Magizoologia aplicada

Filme é, ao mesmo tempo, prequela e ‘spin-off’ da saga original sugerida pelo livro homônimo, no qual a escritora imaginou seus próprios animais

Dan Fogler, Eddie Redmayne e Katherine Waterston, em 'Animais fantásticos e Onde Habitam'.
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Um Spielberg meio chato em ‘O Bom Gigante Amigo’

O fato de que pelo menos dois dos livros utilizados no Colégio Hogwarts de Magia existem nas livrarias é um bom indício da obsessiva implicação de J.K. Rowling na construção de seu rico e complexo universo imaginário. E também do potencial desse universo para se expandir abrindo notas firmes e fortes no formato de novos labirintos. Se toda poção mágica parte da perfeita mistura de materiais heterogêneos, a saga Harry Potter definiu seu poder de feitiço coletivo na harmonia entre o velho (a tradição britânica de literatura juvenil, os jogos de palavras de Lewis Carroll, o humor pitoresco) e o novo (uma arquitetura narrativa em diálogo em pé de igualdade com as possibilidades da nova cultura lúdica da área e dos videogames). Animais Fantásticos e Onde Habitam de David Yates é, ao mesmo tempo, prequela e spin-off da saga original sugerida pelo livro homônimo, no qual a escritora imagina seus próprios Jabberwockies, Snarks e Boojums para sistematizá-los em um tratado imaginário de magizoologia.

ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM

Direção: David Yates.

Elenco: Eddie Redmayne, Colin Farrell, Katherine Waterston, Alison Sudol.

Gênero: fantástico. Reino Unido, 2016.

Duração: 133 minutos.

A partir de um roteiro original da autora, o filme, ambientado na Nova York de meados dos anos 20, propõe uma leitura da América como território onde a explosão industrial emite uma pulsação com uma essência mágica condenada à segregação e assediada por uma caça às bruxas moral. Não falta uma breve, insuficiente pincelada à perigosa confusão de poder político e império midiático: uma antecipação da era Trump que não possui verdadeira intencionalidade ideológica.

Como o recente e muito subestimado O Bom Gigante Amigo (2016) de Steven Spielberg, Animais Fantásticos e Onde Habitam coloca o último modelo de assombro digital a serviço da recuperação de um saudoso cinema infantil (as fantasias de imagem real marca Disney), que acreditava na consistência de seus improváveis universos. O filme só perde de vista esse norte em um clímax final – muito parecido a um combate de super-heróis –, que passa da fina filigrana digital a um caos traçado um tanto grosseiramente, mas até aí o encanto é poderoso.

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