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Cristiano já não é intocável no Real Madrid

Sofrendo com falta de ritmo e forma, português foi incluído por Zidane no rodízio de atletas do time

Eleonora Giovio
Cristiano cumprimenta Zidane depois de ser substituído.
Cristiano cumprimenta Zidane depois de ser substituído.Quique Curbelo (EFE)

Nem sequer o melhor especialista em leitura labial conseguiria decifrar o que Cristiano Ronaldo disse no sábado em Las Palmas quando viu que a plaquinha das substituições indicava o número sete. Eram jogados 27 minutos do segundo tempo, o Real Madrid ganhava de 2 x 1, e Zidane achou melhor substituir o português. Cristiano deixou o campo fazendo caretas de desaprovação, apertando os lábios e falando para dentro. Um diálogo consigo mesmo. O técnico lhe estendeu a mão, seu atleta respondeu, mas sem olhá-lo. Sentado no banco, assistiu aos 20 minutos finais da partida. Uma situação nova para o português aos seus 31 anos. Igual à que ele tem que administrar nos últimos meses, desde que sofreu uma entorse de ligamento no joelho esquerdo, na final da Eurocopa.

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Desde que foi contratado pelo Real Madrid, há sete anos, Cristiano nunca havia passado dois meses afastado devido a uma lesão. Aliás, tirando o problema no tornozelo em sua primeira temporada, nunca havia passado mais do que 15 dias de baixa. Naquele ano, uma dura entrada de Diawara, do Marseille, num jogo da Champions League causou um edema ósseo no tornozelo de Cristiano. Era 30 de setembro de 2009, e ele ficou de molho até 21 de novembro: 50 dias, dez a menos que o hiato desta temporada, e com alguns detalhes importantes. Naquela época, Cristiano tinha 24 anos e estava no auge da sua juventude futebolística; não sabia o que eram os problemas no tendão rotuliano e, acima de tudo, havia feito pré-temporada.

Desta vez o português – que negocia atualmente a renovação do seu contrato – está com 31 anos, o joelho mais castigado e, enquanto seus companheiros ficavam sob as ordens de Antonio Pintus no Canadá, ele tirava férias após conquistar a Eurocopa. O clube exigiu que voltasse com calma, pois não havia pressa nem para regressar ao clube nem para iniciar a recuperação. Se dependesse dele, teria jogado a final da Supercopa, em 9 de agosto. Mas só voltou em 9 de setembro, contra o Osasuna, depois de ter feito um trabalho diferente do seu habitual nas pré-temporadas, quando costuma se concentrar em atividades físicas que permitam ao seu corpo aguentar o ritmo de duas partidas semanais até o Natal.

O atacante agora luta para recuperar sua forma física. Para um jogador rápido como ele, com um corpo muscularmente tão perfeito que, segundo todos os que já o treinaram, parece construído com um computador, é frustrante ficar eventualmente isolado das jogadas da equipe, não chegar para arrematar um cruzamento e ter dificuldades para se livrar dos rivais no mano a mano. Isso é tão evidente que, nos quatro jogos que disputou desde o retorno, só acertou 2 dos 17 dribles que tentou. Abriu o placar na goleada contra o Osasuna, e dias depois, contra o Sporting de Portugal, foi determinante, com um golaço de falta que representou o empate em 1 x 1 aos 43 do segundo tempo. Depois disso, porém, passou em branco. “Sempre esperamos muito dele, que seja decisivo, mas é muito importante que jogue e, se não marcar, não me preocupa, porque sempre tem vontade de marcar. O que mais me interessa neste momento é que recupere a forma, pois sempre fará gols”, dizia Zidane no dia do confronto com o Villarreal.

Em Valdebebas, fontes do Real dizem que Cristiano continua o mesmo e que todos estão tranquilos,  porque sabem de sua responsabilidade.

Zidane atrevido

O técnico o mimou, o protegeu e lhe deu minutos em campo, apesar de ter à disposição atletas mais rápidos e mais em forma que Cristiano, como Morata e Lucas. Fez o mesmo com Benzema, porque sabe que o ritmo e a forma só chegam para quem joga. Isso, entretanto, não o impediu de incluir Cristiano em seu rodízio de jogadores. Nunca ninguém havia feito isso com ele. Por causa de uma dor de garganta, ele nem foi relacionado para o confronto contra o Espanyol em Cornellà. E, no sábado, foi substituído contra o Las Palmas. “Não acredito que esteja zangado, vocês que interpretam assim. É claro que sempre quer estar em campo, mas eu tenho que pensar em todos os meus jogadores, inclusive ele. Jogamos uma partida na terça-feira contra o Borussia, e ele também tem que descansar de vez em quando. Eu o substituí pensando nesse jogo”, explicou o francês.

Em Valdebebas, fontes do Real dizem que Cristiano continua o mesmo, se esforçando muito para recuperar a forma, e que todos estão tranquilos, porque sabem da sua capacidade. O único que não parece aceitar isso é o próprio Cristiano, que pela primeira vez não é intocável, e pela primeira vez precisa lutar com seu corpo, mais desgastado do que há sete anos, para ficar em forma.

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