_
_
_
_

Em debate, Mike Pence adota tom presidencial que falta a Trump

Candidato republicano à vice-presidência evita defender o magnata contra ataques

Os candidatos à vice-presidência dos EUA Tim Kaine e Mike Pence.Vídeo: RICK WILKING
Silvia Ayuso

Mike Pence mostrou na noite desta terça-feira que sua escolha como candidato à vice-presidência para fazer um contrapeso às polêmicas constantes que cercam Donald Trump foi uma decisão acertada do candidato republicano à Casa Branca. No único debate entre os candidatos a vice-presidente, realizado na sequência de uma das semanas mais difíceis para o lado dos conservadores, o governador de Indiana conseguiu amortecer a avalanche de ataques do democrata Tim Kaine, mesmo sem tentar defender algumas das atitudes mais polêmicas de seu colega de chapa. Diante de um Kaine nervoso, manteve um tom sereno e presidencial, algo que tem feito tanta falta, até o momento, à candidatura republicana.

Os debates entre os candidatos à vice-presidência têm um objetivo tão ambicioso como os dos postulantes à Casa Branca. Avalia-se que eles se saíram bem no duelo se, durante os seus 90 minutos ininterruptos de duração, conseguiram não piorar a situação das intenções de voto do candidato à presidência que representam. Desse ponto de vista, Pence pode considerar que sua missão foi cumprida na noite desta terça-feira em Farmville, Virginia, nesse que terá sido o primeiro e único enfrentamento face a face com Kaine. Saiu-se melhor do que o seu próprio superior uma semana antes, o que fortalece a candidatura republicana.

Mais informações
Em debate tenso, Clinton usa sua experiência para frear Trump
Donald Trump chama de “asquerosa” Alicia Machado, a imigrante que ele humilhou
Grande parte da imprensa dos EUA rejeita Donald Trump
Trump pode não ter pagado impostos durante 18 anos

Isso tudo sem que o republicano tenha levantado argumentos sólidos para responder à bateria de ataques de Kaine, desde o início do debate, às propostas, gestos e equívocos de Trump. A lista foi longa e contundente, a começar pela negativa constante do magnata de divulgar a sua declaração de impostos —justamente no momento em que se revela que ele não os pagou durante quase vinte anos— ou por seus ataques da semana passada contra uma ex-Miss Universo hispânica que revelaram, mais uma vez, o comportamento misógino do candidato republicano.

Em vários momentos, Pence nem sequer tentou defender Trump diante das acusações de seu adversário e das perguntas insistentes da mediadora do encontro. “Trump é um homem de negócios, não um político de carreira”, respondeu, reticente, depois de ser questionado insistentemente sobre a maneira como o candidato à Casa Branca se aproveitou da legislação fiscal para pagar o menos possível de impostos.

Com um tom sereno, produto de sua experiência como locutor de rádio e televisão antes de entrar para a política, o governador de Indiana conseguiu soar mais presidencial do que o seu chefe Trump, e, sobretudo, conseguiu amortecer os ataques de um Kaine muito bem preparado e com a língua afiada, mas excessivamente agressivo —fez inúmeras interrupções nas falas do adversário— e nervoso, o que, visivelmente, diminuiu o impacto de suas acusações.

Os temas mais polêmicos da campanha eleitoral foram postos à mesa desde o primeiro minuto, incluindo questões como imigração e os ataques de Trump aos mexicanos ou sua proposta de submeter os muçulmanos que queiram entrar no país a um “exame intensivo”, aspectos que Clinton e Trump abordaram apenas de passagem em seu enfrentamento da semana passada. Kaine e Pence debateram também a questão das tensões raciais e da relação entre a polícia e as minorias, bem como a política externa do país, que proporcionou farto material para críticas por parte dos dois candidatos. O republicano acusou Clinton de ser responsável pela situação “fora de controle” do Oriente Médio, enquanto o democrata voltou a atacar Trump por seus elogios ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, além do problema de sua imprevisibilidade, algo grave para que aspira a ter o controle do botão nuclear.

“A ideia de ter Donald Trump como comandante-em-chefe nos apavora”, disse Kaine. “A situação que vemos hoje na Síria, dia após dia, resulta da política externa frágil que Hillary Clinton ajudou a conceber e a praticar neste governo”, retrucou Pence.

Um debate anormal

Em um processo eleitoral normal, o debate entre os candidatos à vice-presidência deveria servir para algo mais do que defender os postulantes à Casa Branca. Teria de ser, também, uma oportunidade —a única com essa importância— para se conhecer melhor aqueles que podem chegar a ter de estar à frente do país caso ocorra alguma coisa com o presidente e que, no mínimo, aspiram a ocupar o segundo posto mais importância da principal potência do planeta. Isso já aconteceu nove vezes na história dos EUA.

Essa regra teria sido cumprida não fosse Trump o candidato mais imprevisível e polêmico da história recente e se a sua adversária, que pretende ser a primeira mulher a presidir do país, tivesse sido capaz de capitalizar diante das inúmeras fraquezas de seu oponente em vez de ter de enfrentar os seus próprios problemas, relacionados a questões como transparência e honestidade.

Dessa forma, Kaine e Pence se transformaram praticamente em meros peões de seus chefes, defendendo as posições destes últimos mediante o uso de uma estratégia de ataques às propostas do adversário e, no caso do republicano, evitando ao máximo responder aos questionamentos levantados contra Trump.

O debate dos ‘sujeitos simpáticos’ ficou feio

A obrigação de atacar o adversário pelos erros ou questões polêmicas do candidato presidencial oposto endureceram o tom de um debate entre dois homens que, apesar de suas diferenças ideológicas, são muito parecidos em vários aspectos. Ambos são políticos clássicos, com uma trajetória política semelhante, e vistos como parte do establishment. Kaine integra atualmente o Senado depois de ter sido governador da Virginia; Pence fez o caminho inverso: começou no Congresso, para depois se tornar governador de Indiana.

Os dois estão na mesma faixa etária –aproximando-se dos 60 anos--, são casados há mais de trinta anos, não se envolveram em escândalos e têm filhos prestando serviço militar na ativa. Além disso, declaram-se profundamente religiosos, embora, no caso de Kaine, isso o tenha impedido de defender, ao menos nos últimos anos, posições progressistas em temas como o do aborto. Pence, por sua vez, tem um longo histórico conservador em temas como o da interrupção voluntária da gravidez e o dos direitos da comunidade LGBTI.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_