressos internacionais –, o país a homenageia como uma criadora diversa e promove o reconhecimento de seu legado sob uma perspectiva integral. “Por que Violeta Parra transcende?”, pergunta-se a pesquisadora Paula Miranda, uma das maiores especialistas em sua figura. “Porque tem um trabalho com a palavra muito sofisticado. A dimensão poética está presente em toda sua obra”.

Mais informações
Os últimos dias de Pablo Neruda, segundo seu motorista
Projetar a Antártica a partir da Patagônia chilena
Família apresenta romance inédito de Bolaño: ‘O espírito da ficção científica’

Miranda fala de Violeta Parra como uma das melhores poetas da música e ressalta que a discussão sobre a entrega do Nobel de Literatura a Bob Dylan no ano passado também poderia valer para a cantora e compositora chilena: “Existe muita poesia fora dos livros e a poesia, além do mais, era cantada em sua origem”. Miranda, doutora em Literatura e autora do estudo La Poesía de Violeta Parra, publicado em 2013, cita como exemplo um dos hinos mais conhecidos da criadora: “A poesia em sua máxima expressão é aquela que consegue transformar o mundo, e isso é o que Parra faz em Gracias a la Vida. Por um lado agradece e, por outro, tenta retribuir algo que recebeu da vida. Sua arte não é de adorno, nem de entretenimento, mas de reflexão e emoção. Acompanha as dores e os amores humanos”, diz a pesquisadora.

A força da palavra que marca toda a obra de Violeta Parra está registrada no livro Poesía, editado em 2016 pela Universidade de Valparaíso. Com organização, estudo e notas a cargo de Miranda, Parra é concebida como poeta, como foi reconhecida por contemporâneos seus como Pablo Neruda, Pablo De Rokha e o próprio Nicanor Parra, seu irmão mais velho. É uma das obras que começaram a ser publicadas no Chile por ocasião do seu centenário de nascimento. Nas próximas semanas, a jornalista especializada em música popular chilena Marisol García lançará a pesquisa Violeta en Sus Palabras (Ed. Diego Portales), que reúne 14 entrevistas desconhecidas que a artista concedeu no Chile, na Argentina e na Suíça.

“Violeta Parra nunca foi uma artista oficial”, observa García, também autora do livro Canción Valiente, sobre a história da música política chilena. “No Chile, ela teve um reconhecimento intermitente porque, em alguns momentos, o país foi injusto e tendencioso com relação à arte popular”.

110.000 VISITAS AO MUSEU DA CANTORA

Com um ano e três meses de funcionamento, o Museu Violeta Parra já recebeu 110.000 visitantes. Localizado no centro de Santiago, é o primeiro no país dedicado exclusivamente ao legado da artista.

Para comemorar os 100 anos de seu nascimento, o museu apresentará, em 2017, mais de 80 recitais, oferecerá cerca de 250 visitas guiadas e um programa de cinema, entre outras atividades.

“Encerramos esse bem-sucedido 2016 com muita energia, prontos para o próximo ano, em que renovaremos a oferta museológica e ampliaremos as atividades educativas e de extensão”, diz Cecilia García-Huidobro, diretora da instituição.

Está em preparação uma ambiciosa biografia sobre Parra, ainda sem data para publicação, e em fevereiro será lançado um livro sobre a influência da cultura mapuche na obra da artista, elemento essencial para entender melhor seu legado.

Influência mapuche

Escrita por Paula Miranda e pelas acadêmicas Allison Ramay e Elisa Loncon, a pesquisa, que será publicada pela Pehuén Editores, se baseia nas gravações de 40 canções tradicionais mapuches compiladas por Violeta Parra no sul do Chile entre 1957 e 1958. Desconhecidos até agora, os arquivos sonoros, que incluem suas conversas com cantores indígenas, se tornaram uma espécie de elo perdido.

Para comemorar o centenário de Parra, nascida em 4 de outubro de 1917, o Chile preparou uma extensa programação. “Homenagear Violeta Parra é um dever de nosso país para que as novas gerações tenham a oportunidade de conhecer sua visão de mundo, seu contundente aporte às artes e a força criadora de uma figura que foi capaz de transpor fronteiras”, explica o ministro da Cultura, Ernesto Ottone Ramírez. “Como Conselho da Cultura, trabalharemos em 2017 para que o Chile se vista de Violeta, seja inundado por suas canções e seu nome saia pelo mundo levando parte de nossa identidade a diferentes rincões, divulgando um legado cuja influência permanece viva entre artistas e cidadãos”.

À margem da agenda oficial, a população chilena também começa a se organizar espontaneamente em diferentes localidades para homenagear sua cantora mais internacional e mais querida.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_