Trump sugere aos proprietários de armas que detenham Hillary
O confuso comentário do candidato republicano levanta uma nova polêmica em sua acidentada campanha
A campanha eleitoral dos Estados Unidos entra em um terreno perigoso. Em uma nova declaração potencialmente incendiária, o candidato republicano à Casa Branca Donald Trump insinuou na terça-feira, dia 9 de agosto, que os partidários do direito de usar armas de fogo poderiam deter a candidata democrata Hillary Clinton. Não esclareceu como, mas seu comentário invocou o espectro da violência em um país onde circulam mais de 300 milhões de armas de fogo e onde o assassinato político é um trauma recorrente em sua história.
“Se ela conseguir eleger seus juízes, não haverá o que fazer, amigos”, disse Trump. Ele se referia à capacidade do presidente dos EUA de nomear os juízes do Supremo Tribunal. A teoria de Trump é a de que se Clinton vencer em novembro e nomear juízes progressistas, estes aboliriam a Segunda Emenda da Constituição, que garante o direito de portar armas.
Trump acrescentou: “Mas as pessoas da Segunda Emenda [os proprietários de armas]... talvez haja [algo a fazer], não sei”.
O comentário de Trump, em um comício na Carolina do Norte, é ambíguo e incompleto, mas pode ser interpretado como um chamamento a algum tipo de ação contra sua rival nas eleições presidenciais de novembro, ou contra os juízes. Não seria a primeira vez que Trump convoca à violência, apesar de nunca tê-lo feito diretamente contra sua rival.
As palavras do candidato do Partido Republicano são suficientemente confusas para ficarem abertas à interpretação e permitirem a seu autor negar qualquer má intenção. Mas são um novo passo em uma campanha, que, com seus insultos, ofensas, comentários xenófobos e machistas e mudanças de tom, ultrapassou quase todos os limites conhecidos em tempos recentes.
Na convenção de Cleveland (Ohio), que há um mês o proclamou candidato, o slogan oficioso, que os delegados entoaram durante os quatro dias que durou o encontro, era “para a cadeia, para a cadeia”, em alusão a Hillary Clinton. Nem o pedido de prender a oponente política muito menos a insinuação de que se possa usar a violência contra ela são comuns nas democracias modernas.
“Isto é simples: o que disse Donald Trump é perigoso. Uma pessoa que tenta ser o próximo presidente dos Estados Unidos não deveria sugerir qualquer tipo de violência”, disse em um comunicado Robby Mook, diretor da campanha de Clinton.
Jason Miller, assessor de comunicações de Trump, replicou, aludindo à força nas urnas dos partidários do direito de portar armas: “Este ano, votarão em níveis recorde, e não será em Hillary Clinton, mas em Donald Trump”.
Os Estados Unidos têm uma longa história de assassinatos políticos. Quatro presidentes foram assassinados. O último, John Kennedy, em 1963. Cinco anos depois, Bobby Kennedy foi assassinado em plena campanha para a indicação democrata à Casa Branca.
Com as últimas declarações de Trump, a pressão dos políticos republicanos para que repudiem seu candidato aumentará. Em plena queda nas pesquisas, Trump desafiou as previsões, alimentadas às vezes por pessoas à sua volta, de que se tornaria um candidato mais centrado. Aconteceu o contrário: desde sua indicação em Cleveland como candidato, sua mensagem se tornou mais agressiva e imprevisível. E rompeu limites que poucos candidatos à Casa Branca tinham cruzado, como ameaçar romper com a OTAN, ofender a família de um soldado morto na guerra ou lançar mensagens confusas que podem incitar a violência.
Em uma mensagem na rede social Twitter, o Serviço Secreto – o corpo policial que protege os presidentes e os candidatos presidenciais, Trump incluído – escreveu: “O Serviço Secreto tem consciência dos comentários feitos esta tarde”.
Na rede de televisão CNN, o general aposentado Michael Hayden, ex-diretor da CIA e crítico de Trump, disse em referência a seus comentários: “Se outra pessoa tivesse dito isso fora do auditório, agora estaria na parte de trás de um camburão da polícia, sendo interrogado pelo serviço secreto”.
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