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O Rio canta: “Ôôôô, o campeão voltou!”

O centro da cidade comemora eufórica a vitória contra a Alemanha no futebol: "É uma lavadinha de alma"

Felipe Betim
Torcedores no Boulevard Olimpico.
Torcedores no Boulevard Olimpico.TASSO MARCELO (AFP)

Os bares da zona sul do Rio de Janeiro estavam tomados por pessoas vestidas de amarelo já no meio da tarde deste sábado. É verdade que é Olimpíada e assim vem sendo há mais de duas semanas, mas dessa vez havia uma sensação de déjà vu no ar, de mais uma final de Copa do Mundo contra a Alemanha. "Hoje vai ser 7 a 0, pro Brasil lavar a alma!", disse um confiante Rodrigo na mesa de um bar de Botafogo. Na mesa ao lado, Bruno dizia: "Ah vai, 7 a 1 pro Brasil. Vamos deixar os coitados fazerem um gol". Seu amigo Ricardo logo emendou: "Se for 1 a 0 Brasil fico satisfeito. To preocupadíssimo".

"Preocupadíssimo" define o sentimento durante todo o jogo. Do Maracanã, um torcedor relata nunca ter visto "uma torcida se desesperar tanto quando o adversário passava do meio de campo". Até que veio o primeiro gol do Brasil, dos pés de Neymar, e os que ocupavam o tradicional bar Amarelinho, na Cinelândia, soltaram um grito de gol entalado na garganta desde 2014.

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Em algum momento até se escutou piadas de que a Alemanha ainda podia fazer sete gols. Quando o primeiro chegou, e em seguida a prorrogação, todo mundo percebeu que, se a vitória brasileira se concretizasse, não seria sem sofrimento. "Não era pra ser assim! O Brasil não aguenta mais uma derrota!", dizia a chefe deste jornalista na cadeira ao lado. Do Maracanã, o torcedor dizia: "Proponho um acordo de empate com a Alemanha sem pênaltis".

Como costuma-se dizer, cada dia "é um 7 a 1 diferente" desde o fatídico 7 a 1: eleições que romperam amizades, paralisação política, crise econômica, vírus da zika, ciclovia desabando, longo processo de impeachment... A trégua veio com a Olimpíada. E a utopia de poder virar a maré, de apertar o botão reset, quando o Brasil foi para a final contra a Alemanha. Em casa. Quando os alemães foram bater o quinto pênalti, todos os presentes no Amarelinho já sabiam: "Uhhhh, vai perder! Uhhhh, vai perder!" Perdeu.

Segundos depois, Neymar bate o pênalti e todo o centro do Rio canta: "Ôôôô, o campeão voltou! O campeão voltou!". Luís, que assistiu o jogo da praça Mauá, resume o seu sentimento: "Feliz. O que ficou pra trás, ficou pra trás". De volta à realidade momentos depois, Diogo, também na praça Mauá, pondera que os problemas não acabaram, que vão continuar depois dos Jogos. "Mas é uma lavadinha de alma. Dá uma alegria pro povo. Primeiro ouro do Brasil numa Olimpíada. Contra a Alemanha. E em casa. Tem coisa melhor?"

E os milhares que ocupavam a praça Mauá desceram até o chão ao som de "Cerol na mão", do Bonde do tigrão. Um clássico do funk, para lavar a alma.

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