O Rio canta: “Ôôôô, o campeão voltou!”
O centro da cidade comemora eufórica a vitória contra a Alemanha no futebol: "É uma lavadinha de alma"
Os bares da zona sul do Rio de Janeiro estavam tomados por pessoas vestidas de amarelo já no meio da tarde deste sábado. É verdade que é Olimpíada e assim vem sendo há mais de duas semanas, mas dessa vez havia uma sensação de déjà vu no ar, de mais uma final de Copa do Mundo contra a Alemanha. "Hoje vai ser 7 a 0, pro Brasil lavar a alma!", disse um confiante Rodrigo na mesa de um bar de Botafogo. Na mesa ao lado, Bruno dizia: "Ah vai, 7 a 1 pro Brasil. Vamos deixar os coitados fazerem um gol". Seu amigo Ricardo logo emendou: "Se for 1 a 0 Brasil fico satisfeito. To preocupadíssimo".
"Preocupadíssimo" define o sentimento durante todo o jogo. Do Maracanã, um torcedor relata nunca ter visto "uma torcida se desesperar tanto quando o adversário passava do meio de campo". Até que veio o primeiro gol do Brasil, dos pés de Neymar, e os que ocupavam o tradicional bar Amarelinho, na Cinelândia, soltaram um grito de gol entalado na garganta desde 2014.
Em algum momento até se escutou piadas de que a Alemanha ainda podia fazer sete gols. Quando o primeiro chegou, e em seguida a prorrogação, todo mundo percebeu que, se a vitória brasileira se concretizasse, não seria sem sofrimento. "Não era pra ser assim! O Brasil não aguenta mais uma derrota!", dizia a chefe deste jornalista na cadeira ao lado. Do Maracanã, o torcedor dizia: "Proponho um acordo de empate com a Alemanha sem pênaltis".
Como costuma-se dizer, cada dia "é um 7 a 1 diferente" desde o fatídico 7 a 1: eleições que romperam amizades, paralisação política, crise econômica, vírus da zika, ciclovia desabando, longo processo de impeachment... A trégua veio com a Olimpíada. E a utopia de poder virar a maré, de apertar o botão reset, quando o Brasil foi para a final contra a Alemanha. Em casa. Quando os alemães foram bater o quinto pênalti, todos os presentes no Amarelinho já sabiam: "Uhhhh, vai perder! Uhhhh, vai perder!" Perdeu.
Segundos depois, Neymar bate o pênalti e todo o centro do Rio canta: "Ôôôô, o campeão voltou! O campeão voltou!". Luís, que assistiu o jogo da praça Mauá, resume o seu sentimento: "Feliz. O que ficou pra trás, ficou pra trás". De volta à realidade momentos depois, Diogo, também na praça Mauá, pondera que os problemas não acabaram, que vão continuar depois dos Jogos. "Mas é uma lavadinha de alma. Dá uma alegria pro povo. Primeiro ouro do Brasil numa Olimpíada. Contra a Alemanha. E em casa. Tem coisa melhor?"
E os milhares que ocupavam a praça Mauá desceram até o chão ao som de "Cerol na mão", do Bonde do tigrão. Um clássico do funk, para lavar a alma.