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Flynn, uma família de conspiradores a serviço de Trump

Magnata afasta filho do assessor de Segurança Nacional que divulgou notícias falsas

Silvia Ayuso

É permitido dar acesso a informações altamente classificadas a uma pessoa que não para de propagar teorias conspiratórias comprovadamente falsas? Essa é a pergunta que não quer calar feita por boa parte dos Estados Unidos e que, sobretudo, foi feita para a equipe de Donald Trump desde que o presidente eleito escolheu o general Michael Flynn como seu assessor de Segurança Nacional. Pois será ele o braço direito de Trump, sua voz, sem filtros, em questões muito sérias para o país, tanto em termos de defesa como de política externa, apesar de gostar de divulgar notícias falsas de fontes mais do que questionadas.

O assessor de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn
O assessor de Segurança Nacional de Trump, Michael FlynnAndrew Harnik (AP)
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Essas vozes se elevaram ainda mais depois que seu filho e assistente pessoal, Michael G. Flynn, continuou propagando neste fim de semana notícias falsas sobre uma absurda teoria da conspiração que afirma que uma pizzaria de Washington, Comet Ping Pong, era o epicentro de uma rede de pedofilia ligada à democrata Hillary Clinton. Flynn filho não se retratou, apesar de um homem armado ter entrado no local no domingo e disparado um rifle de assalto afirmando que queria “investigar” se ali efetivamente se abusava de crianças, como tinha lido na internet.

Trump, que nunca perde tempo em ir às redes sociais para comentar qualquer coisa e condenar atos de violência, guardou um silêncio online clamoroso sobre o incidente que poderia ter resultado em tragédia. A verdade é que ele também não está isento de fazer afirmações sem fundamento, como quando sustentou a teoria de que o presidente Barack Obama não tinha nascido nos Estados Unidos ou, já como presidente eleito, afirmou que milhões de pessoas tinham votado de forma ilegal contra ele.

Mas depois das crescentes críticas, a relação entre Trump e Flynn filho terminou na terça-feira, dia 6 de dezembro. O vice-presidente eleito, Mike Pence, confirmou o fim de sua colaboração com a equipe de transição do milionário. “Mike Flynn Jr. deixou de estar associado aos esforços do general Flynn e da equipe de transição e nos concentramos em olhar para frente”, afirmou à rede CNN. Não está claro quem deu o primeiro passo. Veículos como The Hill afirmam que a ordem veio diretamente do presidente eleito. A rede CBS assegurou que foi o próprio Flynn que apresentou sua demissão. O problema é que sequer se sabe o que fazia exatamente o filho do general na equipe de transição de Trump, nem que tipo de acesso a informação privilegiada tinha. Michael G. Flynn, de 33 anos, foi definido como “chefe de pessoal” de seu pai na empresa de assessoramento de inteligência que lidera, a Flynn Intel Group. Também foi visto em várias ocasiões acompanhando seu pai à Trump Tower, onde o presidente eleito prepara seu governo e mantém ativas reuniões de trabalho com sua nova equipe.

Vários veículos afirmam que Flynn filho chegou a ter um e-mail como outros membros da equipe de transição e que este deixou de funcionar em algum momento da terça-feira, prova de seu afastamento da equipe presidencial. Mas o vice-presidente eleito, Mike Pence, não negou categoricamente durante o dia que tivesse sido pedida autorização para que o filho do novo assessor de segurança nacional de Trump pudesse ter acesso a informação classificada.

Contudo, o fim da colaboração de Flynn filho com o governo que começa não soluciona o problema dos fortes vínculos do círculo de Trump com distribuidores de falsas notícias e teorias da conspiração. O próprio general Flynn colaborou ativamente nesse sentido. Apenas seis dias antes das eleições, ele tuitou uma notícia que vinculava a candidata democrata com “lavagem de dinheiro e crimes sexuais com crianças” e afirmava, falsamente, que a polícia de Nova York tinha encontrado provas disso.

Em outubro, o ex-diretor da Agência de Inteligência de Defesa, de 57 anos, retuitou uma história que afirmava que Clinton mantém uma “guerra com a Igreja Católica”, assim como uma mensagem de outra internauta que afirmava que Clinton e o “jihadista” Obama “lavaram dinheiro” para terroristas muçulmanos.

Cerca de cinquenta organizações muçulmanas, de direitos humanos e de outros setores do ativismo social escreveram uma carta a Trump na segunda-feira, dia 5, pedindo-lhe que despedisse Flynn porque “é uma ameaça à segurança nacional”. O deputado democrata Adam Schiff, do Comitê de Inteligência da Câmara, não foi tão longe, mas reclamou que a equipe de Trump, com o presidente eleito e o general Flynn à frente, “repudiem” sem perda de tempo esse tipo de falsidades. “Que Deus nos ajude se levarem os assuntos nacionais como sua transição, sem a capacidade ou a disposição para separar verdade de ficção”, advertiu.

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