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Isolada e mais perto da derrota, Dilma verá os Jogos Olímpicos pela televisão

Presidenta afastada recusa convite de interino para assistir à cerimônia no Rio Uma forma de deixar claro que não aceita o papel de segunda linha que lhe foi imposto

Dilma anda de bicicleta em Brasília, próximo ao Palácio do Alvorada, no último dia 3, às vésperas do início dos jogos.
Dilma anda de bicicleta em Brasília, próximo ao Palácio do Alvorada, no último dia 3, às vésperas do início dos jogos.ADRIANO MACHADO (REUTERS)
A. J. B.

Dilma Rousseff, presidenta afastada do poder provisoriamente desde 12 de maio, assistirá à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos desta sexta-feira –se é que o fará— pela televisão. Há alguns meses, ela já havia dito que ninguém a convidara. Agora, já anunciou que recusará o convite que lhe foi enviado pelo presidente interino, Michel Temer. Uma forma de deixar claro que não aceita o papel de segunda linha que lhe foi imposto. Os dois dirigentes políticos, aliados e componentes da mesma chapa eleitoral no passado, não se falam há meses. Temer afirmou recentemente que aventava a hipótese de voltar a falar com Dilma. “Mas a postura arrogante que ela mantém impede isso”, acrescentou, venenosamente conciliador.

Desde que deixou o Palácio do Planalto e se refugiou na residência oficial do Palácio da Alvorada, Dilma vem elaborando a sua defesa dentro do julgamento político em curso no Senado. Tudo parece apontar para o lado negativo para Dilma, cujo cerco se estreita: a comissão especial do impeachment aprovou nesta quarta-feira o texto do relator, contrário a ela, por 14 votos a cinco. O relatório –em que Dilma é acusada de maquiar as contas públicas—será votado em uma nova sessão plenária na semana que vem. Se aprovado --algo que Brasília inteira dá como certo--, a presidente se verá legalmente denunciada e terá de aguardar uma nova e definitiva rodada de sessões que irão começar, com quase toda certeza, em 25 ou 26 de agosto e se encerrarão antes de o mês terminar. A não ser que um terremoto político aconteça, nessa ocasião Dilma Rousseff deixará definitivamente o cargo de presidenta da República saindo pela porta dos fundos.

Além de se dedicar à sua própria defesa, nesse período Dilma deu várias entrevistas, principalmente para veículos de comunicação estrangeiros, viajou pelo país defendendo sua gestão e acusando Temer de traidor e golpista e procurou usufruir o tempo de lazer forçado e melancólico lendo livros e ouvindo música.

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Nos últimos dias, anunciou que divulgará proximamente uma carta aberta na qual pedirá o seu retorno ao poder para convocar um plebiscito para que os brasileiros decidam a favor ou contra a realização de novas eleições. A ideia de Dilma não nasceu do nada: 53% da população são favoráveis à antecipação das eleições. “Quem deve decidir o que eu tenho de fazer não são o Congresso, as pesquisas ou qualquer outra coisa, mas sim o conju7nto dos brasileiros”, afirmou em recente entrevista à BBC.

Suas poucas chances de escapar do impeachment passam pelo convencimento dos senadores indecisos que votaram contra ela em julho de aceitarem o seu gambito e mudar seu voto. Os especialistas não acreditam que ela consiga fazê-lo.

Até mesmo o seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores, parece ter lhe dado as costas. O presidente da organização, Rui Falcão, emitiu há alguns dias uma nota sintomática em que afirmava “repudiar” as informações segundo as quais o PT havia abandonado a presidenta à sua própria sorte. A imprensa brasileira informa que dirigentes de destaque do histórico partido se queixam de que tem sido “muito cansativo” defendê-la. Tampouco as ruas, talvez um tanto fartas de tantas manifestações e disputas políticas, saíram em sua defesa como se podia esperar. NO último domingo, foram realizadas várias manifestações em seu apoio, mas os milhares de pessoas que estiveram presentes foram em número bem menor do que as centenas de milhares que saíram às ruas há mais de seis meses para apoiar sua saída ou das 80.000 pessoas que encheram a avenida Paulista em março para protestar contra a detenção de Lula.

Em resumo: a popularidade de que Dilma gozou em certo momento se esvaiu há anos, para não mais voltar. Só, reclusa em seu Palácio, cada vez mais isolada, ela se prepara para acompanhar à distância os Jogos Olímpicos cuja abertura não irá declarar.

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