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Morte de Fidel Castro amplia dúvidas sobre reaproximação com os EUA

Ausência do líder revolucionário representa outra incógnita no futuro das relações com Cuba na era Trump

Silvia Ayuso
Barack Obama e Raúl Castro em Havana em março
Barack Obama e Raúl Castro em Havana em marçoReuters
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A morte de Fidel Castro acrescenta mais uma incógnita ao processo de normalização das relações entre os Estados Unidos e Cuba, já colocado em xeque pela vitória eleitoral do republicano Donald Trump, que será responsável por manter – ou interromper – o diálogo aberto há quase dois anos com Havana por seu antecessor democrata, Barack Obama.

Apesar de o histórico líder revolucionário nunca ter ocultado suas reticências quanto ao processo iniciado pelo presidente Raúl Castro, seu irmão, o fato de não fazer oposição frontal ao degelo foi considerado como uma aprovação implícita a essa iniciativa diplomática, que não necessariamente contava com o respaldo de toda a cúpula cubana.

Quis o acaso que a morte de Fidel Castro surpreendesse Trump em Mar-a-Lago, a mansão da Flórida onde o magnata costuma passar férias. Esse Estado é o mais tradicional reduto cubano nos EUA, um lugar outrora claramente anticastrista, mas que, sobretudo nos últimos anos, passou a apoiar a política conciliadora de Obama, incluindo a decisão de restabelecer as relações interrompidas durante mais de meio século.

Obama fez de tudo para consolidar essa política antes de deixar a Casa Branca, o que acontecerá em menos de dois meses. Não só reabriu, já há mais de um ano, a embaixada norte-americana em Havana, gesto replicado por Cuba em Washington, como se tornou, em março, no primeiro presidente dos EUA em quase um século a pisar em solo cubano. A menos de um mês das eleições que definiria seu sucessor, Obama emitiu uma ordem executiva (espécie de medida provisória) com a qual pretendia, nas suas palavras, tornar “irreversíveis” os avanços obtidos nas relações bilaterais.

Tudo, porém, se tornou um enorme ponto de interrogação após a vitória do republicano Trump, um bilionário pragmático que no passado foi acusado de violar o embargo econômico a Cuba em busca de negócios lucrativos na ilha. Durante a campanha eleitoral, no entanto, ele prometeu reverter a aproximação com Havana.

Trump não se contentou apenas em cortejar o voto mais abertamente anticastrista em Miami. Já eleito presidente, parece confirmar suas promessas ao incluir em sua equipe de governo figuras proeminentes do lobby pró-embargo, como o advogado Mauricio Clever-Carone, membro da influente organização Democracia Cuba-EUA, que defende uma “transição incondicional de Cuba à democracia e ao livre mercado”. Ele irá trabalhar com Trump no Departamento do Tesouro, uma peça-chave na aplicação – ou flexibilização – do embargo econômico a Cuba e das sanções contra quem o viola.

Foi esse ministério, junto com o do Comércio, o principal responsável por analisar, nos últimos 23 meses, até onde seria possível flexibilizar os limites impostos pelo embargo, cuja eliminação está nas mãos do Congresso. Em minoria na Câmara e no Senado, a estratégia do Governo Obama foi tentar facilitar ao máximo as transações comerciais e os intercâmbios pessoais entre os dois países. Embora as principais restrições continuem vigentes, é cada vez mais fácil para os cidadãos norte-americanos fazer transações comerciais com Cuba ou viajar à ilha.

Antes que a morte de Fidel Castro monopolizasse todas as manchetes da imprensa cubana – e mundial –, os meios de comunicação estatais comemoravam justamente o restabelecimento, na próxima segunda-feira, dos voos comerciais regulares e diretos entre os EUA e Havana, suspensos durante mais de 50 anos.

São medidas como esta as que também impulsionaram, por sua vez, a continuação das reformas iniciadas com a chegada de Raúl Castro ao poder em Cuba, embora não ao ritmo desejado por Washington, como reconheceu o próprio Obama. Uma mudança na atitude de Washington poderia ter, neste sentido, adverte López-Levy, mais impacto ainda que a morte de Fidel Castro. “Enquanto exista incerteza no assunto Trump, a direção cubana vai atuar com grande cautela, mas isso não tem a ver com o fato de que Fidel esteja ou não porque já tinha um papel mais simbólico, era uma espécie de força moral, de patriarca revolucionário mais que líder dos assuntos do governo”. 

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